Por algum estranho motivo que me foge ao conhecimento, os produtores da terceira parte da série sobre o menino anticristo simplesmente ignoraram qualquer menção ao termo "profecia" no título original deste filme, nomeando-o tão somente como O Conflito Final. Além de diminuir ainda mais o apelo de divulgação da série, que já tinha sofrido um doloroso revés com o fraco A Profecia II, a decisão veio junto com um roteiro desinteressante, que encerra a saga de Damien de forma vergonhosa e praticamente joga fora todo o potencial que havia sido construído por Richard Donner no primeiro filme.
Damien Thorn (Sam Neill) está agora com 32 anos, comanda um conglomerado poderosíssimo de empresas que atuam em vários ramos da indústria e está prestes a ser indicado com o novo embaixador dos Estados Unidos na Inglaterra. Seus planos de dominação mundial, que envolvem manipulações políticas no Oriente Médio e na África, são colocados em risco quando um grupo de religiosos se apodera das sete adagas de Meggido (desaparecidas no desfecho do filme anterior), teoricamente as únicas armas terrenas capazes de matá-lo. Seu tempo na Terra também se torna ameaçado quando um alinhamento incomum de estrelas prenuncia o renascimento do filho de Deus, o que desencadeará a batalha final entre o bem e o mal, no temido Armageddon profetizado no Apocalipse, o Livro das Revelações.
O único nome hoje conhecido do elenco é o de Sam Neill, na época um completo anônimo em início de carreira. Sua presença no filme é a maior curiosidade da película, e provavelmente o único motivo pelo qual valha a pena assisti-la. A preocupação inicial da história em resgatar e manter a continuidade dos eventos do segundo filme é louvável, mas o marasmo político em que o filme se insere logo no início põe tudo a perder. Um dos personagens que seriam essenciais a este terceiro longa, por exemplo (o inescrupuloso Paul Buher, feito por Robert Foxworth) simplesmente desaparece, sendo apenas mencionado aqui e ali... Sua figura foi substituída pela de um sidekick inútil e quase cômico interpretado por Don Gordon. O blá-blá-blá carece de ação e um pouco mais de exposição bem arquitetada para o mal que Damien simboliza ajudaria, já que várias das cenas de cunho demoníaco do filme decepcionam pelo absurdo. O suicídio do embaixador americano é uma delas, suscitando ainda mais dúvida sobre o alcance do poder e da influência de Damien, e colocando o roteiro ainda mais em xeque. A melhor seqüência, e a mais polêmica, é provavelmente a da caça à raposa, pelo sangue e pela nefasta insinuação de pedofilia que a acompanha.
De filmografia reduzida e de poucos destaques (o maior deles seria a ficção científica Missão Alien, de 1988), o diretor Graham Baker nem pode ser tão culpado pelo fraco resultado do filme. Como se não bastasse o absurdo do plano de Damien para impedir a ascensão de seu inimigo, justificado de forma desleixada pelo roteiro pobre, o desfecho da história é desolador em sua mediocridade, colocando o destino do anticristo nas mãos de uma jornalista boba sem carisma algum (Lisa Harrow). Graças ao segundo filme, nem é possível dizer que o status profano de Damien era fruto de uma mente abalada pelas circunstâncias de uma criação problemática, mas não dá para evitar o pensamento, mesmo que simplista e algo infantil, de que o final de A Profecia III é um tipo de retratação final por qualquer bolha de blasfêmia ou heresia provocada pela realização da série.
A continuação A Profecia IV - O Despertar foi produzida em 1991.
Os extras do DVD se resumem a uma faixa de comentários do diretor Graham Baker e aos trailers dos três filmes sobre Damien.
Texto postado por Kollision em 19/Junho/2006