Em qualquer lista hipotética de grandes fantasias da história do cinema, O Planeta dos Macacos merece figurar com certeza em posição de destaque. Ainda numa época em que a ameaça da aniquilação nuclear era uma realidade não muito distante graças à paranóia da Guerra Fria, a idéia de apresentar uma sociedade em que os seres humanos não estavam no topo da cadeia alimentar, num filme com tamanha escala de produção e considerável esmero técnico, era uma iniciativa que nunca havia sido tomada antes. O inevitável sucesso da obra, baseada no livro de Pierre Boulle e co-escrita por Rod Serling, a mente por trás do seriado Além da Imaginação, viria a gerar quatro continuações, compondo uma das primeiras grandes sagas de ficção científica da sétima arte.
600 anos no nosso futuro, o astronauta Taylor (Charlton Heston) grava o último registro de bordo em sua nave antes de entrar em animação suspensa com mais três companheiros. O destino de sua expedição, no entanto, só é alcançado 2000 anos no futuro, quando a nave sofre uma pane e aterrisa numa área alagada de um planeta estranho. Uma de suas colegas astronautas já está morta, e ele e os outros dois são obrigados a sobreviver num ambiente árido e inóspito. O que eles logo descobrem é que o planeta é habitado e governado por uma raça de símios evoluídos que falam inglês e caçam os humanos (que não falam) como animais selvagens. Capturado e impedido de falar graças a um ferimento na garganta, Taylor se torna o objeto de estudo da dra. Zira (Kim Hunter) e do arqueólogo Cornelius (Roddy McDowall), cujas pesquisas avançadas em psicologia humana são monitoradas de perto pelo implacável chefe da tribo macaco, o dr. Zaius (Maurice Evans).
O escapismo orquestrado pelo diretor Franklin Schaffner é sublinhado por um design de produção que aproveita ao máximo as paisagens naturais utilizadas no início e no final do filme, assim como a excepcional trilha sonora carregada de suspense de Jerry Goldsmith. Como aventura de ficção científica, este filme é páreo duro para qualquer blockbuster de ação de qualquer época. A cena do "estouro da boiada" e da caçada aos humanos fugitivos na mata, por exemplo, ainda impressiona pela escala e pelo tom de desconforto. Há uma combinação acertada de perseguições e suspense e, o que é mais marcante, uma discussão extremamente apropriada sobre evolução, religião, ciência, autoritarismo e preconceito, refletidos na sociedade símia com um espelhamento nada menos que incômodo em relação à sociedade humana.
Impedindo que o filme fosse rotulado de mais uma ficção classe B, a presença de Charlton Heston no elenco trouxe uma credibilidade indispensável ao longa, já que os demais nomes do elenco passam o tempo todo debaixo de pesadas máscaras e roupas de macaco. Outra característica bacana do filme é seu senso de humor, às vezes completamente não-intencional, como nas duas cenas em que Roddy McDowall e Kim Hunter trocam beijinhos debaixo da maquiagem de macaco. Para a época, o trabalho de caracterização dos atores em macacos foi considerado vanguarda absoluta e foi agraciado com um Oscar especial, uma vez que não havia categoria estabelecida para a técnica de maquiagem.
Este filme foi refilmado e atualizado por Tim Burton em 2001. Embora as duas versões sejam ótimas em seus próprios termos, O Planeta dos Macacos original é o grande clássico que marcou o gênero. A continuação da história está em De Volta ao Planeta dos Macacos (Ted Post, 1970).
Os extras da edição simples do DVD da Fox se resumem a uma galeria de fotos e desenhos de produção e aos trailers dos cinco filmes da série.
Revisto em DVD em 20-FEV-2007, Terça-feira - Texto postado por Kollision em 25-FEV-2007