Imagino a comoção cinéfila existente no final dos anos 60 quanto à possibilidade de rever os personagens apresentados no fantástico O Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner, 1968). A resposta veio através de uma nova aventura ambientada no planeta governado pelos símios, com um razoável respeito cronológico e artístico em relação ao que havia sido feito, só que desta vez com um budget consideravelmente menor. Para a felicidade de quem aprecia uma ficção científica com conteúdo – quase politizado, por assim dizer – o roteiro mantém a boa dose de crítica atemporal sobre as contradições do ser humano como detentor do posto de rei da cadeia alimentar, sem esquecer do fator entretenimento.
A nave do austronauta Brent (James Franciscus), enviado numa missão de resgate da equipe do astronauta Taylor (Charlton Heston), pousa nas proximidades da zona proibida, local para onde Taylor e sua companheira Nova (Linda Harrison) haviam seguido ao final do filme anterior. Com Taylor desaparecido, Brent se une a Nova e ruma em direção à cidade dos macacos, encontrando-se com Zira (Kim Hunter) e Cornelius (David Watson), que os ajudam a conseguir transporte e comida para a viagem de volta à zona proibida. Entrementes, o ministro da ciência Zaius (Maurice Evans) parte numa expedição predatória em direção à zona proibida acompanhado de todo o exército símio. Todos eles acabam se encontrando nas galerias subterrâneas habitadas por uma tribo de humanos dotados de poderes mentais que adoram uma bomba nuclear, cujo perigo real somente os viajantes Brent e Taylor conhecem.
De Volta ao Planeta dos Macacos não começa bem. Para falar a verdade, começa mal. Uma breve recapitulação dos eventos do desfecho do primeiro filme precede as primeiras cenas do novo protagonista no mundo dos macacos, e pouco depois Charlon Heston desaparece em meio a efeitos especiais não muito convincentes. A aridez do deserto da zona proibida parece permanecer na tela por tempo demais, enquanto somos lembrados pela personagem Nova, um colírio de aspecto quase fetichista (mulher bonita que anda por aí seminua e não possui o dom da fala!), que será preciso mais uma intervenção dos cientistas Zira e Cornelius para que eles consigam se dar bem. Roddy McDowall sai de cena como Cornelius, mas volta em todos os demais filmes da série. No entanto, quem é que se importa se nem dá para ver quem está debaixo da máscara de macaco? Os astros incógnitos da série que o digam...
Embora de maneira uma pouco mais simplificada desta vez, a sociedade dos macacos volta a espelhar a humanidade, no que ela tem de pior e de melhor. O personagem de Zaius vai mais fundo em seu dilema sobre o que é certo e do que é errado, tornando-se o epicentro da idéia do mal disseminado com a mais nobre das intenções. A filosofia de não-violência da sinistra tribo humana subterrânea, que no entanto prega a propagação da violência entre seus inimigos, é nada menos que incômoda, sob qualquer ponto de vista. As decisões tomadas no clímax da história podem ser algo simplistas, inclusive metaforicamente, mas não chegam a diminuir o impacto de um final sensacional, ainda mais depressivo que o do primeiro longa.
Mas a saga continua em A Fuga do Planeta dos Macacos (Don Taylor, 1971).
Os extras do DVD da Fox se resumem a uma galeria de fotos e aos trailers dos cinco filmes da série, além do trailer especial da coleção digital completa.
Visto em DVD em 24-FEV-2007, Sábado - Texto postado por Kollision em 2-MAR-2007