O terceiro filme da série do Planeta dos Macacos pode ser até um passo maior que a perna, ou para alguns um rombo na qualidade da franquia, mas ninguém pode alegar que A Fuga dos Planeta dos Macacos não é divertido. O roteiro baseado nos personagens criados por Pierre Boulle inverte os papéis entre homem e macaco mostrados nos dois primeiros longas, com resultados que vão do piegas ao interessante, lançando mão de um bem-vindo humor e aproveitando-se do carisma de Zira e Cornelius, os macacos bonzinhos que tentaram ajudar os astronautas perdidos no tempo.
A nova história acontece no nosso presente, quando o povo da Califórnia é surpreendido pela queda da espaçonave desaparecida do comandante Taylor. De dentro dela saem três macacos vestidos como astronautas: o arqueólogo Cornelius (Roddy McDowall), a psiquiatra Zira (Kim Hunter) e o cientista Milo (Sal Mineo), o grande responsável por reparar a nave e torná-la operacional antes dos eventos cataclísmicos do final do filme anterior (De Volta ao Planeta dos Macacos). Eles logo são colocados sob a supervisão dos responsáveis pelo zoológico (Bradford Dillman e Natalie Trundy), convertendo-se em celebridades assim que todos descobrem que eles podem falar. Algumas explicações para a fenda espaço-temporal que os trouxe ao presente são dadas por cientistas como o dr. Hasslein (Eric Braeden), que se revela um verdadeiro vilão ao propagar a idéia de que os visitantes símios devem ser eliminados, inclusive o bebê que Zira carrega no ventre.
A cara de Sessão da Tarde que esta obra possui é responsabilidade total do diretor Don Taylor, um veterano da TV que teve como um de seus poucos trabalhos no cinema exatamente a aventura de Zira e Cornelius na Terra dominada pelos humanos. O mote de todo o filme é uma pergunta irresistível que atiça a curiosidade até do mais apático dos espectadores: o que aconteceria se, ao invés dos humanos caírem de pára-quedas no mundo macaco, os macacos passassem pela mesma experiência em plena Terra do século 20? O casal de macacos evoluídos é usado como contraponto tanto humorístico quanto apocalíptico para o espanto dos humanos (bons e malvados), mas é preciso fazer vista grossa a muitas armadilhas históricas e temporais herdadas das aventuras anteriores. Uma delas é o fato do inglês, como língua, jamais ter mudado em mais de 2.000 anos. Outra é a capacidade intelectual da população macaco, extremamente aquém da tarefa de reparar e pilotar uma nave espacial, que dirá retirar ela do fundo do lago da zona proibida (somos informados que a nave pertencia a Taylor, não a Brent). Há ainda o retrospecto direto demais feito por Cornelius de como os macacos vieram a dominar o planeta. Jamais fica evidente, até aquele ponto, que qualquer um dos macacos sabia da verdade.
Como passatempo, o filme é razoavelmente divertido. O ritmo cai um pouco no preâmbulo de encerramento mas, com as amarras lógicas mais pesadas deixadas de lado, pelo menos num ponto este trabalho se mantém no mesmo nível dos que o precederam. E este ponto é o final. O desfecho é o momento decisivo que sela o destino de humanos e macacos no universo da série, criando um paradoxo que gera um fascinante panorama de tragédia no continuum espaço-tempo. Ele sela a crítica contra uma humanidade estúpida, que se auto-conduz à ruína mesmo quando age com a melhor das intenções.
A continuação da saga deve ser acompanhada no subseqüente A Conquista do Planeta dos Macacos (J. Lee Thompson, 1972).
Os extras do DVD da Fox se resumem aos trailers dos cinco filmes da série, além do trailer especial da coleção digital completa.
Visto em DVD em 6-MAR-2007, Terça-feira - Texto postado por Kollision em 11-MAR-2007