Depois de uma pequena novela, que envolveu diretores díspares como David Fincher e Joe Carnahan, o televisivo J.J. Abrams assume as rédeas de uma das franquias mais pipoca dos últimos anos e tenta colocar a mais recente versão do conceito de Missão Impossível de volta nos trilhos, depois da empreitada equivocada de John Woo em Missão Impossível 2. A boa notícia é que ele consegue. A notícia ainda melhor é que, por incrível que pareça, ele chega a superar o trabalho de Brian De Palma no primeiro Missão Impossível. Não pela finesse e pelo respeito ao clima do seriado original, que no caso dos dois diretores praticamente se equivalem, mas sim pelo fato de que, neste terceiro filme, nenhum fã vai se sentir traído pelas reviravoltas da história.
Praticamente aposentado do serviço na agência secreta IMF (Impossible Mission Force), Ethan Hunt (Tom Cruise) está prestes a se casar com o amor de sua vida, a bela Julia (Michelle Monaghan). Porém, a convocação de última hora de um dos diretores da agência secreta (Billy Crudup) coloca-o de volta à ativa, uma vez que sua missão é resgatar a primeira aluna que ele aprovou para o serviço de campo (Keri Russell), capturada em algum recanto escondido da Alemanha. Unem-se a ele a agente Zhen (Maggie Q), o piloto Declan (Jonathan Rhys Meyers) e o velho amigo e hacker Luther (Ving Rhames). As coisas não saem bem como o esperado, e eles logo se vêm às turras com o mundialmente procurado e liso atravessador Owen Davian (Philip Seymour Hoffman), uma figura enigmática que mantinha a agente prisioneira e é muito mais do que aparenta ser, o que a equipe de Hunt acabará descobrindo da pior forma possível.
Correndo por fora na salada de personagens aparece Laurence Fishburne, na pele do bam-bam-bam máximo da IMF, e integrante crucial no desenvolvimento da trama. Parece que, finalmente, após o final da série Matrix, o cara encontrou um papel onde finalmente tenha se encaixado. Ele lidera um elenco de coadjuvantes de peso, numa história que impressiona pela boa química entre o roteiro e as cenas de ação, carregadas de uma pirotecnia que assombra pela escala grandiosa em determinados momentos. O trabalho em equipe do grupo liderado por Tom Cruise consegue se sobressair em meio à jornada do protagonista, com várias seqüências de invasão, resgate e abdução de fazer vibrar mesmo os mais céticos fãs da antiga série. Há espaço para algumas gracinhas, como a nova versão da cena em que o herói desce de uma altura considerável preso a um cabo e fica paralelo ao solo (já transformada em marca registrada dos filmes), a passagem que mostra o processo de criação das famosas máscaras usadas pelos agentes, e a homenagem meio explícita mas talvez não intencional ao recente clássico do cinema de ação Velocidade Máxima (Jan de Bont, 1994).
Philip Seymour Hoffman empresta sua voz gutural a um vilão sem muitas facetas, que tem relativamente pouco tempo em cena e se mostra reativo do início ao fim. O que é bastante interessante, no entanto, é que ele transpira perigo e clama para si o posto de maior vilão da série. Culpa da exposição sábia com a qual o diretor J.J. Abrams apresenta seu personagem, valorizando todos os momentos em que ele aparece e dando um peso enorme a cada palavra por ele proferida.
Incensado por seus trabalhos nas série de TV Felicity, Alias e Lost, Abrams abraça o universo de Missão Impossível com um entusiasmo e um frescor dignos de nota. Trata-se de seu primeiro longa-metragem para a tela grande, o que atesta um talento inegável para comandar produções do tipo. Se o cinema pipoca continuar a tê-lo por perto, podem ter certeza de que o futuro dos longas de entretenimento tem uma boa probabilidade de ser glorioso.
A série continua em Missão Impossível - Protocolo Fantasma, de 2011.
Texto postado por Kollision em 10/Maio/2006