Que Zorro é um dos últimos heróis românticos da era contemporânea não há dúvida. Enquanto seus inimigos se multiplicam em hordas armadas até os dentes, ele continua a se dar bem contra a bandidagem somente com sua espada e seu chicote, coisa que é levada ao extremo nesta continuação de A Máscara do Zorro (1998). Capaz de fazer acrobacias de causar inveja a ícones pop como o Homem-Aranha e o Demolidor, o defensor mascarado e sua segunda aventura são um anacronismo e, por conseqüência, uma raridade em tempos de super-seres dotados de armas high-tech, super-poderes de vôo e estripulias forjadas com CGI.
Dias decisivos se aproximam para a Califórnia, que luta para se safar do jugo espanhol e finalmente ingressar nos Estados Unidos da América. Don Alejandro de La Vega (Antonio Banderas) está prestes a se aposentar de sua carreira mascarada como o destemido Zorro, mas precisa defender o povo por mais algumas semanas até que o processo político se estabilize, o que causa a fúria da esposa preocupada Elena (Catherine Zeta-Jones). Circunstâncias misteriosas levam os dois ao divórcio, o que desestrutura tanto a vida de Alejandro quanto a de seu filho Joaquin (Adrian Alonso), uma cópia mirim do pai, irremediavelmente fadado ao caminho do heroísmo. A chegada do fidalgo espanhol Armand (Rufus Sewell), que cai de amores por Elena e passa a ser correspondido, tira Zorro de um inicial torpor alcoólico, já que ele se vê obrigado a iniciar uma investigação que descortina um plano nada inocente de Armand para sua tão amada Califórnia.
Os sete anos de diferença que separam o primeiro do segundo filme não são nada usuais, em se tratando de uma produção hollywoodiana. Sem ver nada do resultado, isso conta como ponto a favor do longa. Praticamente toda a equipe do primeiro retornou para o segundo, com certeza determinados a fazer algo que prestasse, e mais uma vez com o aval do produtor Steven Spielberg. O resultado não é excepcional, muito em parte devido à qualidade e ao êxito alcançados pela primeira história, difícil de ser superada com folga. Felizmente, o filme é uma aventura agradável, que consegue um meio-termo razoável entre a estética moderna de filmes de ação e aquela característica cada vez mais distante das aventuras de matinês ao estilo "Sessão da Tarde". Há quem não goste, mas acredito que esse estilo de se fazer cinema deva ser preservado, com todos os seus vícios de roteiro (o herói inatingível, a mocinha em perigo, o vilão malvado, os bandidos bucha-de-canhão, os duelos de espadas, etc.).
Quem rouba as cenas em praticamente todos os momentos em que dá as caras é Zorro júnior, uma espécie de pestinha do velho oeste armado somente com coragem e um estilingue. Como antes, há bastante humor na história, tudo basicamente sobre os ombros de Zorro pai e Zorro filho. Catherine Zeta-Jones faz uma Elena ligeiramente egoísta e irritante, o que desvia a atenção da platéia de sua personagem durante quase todo o filme. O expert em papéis de sujeitos indigestos Rufus Sewell faz o dever de casa, protagonizando até um deja vú de seu desempenho em Coração de Cavaleiro.
Responsável também por cenas de ação muito bem filmadas, principalmente na seqüência inicial, o diretor Martin Campbell faz desta segunda aventura um filme à altura do primeiro, embora inferior am vários aspectos. A ação do clímax, por exemplo, é um pouco arrastada e longa demais, mas não compromete o que parece ser um derradeiro ponto final na saga do herói mascarado.
Texto postado por Kollision em 11/Novembro/2005