Cinema

Kinsey - Vamos Falar de Sexo

Kinsey - Vamos Falar de Sexo
Título original: Kinsey
Ano: 2004
País: Alemanha, Estados Unidos
Duração: 118 min.
Gênero: Drama
Diretor: Bill Condon (Dreamgirls - Em Busca de um Sonho, A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1)
Trilha Sonora: Carter Burwell (A Pele, O Vigarista do Ano, Onde os Fracos Não Têm Vez)
Elenco: Liam Neeson, Laura Linney, Peter Sarsgaard, John Lithgow, Oliver Platt, Chris O'Donnell, Timothy Hutton, Tim Curry, Dylan Baker, Julianne Nicholson, William Sadler, John McMartin, Veronica Cartwright, Kathleen Chalfant, Heather Goldenhersh, Dagmara Dominczyk, Harley Cross, Susan Blommaert, Benjamin Walker, Matthew Fahey, Will Denton
Avaliação: 7

Os dois filmes de que tenho conhecimento que Bill Condon dirigiu são biografias de grandes homens. O mais antigo é Deuses e Monstros, de 1998, ao qual ainda não tive a chance de assistir, mas tenho uma vontade danada. O personagem central desse filme é ninguém menos que James Whale, o diretor de clássicos do terror como Frankenstein (1931) e O Homem Invisível (1933). Já Kinsey trata da vida de uma pessoa bem menos conhecida no meio cinematográfico, mas bastante importante dentro do desenvolvimento social do século XX. Um homem que rompeu barreiras culturalmente intransponíveis em sua época (a década de 50), e que jogou luz sobre muitos mitos que cercavam o relacionamento entre o homem e a mulher.

O personagem título, Alfred Kinsey, é interpretado por Liam Neeson em sua melhor forma. O filme acompanha o período infante do biólogo e professor, inclusive sua tempestuosa relação com o pai puritano (John Lithgow), passando por seu casamento com a aluna Clara 'Mac' McMillen (Laura Linney), sua fascinação pela natureza e a eventual e meticulosa pesquisa sobre os hábitos sexuais dos americanos, motivada inicialmente por uma curiosa analogia com as vespas que estudava.

Enquanto bem realizado e acompanhado de uma trilha sonora hipnotizante em sua primeira meia hora (a cargo das belas linhas de piano de Carter Burwell), Kinsey padece de excessiva romantização em quase 80% de sua duração. Foi sensacional a idéia de iniciar a história do biólogo pelas entrevistas de teste de seus ajudantes, pontuadas pela neutralidade da fotografia em preto-e-branco. A câmera vai e volta entre estes momentos e a rememoração de suas lembranças. As duas linhas temporais se encontram quando, partindo das próprias dificuldades em lidar com as conseqüências de uma sexualidade reprimida em pleno casamento, Kinsey inicia sua pesquisa e suas entrevistas ajudado pelo aluno Clyde (Peter Sarsgaard). E dá-lhe algumas cenas de nudez aqui e ali, acompanhadas de imagens explícitas de órgãos sexuais e gente de todas as idades tendo relações (fotografias apenas, pessoal). Também não há nenhuma sensação de desconforto ou timidez quando o elenco dispara expressões geralmente chulas (mas que todos dizem entre quatro paredes) proferidas com uma imparcialidade que aparentemente só um ator do gabarito de Liam Neeson seria capaz de dizer sem soar estranho.

A romantização vem da evidente falta de um maior realismo na abordagem do assunto, que parece algo banal somente nos dias atuais. Com muito tato e convicção, Kinsey escolhe seus auxiliares a dedo e a seguir usa-os em suas experiências sexuais com os mais variados tipos de pessoas, incluindo a si mesmo e a esposa. Com tais vidas desregradas (sempre em nome da ciência, o filme faz questão de enfatizar), soa quase impossível que nenhum deles tenha passado por algum apuro causado por uma doença venérea qualquer. Aliás, esse é outro ponto que é completamente ignorado e só é arranhado pelo adversário ideológico de Kinsey, que em nenhum momento impõe alguma dificuldade à escalada intelectual do biólogo/sexólogo. Esta vem bem depois, mas tarde demais para reverter o ponto de vista favorável demais às conquistas do personagem. Pelo menos o diretor Condon foi esperto ao dar um jeito de não ser polêmico quanto à questão 'amor' × 'sexo', bem no finalzinho do filme.

Apesar das falhas, Kinsey é válido por introduzir platéias leigas a esse pesquisador que tanto ajudou a desmistificar tabus. Além disso, Liam Neeson e Laura Linney revezam-se em excelentes performances. A credibilidade da história sustenta-se em suas atuações, mais do que em qualquer outro aspecto do filme. Outro mérito da obra de Condon é que ela com certeza ajudará a abrir a mente de muita gente com mais de 15 anos, que é a censura com a qual o filme foi exibido nos cinemas.

Texto postado por Kollision em 4/Junho/2005