Ao revisitar o universo de horror aquático criado por Steven Spielberg no clássico Tubarão, de 1975, seria sensato dizer que o mínimo que se poderia esperar deste filme, no caso, seria uma volta às origens, já que Lorraine Gary retorna para reprisar o papel que desempenhara nos dois primeiros filmes da série. O que se vê, no entanto, é um deplorável amontoado de besteiras que afundou de vez qualquer vestígio de qualidade, numa franquia que já tinha sido bastante avacalhada no equivocado Tubarão 3, realizado quatro anos antes. Sim, é o fundo do poço. Um fundo ao qual, aparentemente, somente o personagem principal deste filme (o tubarão, claro) seria capaz de descer.
Alguns anos após perder o marido (Roy Scheider, o herói dos dois primeiros filmes) num acidente marítimo, Ellen Brody (Lorraine Gary) é subitamente atingida por mais um golpe do destino, quando seu filho mais novo é devorado por um tubarão branco às margens da tranqüila praia de Amity. Extremamente abalada, ela é convencida pelo filho Mike (Lance Guest), agora um pesquisador dos mares, a passar um tempo nas Bahamas para se recuperar da tragédia. Mesmo com a distração provida por um novo interesse amoroso, na pele do piloto Hoagie (Michael Caine), Ellen não consegue deixar de pensar que existe algum tipo de maldição em sua família, e que o tubarão os está perseguindo onde quer que eles estejam. E, como a história há de comprovar, talvez ela tenha razão.
Difícil de acreditar, mas este é um dos piores filmes que já vi em toda a minha vida, em matéria de roteiro e plausibilidade de uma história. A fera natural, cuja aura havia sido tão bem definida e explorada por Spielberg, e até mesmo por Jeannot Szwarc no segundo filme, é aqui reduzida a uma criatura cujo único propósito é comer uma fatia de qualquer membro da família Brody, onde quer que ele esteja, seja na costa da Flórida ou a milhares de quilômetros mais ao sul, nas claras águas de uma ilha paradisíaca. Não existe desenvolvimento de personagens, não há qualquer sinal de suspense bem construído. Enfim, não há sequer qualquer motivo para que um tubarão daquele tamanho faça o que faz nesta porcaria, de aparecer no meio da noite e abocanhar um adolescente até destruir um barco a dentadas em busca de uns quitutes de carne humana. Se existe alguma nuance de paranormalidade pisciana na história, esqueceram de mencioná-la.
Para incrementar o desastre, lá está o ganhador do Oscar Michael Caine, perdido em meio ao festival de mediocridade. Eclético em suas escolhas ele sempre foi, nesta que é talvez a pior de sua carreira. Pelo menos fica a esperança de que jamais seja sequer cogitada mais uma continuação para a série, devidamente sepultada pelo diretor Joseph Sargent, que correu do cinema de volta para a TV bem rapidinho depois de perpetrar este catastrófico naufrágio.
Não há seção de extras no DVD, que traz como adicional apenas os trailers de Tubarão 2, Tubarão 3 e Tubarão 4 - A Vingança.
Texto postado por Kollision em 19/Fevereiro/2006