Se os produtores tivessem decidido levar adiante a idéia de fazer deste filme uma paródia com o título Jaws 3 People 0 (algo como um placar de futebol para "Tubarão 3 × 0 Pessoas"), talvez o resultado tivesse sido um dos filmes mais bacanas da década de 80. Mas não. O que se vê é a banalização mais constrangedora que um grande filme poderia receber, num desastre que, em matéria de continuações indecentes, está no mesmo páreo de coisas como a seqüência O Exoscista II - O Herege (John Boorman, 1977), mas pelo menos não chega a ser tão ruim quanto o filme seguinte na série (Tubarão 4 - A Vingança). Spielberg deveria estar se remoendo em sua cadeirinha de diretor, onde quer que estivesse trabalhando durante toda a década de 80.
A saga do grande tubarão branco continua, desta vez a cargo dos filhos do chefe Brody, o policial feito por Roy Scheider em Tubarão e Tubarão 2. Seu filho mais velho Mike (Dennis Quaid) deixou a cidadezinha de Amity e tornou-se o engenheiro de um grande parque aquático construído na Flórida, criação do magnata Calvin Bouchard (Louis Gossett Jr.). As festividades de inauguração do imponente Sea World são colocadas em risco com a entrada de um grande tubarão na lagoa do parque, que logo começa a fazer vítimas e ameaça todo o trabalho de Mike e de sua namorada (Bess Armstrong), a bióloga marinha responsável pelo complexo. E a chegada de um famoso e intrometido explorador dos mares (Simon MacCorkindale) pode não ser lá de grande ajuda.
Dirigido e estragado com total falta de aptidão pelo produtor da seqüência anterior Joe Alves (ainda bem que este é seu único crédito como diretor), Tubarão 3 é um completo desperdício de elenco que tortura os espectadores a partir de um roteiro idiota e, na maior parte do tempo, assustadoramente deprimente. Do modo como haviam sido manipuladas, as idéias criadas pelo escritor Peter Benchley já haviam se esgotado por completo no filme anterior. Logo, repetir a mesma fórmula e, pior, repeti-la porcamente, foi um convite sumário ao desastre, algo que não se concretizou nos cinemas da época graças à novidade da projeção em 3-D, modismo do qual o filme foi uma das mais famosas propagandas. A quantidade de objetos e personagens que são arremessados em direção à platéia atesta a "visão" dos produtores quanto à revolucionária nova tecnologia do entretenimento... O que, no final das contas, não adiciona nada à projeção normal do filme.
O que chama a atenção para o desleixo com que este filme foi concebido são as cenas sub-aquáticas envolvendo o tubarão da vez. Editadas com uma pobreza de dar medo, seqüências como a da captura do primeiro tubarão (quando o primeiro é capturado na metade do filme, é claro que sempre há um segundo a caminho) consistem num pequeno atentado à boa linguagem cinematográfica. A mobilidade do bicho parece estar sempre prejudicada, mas seu sexto sentido para identificar as melhores vítimas em meio a uma trupe de banhistas impressiona. Vide a parte em que ele ataca o irmão Brody mais novo e uma jovem Lea Thompson, talvez a única coisa em que valha a pena botar os olhos em todo o filme. Observação: esse tal de Alan Parker responsável pela trilha sonora não tem nada a ver com o Alan Parker mais famoso, conhecido por dirigir filmes como Evita e As Cinzas de Ângela.
Os extras do DVD resumem-se aos trailers de Tubarão 2, Tubarão 3 e Tubarão 4 - A Vingança.
Texto postado por Kollision em 19/Fevereiro/2006