O Amor Custa Caro destoa um pouco do resto da filmografia dos irmãos Coen (Joel, o diretor, e Ethan, o produtor) por ser decididamente uma comédia. O elemento cômico, claro, também aparece em muitos outros filmes deles, mas nunca a ponto de fazer com que eles sejam classificados com pura e simples "comédia". Extremamente respeitados por conceber obras independentes que se situam à margem do cinema mainstream, os Coen dão neste filme uma palhinha do que são capazes de produzir quando contratados para filmar um trabalho declaradamente comercial, a partir de um roteiro escrito pelos próprios anos antes da produção propriamente dita.
Miles Massey (George Clooney) é um advogado especializado em divórcios praticamente imbatível em sua área. Coitado do cônjuge que se sentar no lado oposto da mesa que o tem como um dos representantes legais. Sua vida muda radicalmente quando ele se encarrega de proteger o marido serelepe da estonteante Marylin Rexroth (Catherine Zeta-Jones), uma morena fatal com um charme matador. Atingido em cheio pelo bombardeio de beleza, Massey arria as quatro rodas pela moça, e vai lentamente deixando todos os protocolos e todas as precauções de lado ao perseguir a mulher que ele agora quer levar ao altar. Mesmo que ela seja uma aproveitadora que coleciona maridos para depois extorquir-lhes a fortuna, algo com o qual ele acredita saber lidar com um pé nas costas.
Arquétipos do homem e da mulher perfeitos, maduros e de classe, Clooney e Zeta-Jones dão ao filme a carga de charme necessária para fazê-lo funcionar, pelo menos como uma alegoria moderna da eterna guerra dos sexos. Ao contrário de Brad Pitt e Angelina Jolie, outro casal que simboliza a perfeição física e cuja química chegou a ultrapassar as barreiras da ficção, o apelo dos protagonistas de O Amor Custa Caro vai além dos hormônios em ebulição e da esfera descartável de filmes como Sr. e Sra. Smith (Doug Liman, 2005) para apresentar um embate mais subliminar, dissimulado, classudo, ainda que o enfoque central seja a comédia. Dos Coen, claro, isso não deve ser esquecido em nenhum momento, portanto pode-se esperar inesperados lances de cunho ligeiramente bizarro.
Fica claro já na metade da película que quem domina o filme é George Clooney, graças ao retrato mais humano que é dado ao seu personagem. Do alto de sua pompa e de sua tão alardeada experiência, somos testemunhas da queda de um homem que acredita estar no controle da situação, mas se vê completamente perdido diante do furacão chamado Catherine Zeta-Jones. Ela é uma viúva-negra cujo leque de sentimentos jamais é completamente aberto à platéia, e isso é algo que poderia ter sido mais trabalhado no filme. Assim, a fascinação que um sente pelo outro não ganha o mesmo peso dos dois lados. E, em meio à batalha núpcia-judicial entre os sexos, soa como um assombro a quantidade de caras e bocas que Gorge Clooney é capaz de fazer. Às vezes ele extrapola um pouco, mas dá para se perdoar os excessos dentro do contexto do filme. O bônus fica por conta das participações pontuais e bacanas de Geoffrey Rush, Billy Bob Thornton, Edward Herrman e do hilário Cedric the Entertainer.
No pacote de extras há um making-of básico de 12 minutos, um especial de 5 minutos sobre os figurinos do filme e quatro cenas excluídas/estendidas.
Texto postado por Kollision em 19/Junho/2006