Mais um diretor europeu dá meio com os burros n'água em seu primeiro trabalho no cinema industrializado norte-americano. Após o relativo sucesso de Rios Vermelhos, o francês Mathieu Kassovitz (bem mais conhecido como ator) entrou sob as asas da Dark Castle de Joel Silver e Robert Zemeckis e ousou dirigir este roteiro feito diretamente para o cinema, uma história de fantasmas perdidos/vingativos com uma atriz oscarizada liderando o elenco. Há alguns sustos aqui e ali, mas o desejo que o filme tem de assombrar a platéia destrói boa parte da lógica dentro da história em si.
Na Companhia do Medo, uma tradução inexplicável para um título que no original já era um enigma completo (de gótico há somente o aspecto externo do instituto psiquiátrico), é um exemplo claro do porquê não bastam uma boa produção, uma ótima equipe técnica, um bom elenco e um diretor competente para fazer um bom filme, quando a pedra filosofal de toda obra cinematográfica já começa torta: o roteiro. De vez em quando ocorre de alguns diretores fora do comum imprimirem sua marca a histórias sem pé nem cabeça. Mas esses são poucos, e infelizmente Mathieu Kassovitz está longe de ser incluído na categoria. O resultado geral da empreitada só é capaz de agradar plenamente aos fanáticos doentes que não se incomodam em assistir a um conto cheio de furos e inconsistências, que se leva a sério demais e se equivoca na tarefa de transmitir a sensação prometida pelo título em português.
A figura central da trama é a psiquiatra Miranda (Halle Berry), que após um exaustivo dia de trabalho sofre um acidente no trajeto para casa, graças a uma menina que aparece ensangüentada no meio da estrada. Ao despertar, Miranda descobre que está internada na mesma instituição onde trabalha, é suspeita de ter assassinado o marido (Charles S. Dutton) e está sendo tratada por um dos seus colegas (Robert Downey Jr.). Desmemoriada e sem entender nada do que está acontecendo, a médica passa a ser assombrada pelo fantasma da menina que viu na estrada e é desacreditada por todos. A única pessoa que parece compreendê-la é uma de suas pacientes (Penélope Cruz), agora convertida em companheira de confinamento.
A trama se desdobra e passa a englobar assuntos de tema pesado, mas o processo com que a história evolui é o grande problema. A maldade humana talvez possa ser punida indiretamente com a ajuda do além, mas os espíritos são agressivos demais em suas súplicas. A maior parte dos sustos não funciona muito bem na tela pequena, e eram eles que basicamente sustentavam o interesse da platéia quando assisti ao filme no cinema. Ainda bem que Halle Berry faz o possível para dar alguma credibilidade à sua personagem, já que o resto do elenco parece estar chafurdando no modo "piloto automático".
Extras do DVD: faixa de comentários legendada do diretor Matthieu Kassovitz (acompanhado do diretor de fotografia Matthew Libatique), o videoclipe de Behind Blue Eyes do Limp Bizkit e o trailer do filme, acompanhado dos trailers de Homem-Aranha 2, Como Se Fosse a Primeira Vez, O Sorriso de Mona Lisa e Desaparecidas.
Revisto em DVD em 7-SET-2006, Quinta-feira - Texto postado por Kollision em 10-SET-2006