Cinema

Glen ou Glenda

Glen ou Glenda
Título original: Glen or Glenda
Ano: 1953
País: Estados Unidos
Duração: 68 min.
Gênero: Drama
Diretor: Edward D. Wood Jr. (A Face do Crime, A Noiva do Monstro, Plano 9 do Espaço Sideral)
Trilha Sonora: William Lava
Elenco: Bela Lugosi, Edward D. Wood Jr., Dolores Fuller, Lyle Talbot, Timothy Farrell, 'Tommy' Haynes, Charles Crafts, Conrad Brooks
Distribuidora do DVD: Continental
Avaliação: 1

Assistir a obras bizarras como esta, o primeiro filme dirigido por Edward D. Wood Jr., é algo difícil de descrever. Um dos mestres e realizadores dos piores filmes de todos os tempos, Ed Wood fez de sua primeira incursão na cadeira de diretor uma história com toques autobiográficos, visto que ele gostava, desde criança, de vestir roupas de mulheres. Aliás, é ele o intérprete do personagem principal da trama, creditado sob o pseudônimo de Daniel Davies.

Quando o corpo de um travesti é encontrado num quarto, o inspetor de polícia decide conversar com um psiquiatra sobre o assunto, para tentar entender o que leva um ser humano a vestir roupas femininas e assim talvez elucidar sua compreensão do caso. O psiquiatra decide então contar a história de Glen, um ex-paciente que, no passado, estava noivo mas hesitava em prosseguir na relação por medo da futura esposa (Dolores Fuller) não compreender os seus impulsos de travesti. Quando dominado por sua segunda personalidade, Glen se transformava em Glenda. Distante de todos os eventos, uma espécie de ser onisciente, que pode ser tanto um cientista desvairado quanto a figura de Deus (o renascido Bela Lugosi, canastra até o último fio de cabelo), manipula os "fios da realidade" e ajuda a narrar os fatos, que por sua vez já são narrados em off pelo psiquiatra.

Não há outra forma de colocar isto: Ed Wood já demonstrava sua total falta de talento logo em seu primeiro filme. No entanto, o nível de inaptidão é tal que faz com que Glen ou Glenda transcenda a barreira de "bomba" para cair com louvor na categoria de filmes bizarros, tão bizarros que valem ao menos uma espiada. Uma espiada que seja, pelo menos para conferir o quanto a visão única de uma mente sortuda (já que o simples fato de Wood ter conseguido finalizar o filme é um milagre) pode ser capaz de conceber. O cúmulo da bizarrice é o personagem de Bela Lugosi, que simplesmente não tem razão para existir dentro do arremedo de história! Seu sotaque atinge picos de hilária inadequação lá pelo meio do filme, quando Glen tem um sonho amalucado e Wood destila uma das piores, mais desconexas e insanas seqüências de pesadelo já filmadas. "Beware... beware! Beware of the big green dragon that sits on your doorstep... He eats little boys... puppy dog tails, and big fat snails". O beware de Lugosi é pronunciado como bevare, no mais rasgado sotaque europeu possível. Só assistindo para acreditar no nível de bizarrice e na sensação de estranheza que esta fala provoca.

A narração em off, uma característica marcante em quase todos os filmes do cultuado diretor, faz um estrago e tanto em Glen or Glenda. A primeira meia hora do filme pode muito bem ser confundida com um documentário, com texto em franco apoio aos travestis e seus problemas de inadequação social. Diálogos inutilmente verborrágicos causam verdadeiro espanto pelo nível de informações e comentários irrelevantes que são proferidos pelo elenco. Tomadas repetidas, cenas de outros filmes e interpretações terríveis permeiam uma história que não tem rumo e, muito menos, coerência. E o mais irônico de tudo é que o melhor ator em cena seja o próprio Ed Wood, certamente pela semelhança de seu personagem com sua própria pessoa.

Wood admitiria mais tarde que o final de Glen ou Glenda e, por conseguinte, o destino de Glen no filme, foi filmado do jeito que está para burlar os problemas com a censura e as convenções sociais da época. O valor do filme, que realmente entra fácil numa lista de piores produções de todos os tempos, está em seu status de "cult" e na presença do outrora grande mas então definhante Lugosi, que desde então tornou-se, até sua morte, grande amigo de Ed Wood.

O DVD apresenta como extras o trailer do filme, galeria de pôsteres e notas de produção, além de biografias de Ed Wood, Bela Lugosi e Dolores Fuller, namorada e colaboradora do diretor durante algum tempo.

Texto postado por Kollision em 25/Novembro/2004