Cinema

Plano 9 do Espaço Sideral

Plano 9 do Espaço Sideral
Título original: Plan 9 from Outer Space
Ano: 1959
País: Estados Unidos
Duração: 78 min.
Gênero: Ficção Científica
Diretor: Edward D. Wood Jr. (Noite das Assombrações, Poderes Ocultos)
Trilha Sonora: Bruce Campbell, Wolf Droysen, Trevor Duncan, Franz Mahl, John O'Notes, Van Phillips, Steve Race, Wladimir Selinsky, James Stevens, Gilbert Vinter
Elenco: Gregory Walcott, Mona McKinnon, Duke Moore, Tom Keene, Carl Anthony, Paul Marco, Tor Johnson, Dudley Manlove, Joanna Lee, John Breckinridge, Lyle Talbot, David De Mering, Norma McCarty, Bill Ash, Reverend Lynn Lemon, Ben Frommer, Gloria Dea, Conrad Brooks, Vampira, Bela Lugosi, Criswell
Distribuidora do DVD: Continental
Avaliação: 2

O pior filme de todos os tempos. Está aí uma alcunha à qual poucas obras cinematográficas têm a honra, ou a desonra, de estarem sujeitas. Anti-obra-prima da sétima arte, absurdo técnico e narrativo perpetrado pelo também considerado por alguns como o pior diretor de todos os tempos. O pouco que o público em geral conhece de Plano 9 do Espaço Sideral resume-se nestas poucas linhas. A aura de "cult" deve-se a isso e, claro, a fatores inexplicáveis que só podem ser mesmo compreendidos após uma sessão do filme.

A história? Discos Voadores começam a ser vistos com freqüência cada vez maior numa cidadezinha suburbana da Califórnia. Inexplicavelmente, os túmulos do cemitério local aparecem vazios da noite para o dia, e um casal recém-falecido volta à vida (Bela Lugosi e Vampira), passando a aterrorizar as redondezas. Tudo não passa de um intricado plano (o tal plano 9) de dominação mundial dos extra-terrestres, que decidem ressuscitar os mortos e fazê-los marchar contra todas as cidades da Terra, após se cansarem de ter sua existência continuamente ignorada pelos governantes do mundo. Discos voadores se deslocam da nave-mãe, estacionada em algum ponto fora do planeta, para arregimentar o exército de mortos-vivos e levar a cabo a terrível vingança contra a humanidade.

Edward D. Wood Jr. foi um cara estranho. Como o próprio disse certa vez, Plan 9 foi sua obra-prima. Afinal, o cara era maluco? Justiça seja feita: sob o ponto de vista técnico, é difícil argumentar contra aqueles que o taxam de pior cineasta de todos os tempos. Uma sessão de Plan 9 corrobora cada uma das inúmeras críticas desferidas contra o diretor excêntrico que gostava de se vestir de mulher. Diálogos imbecis, edição mal-feita, erros de continuidade e iluminação, gambiarras em cenários, reaproveitamento vergonhoso de tomadas, colagens de outros filmes, elenco mal-dirigido, falta de ritmo narrativo, total falta de lógica e sincronismo com a realidade, indescritíveis (d)efeitos especiais, e muitos, mas muitos outros absurdos. Tudo isso está lá, de forma chocante e quase inacreditável para quem está assistindo pela primeira vez.

Porém, uma olhada com mais calma nos filmes de Ed Wood pode ajudar a entender porque Plan 9, em toda a sua ignóbil magnitude asinina, ascendeu à categoria de cult. E não há como escapar do clichê aqui: o filme é tão ruim que é bom. É virtualmente impossível evitar as gargalhadas. Bela Lugosi, ícone do cinema de horror que morreu na miséria e foi ressuscitado por Ed Wood em fim de carreira, tem em Plan 9 uma presença post-mortem. Falecido em 1956, todas as cenas em que seu rosto aparece são material reaproveitado pelo diretor a partir de um curta-metragem mudo feito imediatamente antes da morte de Lugosi, e que não tinha absolutamente nada a ver com o roteiro do filme. Em Plan 9, Wood viu-se obrigado a utilizar um dublê, que aparece sempre de costas ou cobrindo o rosto com a indefectível capa de Drácula (mais um absurdo inexplicável do filme, que ressuscita um morto enterrado com uma capa). Lugosi não tem uma fala sequer, assim como sua companheira morta-viva Vampira, também ícone em menor escala de filmes-B. Tor Johnson, ex-lutador de luta livre que se torna o terceiro zumbi (e que seria perfeito como o Rei do Crime no filme do Demolidor, se estivesse vivo), é o membro do elenco que mais de destaca, pois protagoniza diálogos e encarna o morto-vivo mais bem caracterizado, com um semblante sempre inexplicavelmente cômico. Completanto a palhaçada, o guru Criswell abre e fecha o filme com suas previsões e afirmações malucas.

Não dá para falar muito dos extra-terrestres sem estragar o filme. Porém, como Plan 9 já é estragado em sua essência, tão porcamente produzido e por isso mesmo tão encantador, pode-se dizer que a entrada em cena dos ETs só tem a contribuir com o nível cômico da película. Absurdos são destilados na tela como uma metralhadora, tanto pelos dois ETs paus-mandados quanto pelo chefe, uma espécie de dândi inter-galáctico. Para onde tudo isso vai levar? Só a mente de Edward D. Wood Jr., escritor, produtor e diretor de Plano 9 do Espaço Sideral, pode dar uma resposta. Se ela será satisfatória, só o público em sintonia com sua "genialidade" às avessas poderá dizer.

A edição em DVD do filme garante às novas gerações a continuidade e, com certeza, o aumento do culto a Plan 9. Com biografias do diretor e dos três mortos-vivos, uma pequena galeria de fotos e trailer, um segundo disco traz ainda um documentário de quase duas horas sobre o fascínio que o filme vem causando desde a época de seu lançamento. Bastante abrangente, com participações inusitadas (Sam Raimi dá um caldo hilário) e entrevistas recentes de membros do elenco ainda vivos, é uma verdadeira aula sobre esse diretor tão massacrado, mas ao mesmo tempo tão adorado, que foi Ed Wood Jr.

Texto postado por Kollision em 21/Novembro/2004