A Universal Filmes ficou marcada como a casa dos monstros clássicos do cinema, notadamente Drácula, Frankenstein e o Lobisomem. Entre outras figuras menores havia ainda, por exemplo, a Múmia e o Homem-Invisível. Os intérpretes de praticamente todos os monstros clássicos viriam a ser marcados pelo resto da carreira por seus lendários papéis. Nenhum outro ator, no entanto, foi tão estigmatizado quanto o húngaro Bela Lugosi, que personificou o mais famoso vampiro de todos os tempos em Drácula, de 1931. Depois disso, Lugosi nunca conseguiria se desvincular totalmente da figura do vampiro, sempre reaparecendo como Drácula ou uma variação do personagem. Caindo no ostracismo ao final da década de 40, o ator só tornaria a fazer cinema na década seguinte ao lado de Ed Wood, um dos diretores mais massacrados pela crítica na época.
Grandes amigos que se tornaram, Wood e Lugosi, dois patéticos "losers" na pior acepção da palavra, uniram-se para realizar três filmes. O primeiro deles foi Glen ou Glenda, o segundo foi este A Noiva do Monstro e o terceiro, realizado após a morte de Lugosi, foi Plano 9 do Espaço Sideral. Considerando a presença cênica de Lugosi, o melhor dos três filmes foi mesmo A Noiva do Monstro, que não passa de mais um conto sobre um cientista louco. No caso, o antigo astro do cinema de horror, que tanta influência tivera sobre o jovem Ed Wood. Trabalhar com um ídolo de infância deve ter sido o máximo para Wood, que com certeza valeu-se de Lugosi para alavancar a própria carreira, muito embora ambos tivessem de fato se tornado amigos.
Em A Noiva do Monstro, Lugosi é o Dr. Eric Vornoff, cientista recluso que habita uma casa abandonada num pântano, auxiliado por seu ajudante mudo Lobo (Tor Johnson, que não tem uma única fala e limita-se a desfilar desajeitadamente o corpanzil durante todo o filme). As suspeitas sobre um monstro que ronda os pântanos da região aumenta quando dois policiais desaparecem numa noite de tempestade. Preocupada, a polícia inicia uma investigação mais dura com a ajuda de um especialista em histórias de monstros e a intromissão constante de uma enxerida repórter (Loretta King, que em certo momento torna-se a tal noiva do título). Todos irão mais cedo ou mais tarde cair nas garras do Dr. Vornoff, que deseja na realidade criar uma nova raça de super-humanos para conquistar a Terra.
A baixa qualidade das produções de Ed Wood encontra neste filme o nível ideal para a narração da história clássica do cientista louco. Diferente de outros filmes feitos pelo diretor, aqui há um desenvolvimento narrativo razoável e até mesmo os diálogos soam mais coerentes, ainda que exagerados em certos momentos. Obviamente, as cenas de Lugosi são as mais marcantes, e sua expressão cansada e quase cadavérica, seus trejeitos herdados e nunca mais abandonados de Drácula, seu monstruoso ajudante e seu sinistro laboratório sintetizam de forma excelente o estereótipo do conto de terror sobre o cientista que cria aberrações. Uma pérola interessantíssima é o polvo assassino da dupla, um "primor" de borracha completamente desprovido de movimentos que sela o destino de vários personagens da trama.
A edição em DVD do filme tem como extras o trailer, biografias de Ed Wood e de Lugosi e um arquivinho de fotos e pôsteres. Tirando o obscuro The Black Sleep e a aparição póstuma em Plano 9 do Espaço Sideral, este é o último trabalho de Bela Lugosi no cinema. O ator viria a falecer em 1956, vítima de sua dependência de drogas.
Texto postado por Kollision em 27/Novembro/2004