Revisto em DVD em 30-OUT-2009, Sexta-feira
Uma grande piada.
Encarnação do Demônio é uma grande piada. Revendo-o agora é possível notar melhor quão vazia e inútil é esta finalização da "trilogia" imaginada por José Mojica Marins na década de 60. Com exceção do fator mulher pelada e da presença de Jece Valadão (ótimo), tudo nesta obra á praticamente um desastre. Os diálogos são indecentes, a história é um horror, a trilha sonora é um zero e as atuações, principalmente a de Mojica, são atrozes. Um dos produtores ou colaboradores deveria ter tido colhões e falado pro cara que não é assim que se faz bom cinema de horror hoje em dia.
E sabem o que é mais engraçado? É que há um desfile de sósias involuntários no filme! Mário Lima, colaborador habitual de Mojica, poderia muito bem passar como Joe Pesci. E o próprio Zé do Caixão, nos momentos mais histriônicos, não é outro senão Luís Inácio Lula da Silva, em postura e voz. Medo, muito medo.
O DVD vem com uma faixa de comentários conjunta de Mojica e dos produtores Dennison Ramalho e Paulo Sacramento, além de um making-of "oficial" de meia hora, um making-of "experimental" de 13 minutos, 12 minutos de cenas excluídas (comentadas pelo diretor e pelo editor), trailer, informações em texto sobre os demais filmes da trilogia e dois especiais curtos que discorrem sobre os efeitos visuais da cena do purgatório e o uso de storyboards.
Visto no cinema em 6-SET-2008, Sábado, sala Moviecom 1 do Rondon Plaza Shopping
É triste a constatação de que, infelizmente, José Mojica Marins não conseguiu fugir à contaminação de décadas acorrentado a programas de TV de última categoria, aparições em festas de halloween e pagações públicas de mico. Que suas obras clássicas descansem em paz, imaculadas e protegidas por sua eternização em meio digital, porque esse Encarnação do Demônio não faz jus às duas primeiras partes da trilogia de Zé do Caixão (À Meia-noite Levarei Sua Alma e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver).
A maior fraqueza deste terceiro capítulo é, de longe, a interpretação de Mojica. Declamada, teatral demais, completamente fora de compasso com o acabamento profissional de todo o longa. Nos momentos mais ruins, parece que o cara está apresentando o Cine Trash! O elevado nível de nudez feminina, de escatologia e de sangue ajuda a compensar essa falha, mas não consegue – nem de perto – tornar o filme memorável. Não adiantam as lições obviamente aprendidas com Jogos Mortais e O Chamado. O ponto de partida do roteiro é ótimo: após anos encarcerado, o agente funerário psicopata Zé do Caixão é libertado e, com o auxílio de seu fiel ajudante Bruno (Rui Resende), reinicia sua campanha para encontrar a mulher que lhe dará o filho perfeito. Logo ele arranja um séquito de fiéis acólitos, mas em seu encalço aparece um policial caolho e antigo desafeto (Jece Valadão, surpreendentemente a melhor atuação de todo o filme), entre outras figuras histrionicamente caracterizadas (Milhem Cortaz em especial). Infelizmente, a premissa é logo soterrada por absurdos que só poderiam ser relevados se a história ainda se passasse no final da década de 60, enquanto personagens são jogados em cena e somem sem qualquer aviso ou desenvolvimento.
Enfim, assista pelo fator mulher pelada, ou pelo fator de "único filme de horror brasileiro feito em muito tempo". Mas não se engane, o verdadeiro Zé do Caixão está morto desde 1967. E convenhamos... Até no título genérico e frouxo, Encarnação do Demônio empalidece diante dos filmes clássicos.