Com Fuso Horário do Amor, a França prova que é capaz, sim, de produzir comédias românticas com padrão de consumo bem hollywoodiano. A diretora co-assina o roteiro, e demonstra tato ao conduzir um conto bastante enxuto, rápido e protagonizado por dois atores tarimbados tanto no cinema francês quanto no resto do mundo. Dá até pra imaginar que o sempre carrancudo Jean Reno dá certo pra coisa, olha só!
Presa no aeroporto Charles de Gaulle em Paris devido ao cancelamento de seu vôo para o México, a esteticista e maquiadora Rose (Juliette Binoche) ainda por cima acaba perdendo seu aparelho celular da forma mais idiota possível. Ao pedir emprestado o celular de outro passageiro também retido, tem início mais uma história de estranhos que se encontram e se conhecem em situações ora tocantes, ora constrangedoras. Vindo dos Estados Unidos e em trânsito para a Alemanha a caminho de um compromisso familiar, Félix (Jean Reno) sofre com o fuso horário e mostra-se retraído, grosso e impaciente. O cara só parece possuir genuíno interesse em cozinhar e em administrar seu próprio negócio. Exatamente o contrário da faladora e acolhedora Rose, cujo pretendente estourado (Sergi López) acelera ainda mais a sua aproximação com o cozinheiro estressado.
O filme brinca com a idéia sempre romântica dos opostos que se atraem, e mantém o interesse com um fiapo de história e muitos diálogos, cuja maior característica é a franqueza com que seus personagens se apresentam. A química entre Binoche e Reno funciona na medida certa, e o roteiro procura capitalizar em cima das características de cada um. A maior parte da ação se passa no próprio aeroporto e no quarto de hotel que os dois perdidos acabam dividindo. Graças à pesada camada de maquiagem aplicada, Juliette Binoche fica às vezes bastante diferente dos papéis que sempre predominaram em sua carreira, enquanto Reno realmente surpreende nos momentos mais ternos. A temática pode ser diferente, mas toda a atmosfera do filme meio que antecipa o futuro O Terminal de Steven Spielberg, lançado em 2004.
Bonitinho sem ser revolucionário, a maior pretensão deste filme é ser um romance de aeroporto com final feliz, um programa leve que reflete a sensação de diversão que parece transparecer nas atuações de Jean Reno e Juliette Binoche. Os clichês, como sempre, são inevitáveis, mas este é mais uma vez o caso em que o charme de seus protagonistas mais do que compensa os lugares comuns.
O DVD vem com biografias de Juliette Binoche, Jean Reno e Sergi López, além da diretora Danièle Thompson. Há ainda o trailer do filme, acompanhado dos trailers de Todo Mundo em Pânico 3, Os Normais, Deixe-me Viver, O Clube do Imperador, Confidence - O Golpe Perfeito, Por um Triz, O Paciente Inglês e Perdas e Danos (estes dois últimos acessados através da biografia de Juliette Binoche).
Texto postado por Kollision em 25/Maio/2006