Para a ficção científica que lida com invasões e visitas de seres alienígenas ao planeta Terra, é mais do que óbvio que um dos maiores nomes relacionados dentro da arte conhecida como cinema é o de Steven Spielberg. Fascinado pelo tema e generoso em compartilhar sua visão com o resto do mundo, Spielberg é responsável por um punhado de filmes de ficção científica que se inserem com freqüência em qualquer lista dos melhores e mais bem-sucedidos de todos os tempos. Um deles é exatamente Contatos Imediatos do Terceiro Grau, que marcou época com sua representação lírica do que seriam os seres de outro planeta, e praticamente (re)definiu o modo como os alienígenas seriam mostrados nos meios de entretenimento em massa pelas próximas décadas.
O personagem central é Roy Neary (Richard Dreyfuss), um eletricista e pai de família que se torna testemunha de um fenômeno espetacular: a visita de iluminadas naves especiais através da região densamente povoada da Califórnia. O fenômeno coincide com a descoberta de vários aviões desaparecidos desde a Segunda Guerra Mundial em pleno deserto africano, como se nenhum dia tivesse se passado desde então. Roy lentamente se torna obcecado pela imagem de uma montanha, desestruturando sua família e se lançando numa busca insana pela verdade por trás daquilo que lhe atormenta a alma. A ele se junta uma mãe atormentada com a abdução do filho pelos aliens (Melinda Dillon), e seus caminhos logo se cruzam com o do chefe da operação internacional responsável por decifrar as mensagens deixadas pelos extra-terrestres (o diretor francês François Truffaut), que ironicamente parece ser o único que compreende o que move Roy, a mãe e mais um punhado de pessoas atraídas ao local visualizado em suas mentes.
Impecavelmente realizado e tratado com uma seriedade que se eleva acima da relativa ingenuidade com que certas nuances do roteiro são tratadas, o filme lança uma luz de contexto interessante sobre um dos maiores mistérios da era moderna: estamos ou não sozinhos no universo? Ao centralizar a trama numa pessoa comum confrontada por uma situação extraordinária, Spielberg segue a cartilha básica de como envolver a platéia em sua história, que possui um desenvolvimento lento e por vezes contemplativo e correria sério risco de enveredar pelo enfadonho caso o roteiro não tratasse seus personagens humanos com o devido respeito. Nenhum deles, por exemplo, é engolido pelos efeitos especiais, que por sua vez não perderam nada da elegância e ainda hoje assombram pela qualidade com que foram feitos. Cortesia do mesmo homem e da mesma equipe por trás do filme que começou tudo, o clássico insuperável 2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968).
A presença do renomado cineasta François Truffaut no elenco do filme é um indicativo do precoce e impressionante gabarito que Steven Spielberg já possuía na época do lançamento deste trabalho. Pelo que tudo indica, além de desempenhar um papel crucial no estabelecimento da seriedade do longa-metragem e contribuir sobremaneira para a elaboração de um personagem de inesperada simpatia, Truffaut foi também exemplar na relação ator-diretor, apesar de não falar quase nada de inglês. Incrível como, em sua participação histórica, ele quase chega a roubar a cena de Richard Dreyfuss, que tem aqui um dos melhores papéis de sua carreira.
Uma das coisas interessantes a se observar sobre Contatos Imediatos é que o filme se trata de um irmão mais sério e adulto de E.T. - O Extra-terrestre, também dirigido por Spielberg e lançado cinco anos depois. O primeiro retrata a odisséia do homem comum, um adulto com o qual muitas pessoas podem se identificar, em uma busca de fé por uma verdade utópica de cunho surreal. O segundo é praticamente a mesma coisa, só que vivida através dos olhos de uma criança e sob esse ponto de vista dramatizada. Contatos Imediatos é cinema de melhor qualidade e se mostra superior ao ser lírico sem pender para o melodrama, mas fica definitivamente alguns pontos abaixo em matéria de emoção em relação à sua contraparte infantil. Sob qualquer ponto de vista, porém, ambos os filmes são complementares, e recomendo que os dois sejam vistos sem muito intervalo entre um e outro.
O segundo disco do DVD duplo vem com um documentário atual de mais de uma hora e meia sobre o filme, além de um especial de divulgação de 5 minutos da época de seu lançamento, 11 cenas excluídas do corte final e o trailer de cinema.
Revisto em DVD em 24-DEZ-2006, Domingo - Texto postado por Kollision em 28-DEZ-2006