Visto no cinema em 25-SET-2008, Quinta-feira, sala 2 do Multiplex Pantanal
Desde o início, a adaptação de Fernando Meirelles para o livro do premiado escritor português José Saramago – que, tal qual muitos outros, foi considerado infilmável – era matéria infindável para polêmicas e opiniões altamente dissonantes. Contundente, opressivo, angustiante, forte e agressivo parecem ser os adjetivos mais aplicáveis aqui, mas há quem ache o tema como um todo ofensivo às pessoas com necessidades especiais.
Resumidamente, o drama retrata a degradação sofrida por um grupo de pessoas acometidas por uma epidemia de cegueira branca. Eles são colocados em quarentena numa instalação decadente e vêm a ser lentamente privadas de coisas básicas como comida e remédios, regredindo a estágios bárbaros de valores sociais/morais. A única pessoa que pode ver e esconde tal segredo de todos é uma mulher (Julianne Moore) que inicialmente acompanha o marido cego (Mark Ruffalo). A cinematografia adotada por Meirelles abusa de contrastes fortes, superexposição e desfocagem, com o óbvio intuito de caracterizar da melhor forma possível a desorientação dos personagens. Que em nenhum momento são chamados por nomes, assim como a cidade ou a nação em que eles estão nunca chegam a ser identificados.
Uma coisa é certa: Ensaio sobre a Cegueira há de deixar uma impressão duradoura no espectador. Quando a espiral de desespero envereda por recônditos incômodos do comportamento humano, fica difícil não ser sugado de alguma forma para dentro do drama. Lembrei-me de vários outros filmes que se relacionam com este durante a projeção, em especial de O Anjo Exterminador, Perfume - A História de um Assassino, Fim dos Tempos e qualquer um dos exemplares clássicos de filmes de zumbi feitos ou inspirados por George Romero. A metáfora presente no desfecho pode ser simples, mas é extremamente válida principalmente nos dias atuais, em que presenciamos sem qualquer firula a contínua desestruturação de várias sociedades consideradas "saudáveis".
Na minha opinião Meirelles fez um ótimo filme, melhor e mais tematicamente coeso que O Jardineiro Fiel. A julgar pela fonte de suas idéias, é justo ansiar por mais adaptações das obras de Saramago, se possível tão boas quanto esta.