Cinema

Ensaio sobre a Cegueira

Ensaio sobre a Cegueira
Título original: Blindness
Ano: 2008
País: Brazil, Canadá, Japão
Duração: 120 min.
Gênero: Drama
Diretor: Fernando Meirelles (Domésticas, Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel)
Trilha Sonora: Marco Antônio Guimarães (Batismo de Sangue)
Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Yusuke Iseya, Gael García Bernal, Danny Glover, Don McKellar, Yoshino Kimura, Mitchell Nye, Sandra Oh, Jason Bermingham, Ciça Meirelles, Joe Pingue, Susan Coyne, Fabiana Guglielmetti, Eduardo Semerjian, Antônio Fragoso, Lilian Blanc
Avaliação: 9/10

Visto no cinema em 25-SET-2008, Quinta-feira, sala 2 do Multiplex Pantanal

Desde o início, a adaptação de Fernando Meirelles para o livro do premiado escritor português José Saramago – que, tal qual muitos outros, foi considerado infilmável – era matéria infindável para polêmicas e opiniões altamente dissonantes. Contundente, opressivo, angustiante, forte e agressivo parecem ser os adjetivos mais aplicáveis aqui, mas há quem ache o tema como um todo ofensivo às pessoas com necessidades especiais.

Resumidamente, o drama retrata a degradação sofrida por um grupo de pessoas acometidas por uma epidemia de cegueira branca. Eles são colocados em quarentena numa instalação decadente e vêm a ser lentamente privadas de coisas básicas como comida e remédios, regredindo a estágios bárbaros de valores sociais/morais. A única pessoa que pode ver e esconde tal segredo de todos é uma mulher (Julianne Moore) que inicialmente acompanha o marido cego (Mark Ruffalo). A cinematografia adotada por Meirelles abusa de contrastes fortes, superexposição e desfocagem, com o óbvio intuito de caracterizar da melhor forma possível a desorientação dos personagens. Que em nenhum momento são chamados por nomes, assim como a cidade ou a nação em que eles estão nunca chegam a ser identificados.

Uma coisa é certa: Ensaio sobre a Cegueira há de deixar uma impressão duradoura no espectador. Quando a espiral de desespero envereda por recônditos incômodos do comportamento humano, fica difícil não ser sugado de alguma forma para dentro do drama. Lembrei-me de vários outros filmes que se relacionam com este durante a projeção, em especial de O Anjo Exterminador, Perfume - A História de um Assassino, Fim dos Tempos e qualquer um dos exemplares clássicos de filmes de zumbi feitos ou inspirados por George Romero. A metáfora presente no desfecho pode ser simples, mas é extremamente válida principalmente nos dias atuais, em que presenciamos sem qualquer firula a contínua desestruturação de várias sociedades consideradas "saudáveis".

Na minha opinião Meirelles fez um ótimo filme, melhor e mais tematicamente coeso que O Jardineiro Fiel. A julgar pela fonte de suas idéias, é justo ansiar por mais adaptações das obras de Saramago, se possível tão boas quanto esta.