Cinema

Dália Negra

Dália Negra
Título original: Black Dahlia
Ano: 2006
País: Alemanha, Estados Unidos
Duração: 121 min.
Gênero: Policial
Diretor: Brian De Palma (Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso, Carrie - A Estranha)
Trilha Sonora: Mark Isham (Invencível [2006], Bobby, O Nevoeiro)
Elenco: Josh Hartnett, Aaron Eckhart, Scarlett Johansson, Hilary Swank, Mia Kirshner, Mike Starr, Fiona Shaw, Patrick Fischler, James Otis, John Kavanagh, Troy Evans, Rachel Miner, Anthony Russell, Pepe Serna, Angus MacInnes
Avaliação: 7

Eu gosto mais do Brian De Palma de antigamente. O cineasta de longas como Carrie - A Estranha, Vestida para Matar e Dublê de Corpo. Da época em que ele era, na América, comparado a Dario Argento, enquanto Argento era, na Europa, comparado a Brian De Palma. Um dos últimos filmes seus que realmente curti foi Missão Impossível, e de lá para cá já se vai praticamente uma década.

Não que ele tenha deixado de ser um grande cineasta, muito pelo contrário. Não são poucos os momentos em Dália Negra em que ele demonstra sua técnica genial, acompanhada de uma finesse que poucos diretores são capazes de possuir em dias atuais. A zica que impede que seus filmes mais recentes – e o maior exemplo disso é Femme Fatale (2002) – sejam considerados excelentes é um mal que nenhuma boa vontade ou gênio é capaz de suplantar com maestria suficiente: a tal da "complicadez" do roteiro, representada por tramas rocambolescas que engolem técnica, performances e valores de produção e não permitem que o filme atinja sua plenitude como suspense, thriller ou policial.

Diz-se que a dificuldade da adaptação do livro de James Ellroy era notória. O maior exemplo de que tal consideração pode ser contornada com louvor é o excepcional Los Angeles - Cidade Proibida (Curtis Hanson, 1997), adaptado da prosa do mesmo escritor e ambientado na mesma cidade onde se passa a história de Dália Negra e de grandes clássicos de assassinato hollywoodiano, como o icônico Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950). Infelizmente, De Palma novamente comanda uma história intrincada demais, que erra na importância dada aos seus personagens e traz grandes bolsões narrativos calcados em coadjuvantes suspeitos que nem mesmo chegam a ser apresentados direito antes de desempenharem papéis cruciais nos momentos decisivos do filme. Falha da adaptação, que tentou convergir todas as linhas narrativas de uma história densa demais para um longa-metragem de apenas duas horas de duração.

"Pelo menos o film noir está de volta com pompa", o mais fanático por De Palma poderia dizer. Particularmente, concordo em gênero, número e grau com essa afirmação pois, enquanto os personagens principais estão sendo apresentados e o caldo não entornou muito, o prazer de se assistir à narração em off do protagonista Bucky (John Hartnett) agrada em cheio aos fãs do gênero. Pugilista de talento, ele forma uma dupla matadora com o também lutador Lee (Aaron Eckhart) dentro da polícia de Los Angeles, após um início turbulento para uma grande amizade. No vértice do triângulo amoroso aparece Kay Lake (Scarlett Johansson), a esposa de Lee. O brutal assassinato de uma atriz de quinta categoria (Mia Kirshner), apelidada pela imprensa de Dália Negra, dá início à desestruturação dos policiais. A dedicação de Lee pelo caso atinge as raias da obsessão, enquanto a investigação empreendida por Bucky leva-o de encontro à rica e libertina Madeleine (Hilary Swank), uma das poucas pessoas que conhecia a vítima. A solução do mistério, por sua vez, vem acompanhada de mais sangue e várias revelações estarrecedoras.

O assassinato de Elisabeth Short foi um evento real, incluindo as circunstâncias grotescas em que seu corpo foi encontrado. É só a solução criada por James Ellroy e retratada por De Palma que é fictícia, uma vez que o caso jamais foi solucionado. Nesta versão para os fatos, nenhum dos envolvidos é completamente inocente, o que não se restringe somente ao crime hediondo sobre o qual o filme se constrói. É uma pena que a intenção fique a meio caminho, apesar do charme do filme e da maravilhosa seqüência do assassinato na escadaria (que remete a Os Intocáveis), da realista seqüência da luta de boxe e do ousado mise-en-scene que mostra a descoberta do corpo da atriz. Que, por sinal, é maravilhosamente interpretada por Mia Kirshner em flashbacks em preto-e-branco. A moça foi, decididamente, a escolha mais acertada dentro do elenco feminino do longa.

Visto no cinema em 16-OUT, Segunda-feira, sala 2 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 20-OUT-2006