Cinema

Crepúsculo dos Deuses

Crepúsculo dos Deuses
Título original: Sunset Boulevard
Ano: 1950
País: Estados Unidos
Duração: 110 min.
Gênero: Drama
Diretor: Billy Wilder (Amor na Tarde, Testemunha de Acusação, Quanto Mais Quente Melhor)
Trilha Sonora: Franz Waxman (A Noiva de Frankenstein, Suspeita, O Cálice Sagrado)
Elenco: Gloria Swanson, William Holden, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Fred Clark, Lloyd Gough, Jack Webb, Franklyn Farn, Larry J. Blake, Charles Dayton, Cecil B. DeMille, Hedda Hopper, Buster Keaton, Anna Q. Nilsson, H.B. Warner
Distribuidora do DVD: Paramount Pictures
Avaliação: 9

O fascínio mundial exercido por Hollywood, a meca das produções cinematográficas norte-americanas e principal local de concentração do cinema desde que ele se entende por arte, há muito tempo parece ter se perdido em meio a quantias exorbitantes de dinheiro, a interferências de estúdios ávidos por lucro e ao desaparecimento de boas histórias em detrimento geralmente de um bombardeio de imagens sem sentido. Muitos apregoam que a era áurea do cinema já passou, e que estamos todos condenados a assistir produções pasteurizadas, digitalizadas e retocadas a tal ponto que o trabalho dos atores e da equipe técnica nada representa (vide a manipulação digital que George Lucas fez com alguns personagens dos filmes recentes da série Star Wars).

Mesmo assim, a mágica persiste nas mãos de uma nova geração de competentes diretores. Nem sempre, porém, esta "mágica" é imaculada, o que nos faz lembrar que cinema é também, acima de tudo, um negócio. Milhares de profissionais chegam à Califórnia todos os anos aspirando por um lugar ao sol no mundo dos filmes. Gente que é capaz de fazer de tudo para conseguir uma chance de participar da "mágica". Gente que se corrompe em nome de algo em que acreditam, sem ao certo saber se o preço a pagar não é alto demais. O fato inegável é que, assim como em qualquer ramo profissional, o cinema tem lá sua carga de sordidez e sujeira que são empurradas para debaixo do pano de tempos em tempos.

Foi com esse tema que o diretor Billy Wilder surpreendeu a comunidade cinéfila logo no início da década de 50, ao levar às telas a história de uma estrela decadente em Crepúsculo dos Deuses. Gloria Swanson é Norma Desmond, diva esquecida do cinema mudo, que vive imersa num mundo fantasioso erguido como um castelo de cartas pelo seu austero mordomo (Erich Von Stroheim). O fracassado escritor Joe Gillis, interpretado por William Holden, acaba por um lance do destino se associando à ex-estrela, agarrando uma oportunidade que pode tirá-lo do buraco em que se meteu e ainda dar-lhe a chance que sempre sonhou em Hollywood. Norma acredita que seus dias de glória e seus fãs nunca a abandonaram, enquanto o escritor convertido em gigolô aproveita para subir alguns degraus profissionais, num relacionamento que pode vir a trazer graves conseqüências para ambos.

Numa época em que cinema era sinônimo de puro entretenimento, o lançamento de Crepúsculo dos Deuses foi contra essa tendência e ofereceu um relato deveras amargo de um meio que ainda não tinha recebido um retrato tão verdadeiro sobre si mesmo. O filme é repleto de passagens memoráveis, e é engrandecido pela participação inesquecível de Gloria Swanson (em um papel que fora recusado por Mae West e Mary Pickford, entre outras). Erich Von Stroheim, ele próprio um famoso diretor da era do cinema mudo, dirigiu a própria Swanson em alguns de seus filmes. A participação de Cecil B. DeMille como si mesmo, na seqüência em que Norma Desmond visita-o no set de Sansão e Dalila, dá um ar ainda mais trágico a uma história que encontra um paralelo até certo ponto incômodo com o elenco reunido, já que DeMille também dirigira Swanson no passado. O rostinho bonito de Nancy Olson, como a escritora que se interessa por Gillis, faz contraponto à cruel realidade retratada na película, quase como lembrando-nos da idéia de inocência que cerca o meio cinematográfico.

Crepúsculo dos Deuses tem uma história peculiar com relação a A Malvada, produzido no mesmo ano e dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Enquanto A Malvada levou para casa 6 Oscars, incluindo o de melhor filme, a obra de Wilder amealhou somente 3 prêmios, incluindo aí o de melhor trilha sonora para Franz Waxman. Pessoalmente, acredito que a academia fez justiça e concedeu o prêmio ao melhor dos dois filmes. Apesar disso, sendo ambos excelentes dramas sobre o show business (até mesmo possuindo estrutura parecida), as duas obras merecem figurar com toda a certeza no panteão de marcos cinematográficos de todos os tempos.

Os principais extras da edição especial do DVD da Paramount são um making-of de 25 minutos e outros dois especiais de 15 min. cada, o primeiro sobre a figurinista Edith Head e o segundo sobre o compositor Franz Waxman, com a participação mais que bem-vinda de Elmer Bernstein. Há ainda trailer, três galerias de fotos, detalhes sobre os locais de filmagem e o trecho de roteiro que traz o prólogo do necrotério, descartado por Wilder após exibições-teste e acompanhado aqui por algumas cenas correspondentes excluídas.

Texto postado por Kollision em 25/Dezembro/2004