Com o sentimento de dever cumprido após ter assinado a direção de Batman (1989) e Batman - O Retorno (1992), Tim Burton decidiu ficar somente com a produção desta terceira aventura da série do cavaleiro das trevas, passando as rédeas para o versátil Joel Schumacher. A mudança de tom, portanto, era esperada e, porque não dizer, bem-vinda. Só que ela não ficava só nisso. Val Kilmer assume aqui a responsabilidade de envergar a capa do herói, herdando e prolongando o legado passado por Michael Keaton.
O vilão Duas-Caras (Tommy Lee Jones) escapa da cadeia e começa a espalhar o terror, forçando Batman (Kilmer) a se arriscar mais uma vez em defesa da população de Gotham. Participando da caçada ao bandido está também a psiquiatra Chase Meridian (Nicole Kidman), que não hesita em arrastar a asa para o lado do morcego. Nas indústrias de Bruce Wayne, a demência de um empregado incompreendido (Jim Carrey) encontra vazão após sucessivos fracassos de seu projeto de manipulação de ondas mentais, e ele encontra seu destino ao criar a identidade do Charada, que não demora muito a se associar a Duas-Caras em sua cruzada para eliminar Batman. São exatamente os feitos deste último que colocam o jovem acrobata de circo Dick Grayson (Chris O'Donnell, que quase perdera a vaga para Leonardo DiCaprio) dentro da mansão Wayne, abrindo a possibilidade de surgimento de uma certa 'dupla dinâmica' no combate ao crime de Gotham.
A característica que mais diferencia Batman Eternamente dos filmes anteriores é seu ambiente multi-colorido, que parece tornar Gotham City uma cidade mais contemporânea que aquela concebida por Tim Burton. Ainda bem que o maior número de cores não sacrificou o excelente aspecto gótico anterior. Mudanças drásticas foram feitas na bat-caverna e na estrutura dos veículos e apetrechos do herói, que desta vez vive intensamente o seu lado empresário, algo quase completamente ignorado pelos roteiros dos filmes anteriores. Val Kilmer tem mais presença física que Michael Keaton, mas passa mais ou menos pelo mesma sina de seu colega em Batman: o herói é eclipsado pela presença excessiva (e neste caso irritante) dos bandidos. Tommy Lee Jones ganha um refresco de seus papéis de carrancudo e mal-humorado e dá vazão a um lado muito pouco visto de seu trabalho como o vilão Duas-Caras (o promotor Harvey Dent, que no primeiro Batman havia sido personificado por Billy Dee Williams). Joel Schumacher deveria ter contido mais o histrionismo exacerbado de Jim Carrey, então recém-saído do sucesso O Máskara e, como se nota facilmente, descontrolado em suas caras e bocas. O filme desanda completamente no clímax exagerado e apocalíptico, dando uma amostra do que o diretor seria capaz de fazer no longa que sepultou a série, Batman & Robin.
Ironicamente, o que mais funciona no filme era uma das coisas mais temidas tanto por realizadores quanto por fãs da HQ: a introdução de Robin no mundo do homem-morcego. Muito bem realizada, ela rende praticamente todos os bons momentos do filme. O menino-prodígio até mesmo arrisca uma graça ao estilo 'Santo sei-lá-o-quê, Batman!', tão característico da série televisiva da década de 60. Tudo bem que a personagem de Nicole Kidman foi incluída na história apenas para preencher o necessário clichê da mocinha em perigo, mas é preciso admitir que ela está um deleite em cena. E, finalmente, para a alegria dos fãs mais hardcore do herói, os roteiristas conseguiram colocar o temido Asilo Arkham dentro da arquitetura da caótica Gotham City.
Os extras do DVD da Warner não contêm mais nada além de notas de produção e biografias de elenco e diretor.
Texto postado por Kollision em 24/Julho/2005