Los Angeles já foi palco de vários tiroteios em filme, como atestam ótimos trabalhos de gente de renome como Curtis Hanson, William Friedkin e Michael Mann. Único que não contém o nome da cidade no título, um dos filmes policiais de maior duração da história do cinema é Fogo Contra Fogo, de Mann, que se estende por quase três horas e apresenta um épico urbano e violento protagonizado por dois ícones do cinema americano: Al Pacino e Robert De Niro.
Dois lados da mesma moeda, os astros complementam-se num duelo de frieza e estilo movido a dinheiro, assassinatos e solidão. De Niro é Neil, um chefe de quadrilha durão que não se prende a nada na vida e não deseja voltar à cadeia, mas conduz assaltos mirabolantes acompanhado dos comparsas (Val Kilmer, Tom Sizemore e Danny Trejo). Pacino é o experiente chefe de polícia Vincent Hanna, dedicado a capturar Neil e deter seu bando de uma vez por todas. As coisas começam a esquentar para Neil quando um novo comparsa atrapalha um assalto e os faz cometer assassinato, definitivamente colocando Vincent em seu encalço. Isso resulta num jogo de gato e rato, em que Vincent e Neil antecipam os passos um do outro e constroem uma relação de respeito mútuo que culminará numa explosão de violência como poucas vistas. Juntam-se a isso os problemas pessoais de cada um, Vincent com um casamento em frangalhos e Neil decidido a não ficar mais sozinho.
O diretor Michael Mann, que também escreveu o roteiro, é hábil em construir diferentes cenários de suspense, que a certa altura se complementam e culminam em seqüências de pura adrenalina. A presença de linhas secundárias na história e a incursão na vida particular dos personagens principais são os responsáveis pela longa duração do filme. Tudo bem, entender as motivações e as personalidades dos protagonistas pode estar em pauta, mas o esboço de algumas tramas paralelas parece injustificado como, por exemplo, o eventual assassinato de uma prostituta perpetrado pelo novato esquentado do grupo de Neil, que acaba não resultando em absolutamente nada. Nem mesmo os outros membros da quadrilha, com exceção de Val Kilmer, recebem tanta atenção do roteiro.
Mesmo assim, a presença de duas lendas do cinema moderno já é justificativa mais do que suficiente para se encarar as três horas de filme. Um exemplo disso é um interlúdio tenso em que Neil e Vincent são colocados frente a frente e, com profundo respeito pela atividade um do outro, discutem as possíveis conseqüências do que estão fazendo e como a história dos dois pode vir a acabar. Algo como um antigo duelo ao pôr-do-sol transposto para a realidade urbana de nosso tempo, soberbamente capturado pelas câmeras de Mann. Isso não significa que o elenco de apoio não apareça. Pelo contrário, Val Kilmer também brilha como um sujeito perturbado, um vilão implacável e ao mesmo tempo loucamente apaixonado pela esposa incompreensiva feita por Ashley Judd. As personagens femininas, por sua vez, acabam relegadas a segundo plano, sempre atrapalhando de alguma forma as rotinas dos homens de suas vidas, o que aproxima o filme de uma abordagem semelhante ao que Martin Scorsese talvez fizesse, se tivesse tal material em mãos.
Provavelmente devido à longa duração do filme, a edição em DVD simples lançada pela Warner não contém nenhum extra.
Texto postado por Kollision em 4/Janeiro/2005