Antecipadíssima seqüência do sucesso de 1992, o filme em questão jamais ficou fora de evidência nos anos anteriores ao seu lançamento, graças às constantes declarações na mídia da estrela Sharon Stone, que chegou até mesmo a processar os produtores do longa pela demora em sua realização. O fato é que a atriz deve sua irrepreensível e indelével fama à famosa cena de cruzada de pernas do primeiro filme. Logo, é compreensível o porquê dela estar tão ansiosa para retomar o escandaloso papel da escritora suspeita de assassinato. Mesmo com uma diferença de quase 15 anos entre as duas histórias, já na idade não tão tenra de 48 anos...
Na nova trama, a psicóloga e escritora de romances de suspense Catherine Tramell (Stone) está de ambiente novo, desta vez em Londres. Quando uma de suas transas alucinadas dá errado e seu parceiro famoso morre, ela novamente volta a ser objetivo de investigação da polícia, que se vê obrigada a colocá-la sob o jugo do psiquiatra Michael Glass (David Morrissey), responsável por traçar o perfil de Tramell e, com isso, mandá-la definitivamente para trás das grades. Os meandros do julgamento acabam colocando a suspeita em liberdade, e logo ela aparece no consultório do dr. Glass solicitando que ele seja o seu terapeuta particular. Mesmo sabendo do risco a que está se submetendo e das reservas de sua colega psiquiatra Milena Gardosh (Charlotte Rampling) e seu amigo policial Roy Washburn (David Thewlis), Glass decide tentar ajudar Tramell a superar seu vício pelo perigo, sem saber que pode estar entrando num pesadelo do qual talvez não consiga acordar.
Expectativas lá no topo, e realização tão decepcionante que faz corar até o mais lauto admirador do primeiro filme. Instinto Selvagem, dirigido pelo holandês Paul verhoeven, era um suspense bacana com uma carga respeitável de erotismo bem feito. E nem mesmo nesse quesito, o que era uma coisa natural de se esperar, a continuação consegue sequer igualar o filme original: as tais cenas tórridas de sexo são escassas e inocentes, e o máximo que se consegue ver de libidinoso na tela é uma tomada de dona Stone com os seios vitaminados por silicone em gloriosa exposição. Obviamente, a atriz continua em forma e deixa muita jovenzinha cheia de panca com inveja, mas isso jamais foi motivo de sustentação técnica ou dramática para qualquer filme metido a ser sério.
Digno dos exemplares mais ruins já exibidos no emblemático Super Cine da Rede Globo, Instinto Selvagem 2 vem com um roteiro que enfia os pés pelas mãos ao colocar a personagem de Catherine Tramell no controle. Ela é a protagonista desta vez, e não o pobre coitado que ela enlaça em sua teia, como acontecera com o policial feito por Michael Douglas no primeiro filme. Há uma ou duas referências ao personagem de Douglas, que tentam estabelecer um vínculo entre uma história e outra, mas a carga de diálogos baratos que tentam passar a todo momento o quanto Catherine Tramell é sexy, sedutora e perigosa não demora muito para cansar o espectador. É muita falação para pouco suspense, para praticamente nenhuma ação e para uma série de repetições das principais idéias do filme de Verhoeven. David Morrissey faz o possível para dar um pouco de dignidade ao seu personagem (chega a lembrar vagamente os momentos mais soturnos de um Liam Neeson mais jovem), mas não consegue escapar do lamaçal narrativo nem glamourizar as tomadas carregadas no estilo SuperCine de luxo do diretor Michael Caton-Jones, que já fez coisa muito melhor no passado.
No fim, talvez a única coisa digna de uma conferida rápida seja a trilha sonora de John Murphy, que realmente chega a chamar a atenção, principalmente nos créditos finais.
Texto postado por Kollision em 3/Maio/2006