Obra menor de Steven Spielberg, Além da Eternidade é um romance de fundo espírita ao estilo de similares mais famosos como Ghost - Do Outro Lado da Vida, dirigido por Jerry Zucker e lançado no ano seguinte. Apesar de parecer na época, a idéia não era necessariamente nova. A obra é uma refilmagem de Dois no Céu (Victor Fleming, 1943), com a ambientação alterada de uma base militar na Segunda Guerra Mundial para uma instalação de bombeiros que combatem incêndios florestais. Como era de se esperar, o toque sentimental de Spielberg está bastante presente neste filme, que não chega a atingir todo o seu potencial graças principalmente a algumas escolhas equivocadas do elenco.
O piloto Pete (Richard Dreyfuss) é ousado, heróico e abusado em suas manobras sobre os incêndios florestais que sua unidade combate na base da Califórnia. Sua namorada Dorinda (Holly Hunter), também piloto e integrante da mesma equipe que ele, torce para que Pete deixe de arriscar a vida para assumir um posto de instrutor no Colorado. A tragédia vem quando, num último vôo, Pete faz uma manobra arriscada para salvar a vida do melhor amigo Al (John Goodman), encontrando a morte quando seu avião explode em pleno ar. Surpreendido por uma visitante celestial (Audrey Hepburn), seu espírito retorna à Terra para atuar como anjo da guarda e "inspirador" do piloto novato Ted (Brad Johnson), que se encanta por Dorinda da mesma forma que ele quando em vida.
Se o início do filme fosse um pouco mais bem acabado, talvez seu resultado não seria abaixo da expectativa para um tema tão propício a um cineasta como Steven Spielberg. Esta obra pode muito bem representar o motivo do diretor não ter mais se aventurado em histórias do tipo, cujo apelo junto às massas é praticamente garantido. A história de amor que rompe as fronteiras da vida e da morte, neste caso, não é tão dramática quanto a de Ghost, e neste ponto há de se admitir que o filme de Spielberg não faz concessões fáceis, apesar de momentos que beiram um excesso de sentimentalismo que foge do contexto. Isso ocorre, em parte, porque não existe uma caracterização forte o suficiente da paixão que deveria varrer o coração do personagem de Richard Dreyfuss. O que é uma pena, uma vez que o ator esbanja carisma como sempre mas não consegue, sozinho, dar credibilidade suficiente à "passagem do bastão" do objeto de sua eterna afeição para os braços de outro homem.
Os nós fracos do triângulo amoroso são, portanto, a mirrada Holly Hunter e o tal de Brad (quem?) Johnson. Jamais consegui gostar de Hunter como atriz, já que ela não se sobressai como deveria, e nem mesmo chega a ser bonita o suficiente para um papel como este. Já Brad Johnson é tão expressivo quanto um cupinzeiro perdido no meio de um pasto seco. Onde é que foram arranjar esse cara? E pensar que Tom Cruise recusou o papel... Talvez a inexpressividade de Johnson possa explicar o final meio forçado da história, que definitivamente teria rendido muito mais se tivesse se valido de um elenco mais carismático. A salvação é que, ao longo do filme, há várias passagens dignas da boa mão de Spielberg. A canção Smoke Gets in your Eyes, dos Platters, também é uma memória vívida trazida de volta graças à película. E, para deixar saudades, não se pode deixar de mencionar a delicada última participação da estrela Audrey Hepburn num trabalho de cinema.
Os extras do DVD se resumem a dois trailers do filme, notas de produção e biografias de Richard Dreyfuss, Holly Hunter, John Goodman, Audrey Hepburn e Steven Spielberg.
Texto postado por Kollision em 9/Agosto/2006