O Lobisomem (Joe Johnston, 2010)
Com: Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving, Geraldine Chaplin
Realizada há praticamente 70 anos, a primeira versão da história mais conhecida do lobisomem no cinema marcou época, transformou em astro um ator abaixo da média (Lon Chaney Jr.) e preencheu a imaginação de muitas gerações vindouras. Ensaiada já há alguns anos, a releitura que ganha vida pelas mãos do diretor Joe Johnston e pela pele de Benicio Del Toro – que, convenhamos, tem traços lupinos mesmo sem maquiagem na cara – atualiza e engrossa a história, os efeitos e a violência. A premissa clássica permanece: Larry Talbot (Del Toro) é o filho pródigo que retorna à propriedade da família na Inglaterra após o misterioso desaparecimento do irmão, reencontrando o pai que não via há anos (Anthony Hopkins) e a cunhada preocupada (Emily Blunt). A causa dos infortúnios locais não poderia ser outra senão os ataques de uma criatura infernal durante as noites de lua cheia. Como era esperado, Del Toro se entrega como pode ao papel, amparado pelos colegas de elenco. O único porém é Hugo Weaving que, como o policial encarregado de capturar o monstro, não consegue abandonar a carranca do agente Smith da série Matrix. O final é anunciado a léguas de distância, mas o valor do longa reside mais no teor de choque presente nos rompantes de violência e no excelente aspecto gótico do filme, adornado por uma trilha sonora claramente inspirada no trabalho de Wojciech Kilar para o Drácula de Francis Ford Coppola (1992). Por todo o esmero estético, O Lobisomem é sessão obrigatória para os fãs do gênero.
Contos do Dia das Bruxas (Michael Dougherty, 2008)
Com: Dylan Baker, Anna Paquin, Brian Cox, Samm Todd, Lauren Lee Smith
Se você está procurando um filme para exibir para uma turma numa comemoração de Halloween, seus problemas acabaram. Contos do Dia das Bruxas é a escolha perfeita para uma sessão de meia-noite: um longa redondinho, bem filmado e macabro na medida certa, cujo maior mérito é se sustentar na história sem abusar do sangue. O tom é episódico e acompanha personagens-chave em eventos que se passam numa única noite de dia das bruxas. Dylan Baker é um diretor de escola altamente psicopata, Anna Paquin é a virgenzinha vestida de Chapeuzinho Vermelho, Sam Todd é a garota vítima de um trote sombrio pregado por seus colegas e Brian Cox é o velho rabugento que não suporta a criançada batendo à sua porta pedindo doces. À espreita está sempre um garotinho estranho que anda pra lá e pra cá com uma máscara esquisita feita de saco de estopa. Protegido de Bryan Singer, o diretor Michael Dougherty concebe aqui um trabalho de estreia sólido, carregado de referências, onde nada é o que parece ser. Na minha opinião ele conseguiu capturar muito bem o espírito que cerca essa festividade tão alheia à realidade brasileira. Só é uma pena que o lançamento do filme nos cinemas tenha sido cancelado pelos executivos imbecis de sempre.
Animatrix (vários diretores, 2003)
Vozes: Kevin Michael Richardson, Pamela Adlon, Clayton Watson, Hedy Burress, Kath Soucie
Entusiasmados com o próprio universo que haviam criado e fanáticos por animação japonesa, or irmãos Wachowski bancaram essa peculiar coletânea de curtas-metragens baseadas na série Matrix, lançada praticamente ao mesmo tempo em que as duas partes finais da saga de Neo estreavam nos cinemas. Eis a sinopse básica de todos eles:
Alguns dos episódios se interconectam com eventos dos filmes, enquanto as passagens mais chocantes aparecem nos dois segmentos de O Segundo Renascer. O moleque do episódio Era uma Vez um Garoto é o mesmo moleque que paga um pau pra Neo e ajuda Mifune durante a batalha de Matrix Revolutions. Com um estilo de animação tão distinto entre um segmento e outro, o filme tem o mérito de jamais ficar maçante, apesar do ritmo cair um pouco em determinados trechos. O Voo Final de Osiris é visivelmente inspirado na versão cinematográfica feita em computador para Final Fantasy, mas o melhor episódio na minha opinião é Coração de Soldado, pela história. A técnica de animação de Além da Realidade é lindíssima, mas a narrativa nem tanto. O diretor mais conhecido pra mim é Peter Chung, que aqui aplica um pouco do estilo que ele aperfeiçora na série animada Aeon Flux, com belíssimos resultados.
Hoje a importância de Animatrix como um trabalho isolado parece ter diminuído. Porém, quando inserido na cronologia da trilogia que o inspirou, ele se torna sessão obrigatória.
Gradiva - C'est Gradiva qui vous appelle (Alain Robbe-Grillet, 2006)
Com: James Wilby, Arielle Dombasle, Dany Verissimo, Farid Chopel, Marie Espinosa
A.K.A. Gradiva — Eu jamais tinha ouvido falar de Alain Robbe-Grillet até este filme cair em minhas mãos, uma obra que por coincidência foi o última que ele realizou antes de sua morte. No Marrocos, pesquisador estrangeiro (James Wilby) elaborando um livro sobre o pintor Eugène Delacroix é atraído por uma mulher vestida de branco (Arielle Dombasle) para uma trama bizarra envolvendo desejo, assassinato e sonhos. Fragmentação narrativa, surrealismo e metalinguagem se misturam num mistério que se aprofunda tanto que em determinado momento fica difícil tentar acompanhar o raciocínio do diretor – como quando surgem indícios de que, ao invés de lidar com a realidade, a polícia na verdade "patrulha" os sonhos das pessoas. Para os aficcionados neste tipo de filme, Gradiva é prato cheio. As locações são utilizadas com bom gosto pela câmera de Robbe-Grillet, que tem ainda o bom senso de dotar seu filme de um erotismo abençoado pelo belo elenco feminino em cena. O maior destaque é com certeza Dany Verissimo, que como a empregada e amante do protagonista mostra uma sensibilidade ímpar diante de um destino que somente ela parece saber que os aguarda.
Danika (Ariel Vromen, 2006)
Com: Marisa Tomei, Craig Bierko, Regina Hall, Kyle Gallner, Nicki Prian
Danika começa muito bem como uma drama/thriller psicológico depois da cena em que a personagem-título (Marisa Tomei) alucina que o banco onde trabalha está sendo brutalmente assaltado. Casada e mãe de três filhos, ela cede à pressão pela qual está passando e passa a ficar em casa cuidando deles em tempo integral. As visões, porém, não param de acontecer, e de forma cada vez mais perturbadora. À medida em que a história se aprofunda ela se transforma num quebra-cabeças de estilo bem lynchiano, pois fica bem claro que algo está muito errado com a dona. Às vezes parece que o longa vai enveredar por uma linha sobrenatural, mas ele jamais o faz, e o roteiro trata de dar uma explicação (nada explícita) para isso em seu desfecho. O mérito de Danika é prover material para pensar e discutir sem ser injusto com a plateia, um pecado cometido por muitos longas que ousaram trilhar o mesmo caminho. Quanto mais eu penso sobre o que de fato acontece na história, por exemplo, mais eu gosto do filme. Craig Bierko, no papel do marido, quase estraga a festa, mas Marisa Tomei segura as pontas com uma atuação ótima.
Veerana (Shyam Ramsay e Tulsi Ramsay, 1988)
Com: Jasmin, Hemant Birje, Sahila Chaddha, Vijayendra Ghatge, Rajesh Vivek
A.K.A. Veerana - Vengeance of the Vampire — Quando uma bruxa-monstro assassina é capturada e finalmente morta por um corajoso galã local (Vijayendra Ghatge), um feiticeiro malvado (Rajesh Vivek) o atrai para uma armadilha e joga uma maldição em sua sobrinha, envolvendo a possessão de seu corpo pelo espírito da bruxa. O feiticeiro se infiltra na família da moça, que já adulta (Jasmin) passa a praticar os mesmos atos hediondos cometidos antigamente pela criatura dos infernos. Esta é a história básica de Veerana, mais um terror formulaico de Bollywood com direito a toda a mistura típica de maquiagem escabrosa, humor e dança. A seu favor conta o fato da dupla de atrizes em cena ser mais bonita que o habitual, em especial Sahila Chaddha, que faz a espevitada e quase irritante prima da protagonista. A maquiagem da mulher-monstro é um achado, e chama a atenção pelo aspecto excessivamente grotesco, quase chegando ao nível de espanto provocado pela imbatível maquiagem de Amanda Bearse em sua forma vampírica no neo-clássico A Hora do Espanto. Movimentada, a meia hora final de Veerana compensa o potencial tédio provocado pela extensa duração do filme. É hilário notar como Sahila Chaddha se limita a fazer cara de espanto entre uma cena e outra enquanto seus companheiros se debatem com os monstros. E não percam a curtíssima e bizarra cena que mostra um cachorro com cabeça de homem, digna de inspirar pesadelos! A tradução literal de "veerana" é algo como "o local solitário", uma alusão ao modus operandi da moça amaldiçoada, que apesar do título americanizado do filme não tem nada de vampira.
Divagações postadas por Edward de 27-FEV a 2-MAR de 2010