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Filmes Vistos em Dezembro - Parte 1

Dia da Mentira (Mitchell Altieri e Phil Flores, 2008) 3/10

Com: Taylor Cole, Josh Henderson, Joe Egender, Jennifer Siebel Newsom, Scout Taylor-Compton

Pelo título brasileiro do filme não é óbvio, mas do título original sabe-se que esta é uma refilmagem livre do ótimo A Noite das Brincadeiras Mortais, um clássico perdido dos anos 80. Só não sei o motivo do desleixo na nova versão, que fica a léguas da qualidade do original. Quem já viu vai saber de cara o mistério por trás dos eventos da nova história, atualizada para um grupo de riquinhos mimados liderado por dois irmãos inspirados não oficialmente na dupla devassa de Segundas Intenções. Um acidente numa brincadeira de 1º de Abril acaba matando uma garota. Exatamente um ano depois, cada um dos envolvidos é assassinado em circunstâncias misteriosas, aumentando o desespero de quem vai ficando por último na fila de degola. Dia da Mentira tenta ir um pouco além de sua fonte de inspiração original, mas passa do ponto no humor negro e não convence. O que mata o filme, na verdade, é o roteiro repleto de situações imbecis, como a dos irmãos cínicos e irresponsáveis que de repente criam uma "alma" e passam a carregar o cachorro do fofoqueiro morto a tira-colo. Nem é possível reclamar tanto do desempenho do elenco, que fica na média para as obras do tipo e traz uma protagonista (Taylor Cole) que lembra bastante uma versão morena e fatal de Charlize Theron.

Substitutos (Jonathan Mostow, 2009) 8/10

Com: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, Boris Kodjoe, Ving Rhames

A imersão virtual é uma realidade preocupante hoje em dia. O universo de Substitutos é baseado nessa tendência, onde num futuro não muito distante os avanços da robótica permitem que as pessoas fiquem em casa e passem a viver no mundo real através de andróides virtualmente perfeitos. Benefícios como o aumento da segurança e a incrível redução na taxa de criminalidade convencem praticamente toda a população a abraçar a nova realidade, mas há aqueles que se recusam e passam a viver em áreas delimitadas. Quando dois robôs são "assassinados" juntamente com os humanos que os controlam, o que representa um perigo impensável à segurança dos usuários, dois policiais (Bruce Willis e Radha Mitchell) iniciam uma investigação que ameaça tanto os responsáveis pela tecnologia quanto aqueles que se opõem a ela.

Substitutos (baseado em material de HQ) é uma ficção científica estilosa e bem-feita, cujo único pecado é não dar tempo suficiente para uma melhor caracterização de personagens, apressando passagens que poderiam ter sido melhor concatenadas. O cuidado técnico com os efeitos e a maquiagem é excelente, pois é perfeitamente possível dizer quem é um andróide e quem não é sem que o filme os exponha, enquanto a excruciante trajetória do policial feito por Bruce Willis reflete e escancara não só o vício tecnológico a que algumas pessoas são submetidas como também a perda gradual dos valores mais básicos da convivência humana, soterrados pela rotina estressante do dia-a-dia globalizado. Jonathan Mostow é um diretor que aparentemente adora elaborar cenas de ação cruas em cenários urbanos, imprimindo no filme uma relação razoável entre provocação e adrenalina.

Amaldiçoada (Alan Pao, 2008) 3/10

Com: Susan Ward, Corey Large, Costas Mandylor, Tom Sizemore, Dominique Swain

Colcha de retalhos com alto potencial de indigestão, esse Amaldiçoada nunca sabe para onde vai em sua hora e meia de duração. O estilão é de thriller, mas logo de cara uma longa e tarantinesca sequência praticamente nos faz esquecer do tema, que começa sendo narrado em primeira pessoa pela tal "amaldiçoada" da trama, uma garota que aparentemente é a conexão entre duas linhas narrativas: numa delas um chefão da máfia (Tom Sizemore) paga dois capangas para encontrar a filha desaparecida, e na outra um grupo de pessoas vive uma rotina sem muitas emoções num bordel comandado por Costas Mandylor (o segundo vilão da série Jogos Mortais). A garçonete do lugar (Susan Ward) e o recém-contratado barman (Corey Large) logo tomam as rédeas da história, que deixa de lado o tal mistério sobre a maldição da garota perdida, esquece completamente a narração em primeira pessoa e enverada por uma empreitada lynchiana bem sem-vergonha. Se não fosse pelo excesso extremamente irritante de efeitos e maneirismos de câmera talvez o resultado atingisse a linha do decente, mas parece que o diretor estava mais interessado em mostrar como é super-ultra-nerd-cool. O trabalho de edição é um desastre, e a oferta de nudez feita pela capa do DVD é pura enganação. A melhor coisa do filme é a boa interpretação de Susan Ward. E o final quase - quase! - consegue remendar a merda, mas a atmosfera de pastiche de garagem feito com sobras de elenco pornô (até Ron Jeremy faz uma ponta) é forte demais para ser sobrepujada. O mais triste para mim foi constatar que o mendigo que aparece no beco é ninguém menos que C. Thomas Howell, herói adolescente de outrora que hoje em dia vive rebaixado a papéis hediondos como esse.

Bandh Darwaza (Shyam Ramsay e Tulsi Ramsay, 1990) 1/10

Com: Hashmat Khan, Manjeet Kullar, Kunika Lal, Ajay Agarwal, Beena Banerjee

De todas as vertentes que eu já vi no cinema relacionadas a características culturais, nenhuma é mais anômala que aquela que vem de Bollywood/Lollywood, a meca do cinema indiano/paquistanês. Não rejeito filme algum que esteja ao meu alcance (com raras e óbvias exceções), por isso me dispus a conhecer o tal cinema de horror feito na terra de Dhalsim, começando por Bandh Darwaza - mais uma das inúmeras releituras do conto de Drácula. Com certeza não se trata de escolha de estilo o fato da palavra "vampire" não ser pronunciada uma única vez durante as duas horas e meia (!) de filme. Pode ter sido censura, sabe-se lá, a mesma censura que não permite cenas com beijos. Quando os atores estão prestes a consumar o ato, não importa se eles estão no meio da ação ou numa das várias cenas musicais, lá vem um corte ou um enquadramento intrusivo. Bandh Darwaza foi realizado já na reta final da onda de filmes de terror que varreu a Índia na segunda metade dos anos 80, e começa bem ao estabelecer o drama de uma moça (Kunika Lal) que é concebida por influência do vampirão (Ajay Agarwal) e anos mais tarde é requisitada para as hordas do mal. Macarrônica como as novelas mais macarrônicas já vistas, a trama incorpora também o interesse amoroso da donzela (Hashmat Khan), sua concorrente direta na disputa pelo cara (Manjeet Kullar) e muita, muita enrolação por mais de duas horas intermináveis em que a história fica girando em círculos. Existe uma centelha de vida somente quando o comediante Johnny Lever está em cena, mas ele logo desaparece para não mais voltar. Valorização cultural sim, mas apologia à pobreza narrativa e ao plágio descarado não - existem créditos para a trilha sonora, mas praticamente toda ela é chupada descaradamente da série Sexta-feira 13. Ruim, muito ruim. E não existe nada que me faça tolerar as cenas de dança e música num filme de horror. Como curiosidade, o símbolo religioso hindu que é usado para espantar o vampiro chama-se Omh (ou Aum), mas há também uma breve sequência em que ele é enxotado do caixão por um crucifixo e por uma cópia do alcorão.

O Mestre dos Desejos (Robert Kurtzman, 1997) 6/10

Com: Tammy Lauren, Andrew Divoff, Robert Englund, Chris Lemmon, Wendy Benson-Landes

Olhem só, O Mestre dos Desejos é menos ruim do que eu me lembrava! Se não fosse por Tammy Lauren, uma das protagonistas mais sem sal que eu já vi na vida (além de anoréxica), o filme teria até algum valor cult. Além do desfile de ícones do horror norte-americano contemporâneo, há um punhado de boas passagens com gore e razoável nível de bizarrice (a cena na delegacia, em que um bandidinho mequetrefe é possuído e mata meio mundo, é um grande achado). O tal mestre dos desejos é na verdade um tal de djinn (Andrew Divoff), personificação maléfica do mito do gênio da lâmpada. Quando o monstro é acidentalmente liberado da joia que o contém por uma garota boba (Lauren), ele começa a coletar "desejos" para ficar mais forte e mais tarde satisfazer três pedidos de sua libertadora, abrindo assim o portal entre sua decrépita dimensão e a Terra. O detalhe é que o "mestre" distorce os desejos das pessoas a seu bel-prazer, sempre de forma imprevisível e mortal. Uma produção mais caprichada teria feito bem ao filme, pois certos efeitos especiais são bem ruins, o que obriga Andrew Divoff a carregar o longa nas costas com sua sinistra performance. O final tosco joga o filme lá pra baixo, mas os fãs do gênero ficarão contentes com o elenco - atenção para Kane Hodder (o rosto real de Jason em vários episódios de Sexta-feira 13) como o guarda de um prédio, Tony Todd (Candyman) como um porteiro de festa e Robert Englund (Freddy Krueger) como um ambicioso colecionador de arte.

Lua Nova (Chris Weitz, 2009) 3/10

Com: Kristen Stewart, Taylor Lautner, Robert Pattinson, Billy Burke, Ashley Greene

Se a prosa de Stephenie Meyer for tão narrativamente pobre quanto é Lua Nova, o filme, algo muito errado está acontecendo na tal da literatura infanto-juvenil. E Chris Weitz decepciona completamente ao dar uma de Chris Columbus em suas fracas tentativas de recriar Harry Potter no cinema. Em Crepúsculo havia ao menos um ar de novidade pegajosa, numa promessa que definitivamente não se paga na continuação, uma longa, triste e vazia demonstração de falta de criatividade crônica, com personagens cujo carisma é insuficiente para carregar o filme. Abandonada pelo transtornado vampiro Edward (Robert Pattinson), a jovem Bella (Kristen Stewart) lança-se numa campanha de auto-piedade crônica e encontra consolo nos braços do amigo Jacob (Taylor Lautner), que mais tarde se revela um homem-lobo (não lobisomem, pois lobisomem não se transforma à luz do dia quando bem entende). Por uma idiotice do destino, Edward pensa que Bella morreu e tenta cometer suicídio na corte de um vampiro-mor italiano (Michael Sheen). A primeira metade do filme gira em círculos e as atitudes da mocinha são irritantes além do ridículo, enquanto a segunda metade é apressada, mal-explicada e força cenas de ação que não levam a história a lugar algum. Não existe coesão entre os vários elementos isolados da trama, que termina praticamente como começou e não cria expectativa para a inevitável terceira parte. Uma verdadeira pena.

2012 (Roland Emmerich, 2009) 7/10

Com: John Cusack, Chiwetel Ejiofor, Amanda Peet, Oliver Platt, Thomas McCarthy

Pegando carona em lendas e especulações mitológicas, Roland Emmerich as mistura com umas patacoadas científicas absurdas e retorna com a ideia de que o mundo vai acabar em Dezembro do ano de 2012. A catástrofe é alardeada por um geólogo norte-americano (Chiwetel Ejiofor), e os líderes mundiais têm então dois anos para se prepararem. Às vésperas do desastre, a história passa a se concentrar na luta da família do escritor fracassado Jackson (John Cusack) em sua tentativa desesperada de sobreviver à destruição. Isso é tudo o que basta saber para desfrutar o que é provavelmente o mais ambicioso (tecnicamente falando) filme-catástrofe que eu já vi - com direito a todos os absurdos físicos esperados, diálogos que nem sempre soam plausíveis e efeitos especiais de cair o queixo. 2012 agrada em cheio a quem curte escapismo sem amarras de lógica, contando com uma aura épica, muitos momentos de suspense e um ou dois discursos que tentam enaltecer o espírito humano em meio à selvageria que tal tema pode suscitar. Com exceção do cara apático que faz o papel do novo marido de Amanda Peet (Thomas McCarthy), o elenco faz o dever de casa e ajuda a história a se desenvolver com um mínimo de dignidade. É difícil imaginar o que poderia suplantar o escopo visto em 2012, e já que Emmerich declarou que este é seu último filme-catástrofe os descontentes podem ficar tranquilos por um bom tempo enquanto continuam sua busca doentia por profundidade dramática em longas de ficção científica cujo único propósito é entreter sem compromisso.

Divagações postadas por Edward de 14 a 19 de Dezembro de 2009