Infelizmente, essa é a verdade.
Sentei-me aqui para começar a catalogar as fotos de viagem (apagar as ruins, nomear as boas, etc.), e peguei-me pensando no que passei durante o dia de hoje. E eu percebi que TINHA que desabafar um pouco antes de retornar aos afazeres de viajante.
Imaginem só minha condição mental: acabei de tomar um chá de civilização, ou seja, passei vários dias sozinho, imerso na cultura de alguns dos países de primeiro mundo de melhor condição econômica e social da face da Terra. Ontem foi o dia em que retornei ao Brasil, minha terra natal e o país que amo. Escrevendo isso lembro-me do Sr. Klausend, um velhinho simpático com o qual conversei por cerca de uma hora num dos bancos do píer de Oslo. A certa altura, eu lhe disse exatamente estas palavras: "Despite all the problems we have at home, I still love my country".
É engraçado como às vezes nossas convicções são postas em xeque, mas nesse caso particular os opostos são muito dissonantes.
No começo da tarde tive que comparecer ao aeroporto para emitir a carteira de vacinação internacional para registro de minha conformidade com o calendário de imunidade contra febre amarela. E lá vou eu, cumprir uma mini-maratona que me levou ao "Postão", que é o nome popular dado ao posto de saúde mais famoso de Várzea Grande. Estamos no Brasil, minha gente, portanto todos sabem como funciona o sistema de saúde pública em nosso país. Neste caso, além das instalações altamente precárias, eu e algumas pessoas que esperávamos na fila de informações do posto fomos presenteados com uma atendente tão rude que o cara à minha esquerda simplesmente não resistiu e tentou passar umas orientações à mulher sobre como tratar pessoas. A dona ficava a mais de meio metro do vidro (o que tornava difícil ouvi-la), respondia às perguntas com uma descomunal cara de desgosto e fornecia as informações como se estivesse lidando com cães sarnentos. Não quero entrar no mérito das condições salariais de quem trabalha na saúde pública, mas esta situação representa para mim a cereja no topo de um bolo de mediocridade social que, infelizmente, é a regra, e não a exceção dentro da máquina pública brasileira.
E o dia continuou. Depois tive que ir à Anvisa emitir a carteirinha internacional, o que transcorreu sem traumas, pelo menos. Encaminhei a documentação e percebi que ainda tinha tempo e ânimo para ir ao shopping pegar uma sessão de Transformers - A Vingança dos Derrotados.
Tomei um café naquela agradável área da escada rolante e assisti ao filme (oh yes, muita ação histérica e descerebrada). No final da projeção, acendem-se as luzes e levantam-se os espectadores para deixar a sala. Desta vez decidi sentar-me bem ao fundo, dado o escopo das cenas que Michael Bay enquadra em suas câmeras e também o tamanho da tela da sala 7 do Multiplex Pantanal. O que vejo então enquanto caminho para a saída? Pacotes e pacotes de pipoca abandonados, pipoca derramada sobre as poltronas, e latas e latas de refrigerante abandonadas.
Caramba, quem estava ali provavelmente tinha algum mínimo grau de instrução, algum mínimo de condição social e econômica. Ninguém estava vestido como mendigo ou parecia ter necessidades especiais. O que custava para cada um pegar as próprias tralhas e levá-las ao receptáculo de lixo situado alguns metros adiante? O que se via era o resultado de falta de educação pura, um amálgama inquebrável de deficiência de educação de berço e de uma cultura tristemente enraizada. Em minha mente, quem acabava de abandonar aquele lugar integra uma vara egressa de um chiqueiro humano ao qual, infelizmente, estou associado por ter nascido em "berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo".
Para se ter uma ideia do contraste, nos lugares da Europa que visitei nos últimos dias as pessoas comem onde querem, nas ruas ou nos parques (principalmente). Cada um faz a sua sujeirinha, e cada um a limpa devidamente antes de ir embora. Em sua esmagadora maioria, as pessoas te tratam com educação, especialmente se elas estão atrás de um balcão prestando algum serviço.
Como eu disse, eu precisava desabafar.
Espero, sinceramente, que algum dia a situação em nosso país mude. Eu faço a minha parte, e espero que você que esteja lendo também faça a sua. Se você é pai, tio ou avô, dê o exemplo correto aos seus filhos, sobrinhos ou netos. É algo que não custa muito e com certeza ajudará a melhorar a cultura daqueles que nos cercam e, quem sabe algum dia, fará com que os brasileiros sejam reconhecidos pelo resto do mundo não somente como receptivos, solidários ou extrovertidos, mas também como um povo educado, que respeita o próximo e se apresenta como uma nação digna de integrar o grupo dos países que se dizem de primeiro mundo.
Texto postado por Edward em 1 de Julho de 2009