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Filmes Vistos em Agosto - Parte 1

Penélope (Mark Palansky, 2006) 7/10

Com: Christina Ricci, James McAvoy, Catherine O'Hara, Peter Dinklage, Reese Witherspoon

Por causa de uma malvadeza sem sentido, uma família do século 19 é amaldiçoada por uma bruxa com uma praga peculiar: a próxima menina a nascer em seu meio terá rosto de porco. Por ironia do destino, todos os novos rebentos são homens, até a chegada, nos dias atuais, da adorável e sensível Penélope (Christina Ricci). Uma aberração da natureza, ela é escondida pelos pais até a idade adulta, quando a quebra da maldição passa a ser possível por meio do casamento da moça. O problema é que todos os pretendentes fogem em desespero ao mero vislumbre do rosto de Penélope, até a chegada de um improvável e largado candidato (James McAvoy). Tirando o fato de Christina Ricci carregar este conto de fadas às avessas nas costas, até que o filme é divertido. Ele chega a conter, em certos momentos, um lirismo e cenografia cínicos que poderiam muito bem ter saído da mente de Tim Burton. A produção é de ninguém menos que Reese Witherspoon, que também tem um papel pequeno na história.

Arquivo X - Eu Quero Acreditar (Chris Carter, 2008) 8/10

Com: David Duchovny, Gillian Anderson, Amanda Peet, Billy Connolly, Mitch Pileggi

É fato que os personagens de uma série de incrível sucesso invariavelmente acabam se convertendo em imagens indissociáveis do programa ao qual pertencem. Arquivo X - Eu Quero Acreditar é um filme que exemplifica isso de forma exemplar, ao contar com um roteiro construído de forma sólida sobre tudo o que Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) representam, como ex-parceiros do FBI e inteligências complementares na resolução de mistérios que carregam um toque de sobrenatural. Um dos grandes acertos do filme é ser fiel às suas origens, sem no entanto se prender ao passado. Mulder começa como um recluso se escondendo das autoridades, enquanto Scully segue sua carreira como médica. Ambos são tirados de suas rotinas quando uma agente do FBI (Amanda Peet) solicita a ajuda de Mulder para encontrar outra agente desaparecida, cuja única esperança está nas mãos de um padre vidente condenado por pedofilia (Billy Connolly).

Com uma abordagem radicalmente diferente do primeiro longa para o cinema, esta continuação é no entanto superior, pela maior facilidade de assimilação por parte da platéia, pelos subtextos envolvidos e pela maturidade demonstrada por seus protagonistas. Por um determinado momento parece que o mistério suscitado vai enveredar por uma trama banal, mas logo depois a bizarrice típica dos melhores episódios da série volta a se instalar na história. Anderson e Duchovny estão em ótima forma, especialmente Anderson, que demonstra em vários momentos que é, de fato, boa atriz.

Imperdível para os antigos fãs, o longa também é altamente recomendado para quem nunca pôs os olhos na série e não deixa passar um trabalho com tema sombrio. Para falar a verdade, ele chega a lembrar de forma absolutamente elogiosa O Silêncio dos Inocentes (Jonathan Demme, 1990). E isso não é dizer pouco.

Jogos Mortais III (Darren Lynn Bousman, 2006) 6/10

Com: Tobin Bell, Shawnee Smith, Bahar Soomekh, Angus Macfadyen, Donnie Wahlberg

A intenção era rever esta terceira parte logo após a sessão dupla que fizemos em Dezembro do ano passado (!). Bem, podemos tardar, mas falhar jamais! Uma das coisas que confirmei ao rever este episódio da já emblemática série de quebra-cabeças torture porn foi o grande salto no nível de sangue, que faz desta terceira parte provavelmente a mais pesada dos quatro primeiros longas (o quinto filme já está engatilhado para estrear em Outubro deste ano). Importante também é como pequenos trechos de Jogos Mortais III se entrelaçam com Jogos Mortais IV. Então nem preciso dizer (de novo) quão importante deve ser assistir a tudo sem muita demora, não é mesmo?

O Auto da Compadecida (Guel Arraes, 2000) 6/10

Com: Matheus Nachtergaele, Selton Mello, Rogério Cardoso, Denise Fraga, Marco Nanini

Partindo do estrondoso sucesso da série feita para a televisão, filmada em película e originalmente dividida em quatro capítulos, o diretor Guel Arraes aceitou o desafio de condensar o material concebido para lançá-lo como um longa-metragem nos cinemas. É sabido que o sucesso se repetiu na tela grande, mas a que custo, para aqueles que tiveram a chance de assistir à série completa? Não quero dizer que a versão para o cinema esteja truncada de forma destrutiva, mas percebe-se que certas caracterizações, como a do padeiro avarento (Diogo Vilela), acabaram sofrendo com os cortes. Mas é a verborragia excessiva, herança da prosa teatral da obra original, a principal fonte de bloqueio para quem não tem familiaridade com a realidade e o humor nordestinos. Acaba não sendo muito fácil, à primeira vista, captar todas as nuances das traquinagens de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello) em sua luta pela sobrevivência no agreste da primeira metade do século 20. Para quem consegue assimilar o estilo, garanto que estão reservadas várias passagens hilárias.

Di yu wu men (Tsui Hark, 1980) 5/10

Com: Norman Chu, Kwok-choi Han, Eddy Ko, Melvin Wong, Michelle Mee

A.K.A. We're Going to Eat You — Pode até ser difícil para o espectador regular assistir aos seus filmes, mas para muita gente o nome Tsui Hark não é estranho. Mais conhecido por seus trabalhos em pastiches de artes marciais, até quem tem familiaridade com o diretor talvez nunca tenha posto os olhos nessa bizarrice que atende pelo nome ocidental de We're Going to Eat You. Não é preciso dizer que as seqüências de luta continuam lá, mas aqui elas dividem o espaço com uma aldeia de canibais liderada por um delegado psicótico (Eddy Ko) que se torna o alvo das investigações do agente 999 (Norman Chu) em sua busca por um bandido local. Correndo por fora está um larápio sem-vergonha (Kwok-choi Han) que não sabe se ajuda ou atrapalha o herói do filme. A comédia é exagerada, carregada de caras e bocas, e as passagens com gore espantam pelo nível de crueza. Um filme doentio, sim senhor, cuja excentricidade mórbida o desclassifica como uma pura comédia de horror sem contra-indicações.

Garotas Selvagens (John McNaughton, 1998) 6/10

Com: Matt Dillon, Kevin Bacon, Neve Campbell, Denise Richards, Bill Murray

A vida de um professor de ginásio (Matt Dillon) leva um baque quando uma de suas alunas avançadinhas (Denise Richards) subitamente o acusa de estupro. Segue-se mais uma acusação de outra ex-aluna drogada (Neve Campbell), e a merda vai para o ventilador de vez. Um policial (Kevin Bacon) acompanha o caso de perto, numa série de eventos que não são bem o que parecem. Tal qual o contemporâneo Lenda Urbana, Garotas Selvagens rendeu mais duas continuações, sendo que ambos caem na vala dos suspenses redondinhos cuspidos por Hollywood durante as entresafras do gênero. Neste aqui, o jogo de gato e rato entregue de bandeja já no trailer é facilmente previsível, apesar de bem engendrado. As famosas cenas tórridas entre o elenco principal nem são tão tórridas assim, mas pelo menos servem para desmistificar a imagem supervalorizada de Denise Richards. O resto é material de primeira – para um Super Cine de uma noite remelenta de Sábado.

A Múmia - Tumba do Imperador Dragão (Rob Cohen, 2008) 4/10

Com: Brendan Fraser, Maria Bello, Jet Li, Michelle Yeoh, Luke Ford

Filmes feitos com espírito de Sessão da Tarde não precisam ser necessariamente bobos como a abominação chamada A Múmia, dirigida por Stephen Sommers em 1999. Nem cheguei a assistir à primeira continuação, de tão desanimado. Eis que chega o mercenário Rob Cohen, um diretor que pelo menos tem demonstrado mais competência que a média em matéria de filmes para as massas, e se converteu no motivo que me tirou do torpor para ir assistir a essa nova aventura do clone de Indiana Jones feito por Brendan Fraser. Aqui o personagem começa aposentado da ação, ao lado da esposa (Maria Bello). Uma última missão os leva à China, de encontro ao filho já adulto (Luke Ford) e às voltas com a ameaça de um imperador sanguinário (Jet Li) que retorna à vida graças a um artefato mágico.

Rasteiro e carregado de seqüências de ação impossíveis, desta vez o roteiro não se mostra tão atroz quanto o do filme original. A decepção no elenco é Maria Bello, cuja caracterização forçada não a deixa imprimir sua própria marca e nem de perto consegue fazê-la lembrar Rachel Weisz. John Hannah continua sendo o palhaço que ninguém sabe porque continua no meio da ação. Enfim, se o que você procura é diversão vazia sem necessidade de cérebro...

Divagações postadas por Kollision de 15 a 23 de Agosto de 2008