Furyô Anego Den - Inoshika Ochô (Norifumi Suzuki, 1973)
Com: Reiko Ike, Christina Lindberg, Akemi Negishi, Ryôko Ema, Yôko Hori
A.K.A. Sex & Fury – No início do século XX, o Japão vivia um momento de transição, em que a ideologia samurai dos séculos anteriores era substituída pelo modernismo ocidentalizado. Neste cenário, a jovem jogadora e espadachim Ochô Inoshika (Reiko Ike) jamais deixou de ansiar por uma vingança contra aqueles que assassinaram covardemente seu pai. A oportunidade vem quando ela cruza o caminho de um rebelde samurai em sua luta contra a nova ordem policial, e mais tarde com uma jogadora e espiã ocidental de interesses misteriosos (Christina Lindberg, a musa cult de Anita - Ur en Tonårsflickas Dagbok).
Com sua mistura explosiva de violência, nudez e erotismo, este é sem dúvida alguma um dos melhores exemplares da vertente do pink violence e do sexploitation. Se isso não é suficiente para agradar aos fãs do cinema obscuro, vou mais além e atesto outra característica que distingue este excelente filme de seus pares: a beleza da cinematografia e a técnica do diretor Norifumi Suzuki, muitos anos à frente de seu tempo. Intercaladas na narrativa estão cenas de apuro plástico imbatível, como a luta da anti-heroína nua sob a neve contra um batalhão de inimigos, e outras de puro deleite erótico, onde Christina Lindberg é colocada num pedestal e explorada em seqüências de muito bom gosto. Para os familiarizados com o cinema do diretor Suzuki, vale lembrar que os demais ingredientes que fazem parte de seu portfolio estão devidamente representados: violência, tortura, chicotes, mulheres acorrentadas, lesbianismo, e por aí vai.
O filme é tão bom que até mesmo a esperada narrativa folhetinesca desta vez consegue trazer reviravoltas interessantes, apesar de usar de subterfúgios baratos para seguir adiante, jogar um romance açucarado no meio da balbúrdia e não deixar de lado o típico humor nipônico. Lindberg é a mais canastra do elenco, com seu japonês decorado e seu inglês carregado de sotaque, mas compensa tudo – e como compensa! – com uma desinibição que só não é mais explícita por causa do rígido código de censura japonês. Quanto a Reiko Ike, uma das principais atrizes do gênero, acredito que este seja um dos melhores trabalhos de sua carreira.
Sex & Fury é bombástico, imperdível e essencial para quem deseja conhecer o melhor do que já foi feito no cinema underground de qualquer época ou de qualquer gênero.
O Diabo Veste Prada (David Frankel, 2006)
Com: Meryl Streep, Anne Hathaway, Emily Blunt, Stanley Tucci, Simon Baker
Como se já não bastassem todos os prêmios agraciados numa carreira praticamente irretocável, Meryl Streep dá o ar de sua graça nesta comédia e mais uma vez demonstra uma versatilidade assombrosa, agora como uma megera que comanda a revista mais importante do mundo da moda e atormenta a vida de Anne “diário da princesa” Hathaway. Extremamente bem acabado e caracterizado, O Diabo Veste Prada chega até mesmo a imprimir um certo grau de profundidade nessa baboseira multi-milionária de desfiles, gente afetada e roupas que ninguém usa (se bem que estas foram sabiamente retiradas do filme). O longa vale por Meryl e pela bela e ainda subestimada Hathaway.
A Conquista da Honra (Clint Eastwood, 2006)
Com: Ryan Phillippe, Adam Beach, Jesse Bradford, Barry Pepper, John Benjamin Hickey
Para um primeiro esforço de Clint Eastwood num gênero antes estranho para ele, A Conquista da Honra é decente. Tecnicamente excelente, a história no entanto não se decide entre um drama intimista e a representação da guerra em sua forma mais crua. Talvez vendo a obra sob o prisma de uma biografia – cujo alcance se estende além do personagem principal e se insere de forma indelével na atual cultura norte-americana – pode-se afinal encontrar uma unidade para o filme, mas é uma pena que o desempenho do elenco (Ryan Phillipe principalmente) não agrade como deveria. Outra observação meio sem importância é que o genérico título brasileiro não faz jus ao material original, podendo conduzir a inúmeras interpretações sobre o cerne dramático da história.
Jogos do Poder (Mike Nichols, 2007)
Com: Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Emily Blunt
No todo, este é um episódio completo dos bastidores da política externa norte-americana nos anos 80, cujas conseqüências sobre o Afeganistão e o mundo como ele é hoje ainda podem ser dolorosamente sentidas. O modo como Mike Nichols caracteriza seu protagonista (Tom Hanks), um congressista americano bon-vivant genuinamente interessado no bem-estar dos afegãos contra o massacre levado a cabo pelos russos, é mais cômico que trágico, mas não de uma forma que exalte gargalhadas. De fato, a impressão que tive é que tudo é muito verborrágico, parece que o elenco não pára de falar um instante sequer! A ponte estratégica existente entre as decisões de gabinete e as conseqüências no campo de batalha é mais bem representada que a influência de alguns personagens periféricos sobre o tema, em especial a figura enigmática feita por Julia Roberts. Morno e sem grandes momentos, o filme tem como um de seus maiores atrativos plásticos a equipe de apoio do congressista, formada somente por mulheres gatíssimas, e também a aparição rápida e arrasadora de Emily Blunt como uma das conquistas amorosas de Tom Hanks.
Yasagure Anego Den - Sôkatsu Rinchi (Teruo Ishii, 1973)
Com: Reiko Ike, Tatsuo Endo, Tarô Bonten, Makoto Ashikawa, Akira Oizumi
A.K.A. Female Yakuza Tale - Inquisition & Torture – A desgarrada Ochô está de volta para mais do mesmo pandemônio violento-erótico visto em Sex & Fury (título internacional). Ignorando qualquer má interpretação projetada pelo final surreal do primeiro filme, a moça retorna para se fixar numa nova vizinhança, mas logo é arrastada para um conflito que envolve o assassinato grotesco de mulheres, um grupo de tarados que as violenta e um clã mafioso traficante. Há uma conexão em meio a toda a bagunça, que é tão cômica quanto desleixada. Teruo Ishii joga muito de sua conhecida bizarrice na história, mas não se preocupa em impôr um senso de estilo tão apurado quanto o de Norifumi Suzuki. A nudez vai além dos limites do gratuito, e nem de perto lembra o tom refinado de Sex & Fury, definitivamente o melhor dos dois.
De Volta para o Futuro III (Robert Zemeckis, 1990)
Com: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Mary Steenburgen, Thomas F. Wilson, Lea Thompson
Fato: a terceira parte de uma das melhorias trilogias já feitas no cinema está no mesmo nível da primeira. Ao contrário do que aconteceu com De Volta para o Futuro II, que exagerou no uso de efeitos especiais e nas idas e vindas no tempo, neste é novamente a história – e os personagens – que ditam o andamento da narrativa, sempre de forma descomplicada e divertida. Com o cientista amalucado Emmet Brown (Christopher Lloyd) preso no passado, Marty (Michael J. Fox) dá um jeito de ir até ele para evitar que uma tragédia se abata sobre o amigo. Eles têm que lidar com seus parentes e inimigos em pleno velho oeste, ao mesmo tempo em que precisam dar um jeito de voltar à linha temporal correta.
Transformar Christopher Lloyd no pivô da história, inclusive dando-lhe um interesse amoroso na figura de Clara (Mary Steenburgen) foi uma sacada genial por parte dos roteiristas. Cinéfilos de carteirinha se esbaldarão com o número de referências à própria série e a outros filmes, como Taxi Driver (!) e os faroestes de Sergio Leone e Clint Eastwood. O longa termina em grande estilo, fecha com chave de ouro a trilogia e deixa saudades de uma época em que a ficção científica não se resumia a heróis futuristas, excesso de efeitos especiais e destruição em massa.
Medo em Cherry Falls (Geoffrey Wright, 2000)
Com: Brittany Murphy, Michael Biehn, Jay Mohr, Gabriel Mann, Candy Clark
Há um encanto estranho que paira sobre essa bobagem whodunnit, que já me levou a assisti-la nada menos que três vezes. Será a mistura bizarra de humor negro e a cara de sério que Michael Biehn consegue manter durante todo o filme, ou seria a cara de pata tristonha de Brittany Murphy? Ou ainda a deliciosa bizarrice que irrompe na parte final da história, quando a revelação final é apresentada à platéia? Provavelmente uma combinação de tudo isso, descartando a óbvia picaretagem do todo, um par de diálogos assombrosos e a redenção pela qual alguns dos personagens passam. Fico pensando no que poderia ter sido feito com o material caso ele caísse nas mãos de um diretor mais tarimbado e ganhasse uma produção mais caprichada, já que o ponto de partida do roteiro não é de todo ruim. Do jeito que ficou, há pelo menos que se dar algum crédito ao grau de diversão obtido, diretamente proporcional à pagação de mico de todo o elenco.
Só faltou mesmo a quebra da censura, que não permitiu nenhuma nudez das moças que se lançam numa campanha de perda da virgindade quando um assassino misterioso passa a chacinar todas as virgens da cidade de Cherry Falls. No centro do drama está a virgenzinha feita por Brittany Murphy, que é mantida na linha pelo papai xerife (Michael Biehn) mas arrasta uma asa para o professor atencioso (Jay Mohr) depois que leva um pé na bunda do namorado. Acreditem, o filme é mais divertido que muita porcaria similar lançada na já então esgotada linha de cópias de Pânico.
Cani Arrabbiati (Mario Bava, 1974)
Com: Riccardo Cucciolla, Maurice Poli, Don Backy, George Eastman, Lea Lander
A.K.A. Rabid Dogs ou Kidnapped – Marco da filmografia de Mario Bava, perdido por mais de 20 anos e hoje disponível em duas versões, a original e outra com a inclusão de cenas rodadas pelo filho do diretor, Lamberto Bava. O filme é um thriller tenso e na maior parte do tempo claustrofóbico, que para a época devia ser chocante devido à grosseria e ao sadismo de determinadas situações. Basicamente, trata-se da fuga desesperada de quatro assaltantes que raptam uma mulher, um homem e um menino para escapar da polícia. São certas atuações exageradas do elenco, em especial de George Eastman, que mantêm o interesse numa narrativa que sofre um pouco com o ritmo, mas esconde uma pegadinha que só é revelada no final.
Mesmo com o pouco que vi de seus trabalhos, não diria que este é o melhor filme de Bava, como alguns apregoam por aí. O seu maior destaque é que o tom cru e direto destoa dos trabalhos típicos associados ao famoso diretor italiano.
Divagações postadas por Kollision entre 24-MAR e 1-ABR de 2008