Cinema

O Diabo Veste Prada

O Diabo Veste Prada
Título original: The Devil Wears Prada
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 109 min.
Gênero: Comédia
Diretor: David Frankel (Marley & Eu, O Grande Ano, Apenas uma Chance)
Trilha Sonora: Theodore Shapiro (Dois é Bom, Três é Demais,  Idiocracia,  Escorregando para a Glória)
Elenco: Meryl Streep, Anne Hathaway, Emily Blunt, Stanley Tucci, Simon Baker, Rich Sommer, Adrian Grenier, Tracie Thoms, Daniel Sunjata, Jimena Hoyos, Rebecca Mader, Tibor Feldman, Stephanie Szostak, James Naughton, Gisele Bündchen
Distribuidora do DVD: Fox
Avaliação: 7

Revisto em DVD em 21-MAR-2008, Sexta-feira

Como se já não bastassem todos os prêmios agraciados numa carreira praticamente irretocável, Meryl Streep dá o ar de sua graça nesta comédia e mais uma vez demonstra uma versatilidade assombrosa, agora como uma megera que comanda a revista mais importante do mundo da moda e atormenta a vida de Anne “diário da princesa” Hathaway. Extremamente bem acabado e caracterizado, O Diabo Veste Prada chega até mesmo a imprimir um certo grau de profundidade nessa baboseira multi-milionária de desfiles, gente afetada e roupas que ninguém usa (se bem que estas foram sabiamente retiradas do filme). O longa vale por Meryl e pela bela e ainda subestimada Hathaway.

Além da faixa de comentários comandada pelo diretor com a participação de outras pessoas de posições técnicas (sem legendas), o DVD tem como extras seis apresentações de making-of de 3 a 10 minutos cada, 18 minutos de cenas excluídas (também comentadas), 5 minutos de erros de gravação e o trailer do filme.

Visto no cinema em 12-OUT, Quinta-feira, sala 7 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 15-OUT-2006

Há um momento em O Diabo Veste Prada em que a tirana Miranda, interpretada com austeridade glacial por Meryl Streep, dá uma lição à neófita Andrea, radiantemente feita pela cada vez mais deslumbrante Anne Hathaway, onde ela explica todo o processo que liga a alta cúpula da indústria da moda ao suéter barato adquirido numa ponta de estoque que Andrea está usando. O que o discurso da megera tem de informativo também tem de humilhante, e serve como justificativa pátria para a existência de uma indústria bilionária que, para muita gente, soa como a glamourização do supérfluo.

Qualquer outro ramo de atividade, seja industrial, comercial, esportiva ou publicitária, poderia ter sido usado no lugar da indústria da moda. O conflito entre chefe megera e empregada maltratada poderia ser explorado da mesma forma. Mas o filme é baseado num livro lançado há relativamente pouco tempo. O que torna O Diabo Veste Prada ainda mais desconcertante é exatamente essa idéia meio distanciada que as pessoas em geral, os homens principalmente, possuem em relação a estilistas, desfiles, tendências efêmeras de moda e roupas espalhafatosas que ninguém que conhecemos algum dia irá usar de verdade. Minha postura diante do filme corresponde mais ou menos à postura de Anne Hathaway ao aceitar seu emprego sufocante. Para ela é algo passageiro, fora de suas aspirações. Para mim, é algo quase caricaturesco, que jamais fará sentido prático e serve pura e somente para diversão, por mais alarde que mulheres deslumbradas façam sobre bolsas Louis Vitton de 5.000 dólares ou sapatos Prada ainda mais caros que isso.

Obviamente, quem deve ter achado todo esse alvoroço maravilhoso como divulgação extra são todas as grifes que aparecem no filme, não somente a Prada...

No filme, as situações giram em torno do processo de adaptação na recém-contratada Andrea à rotina alucinada imposta por Miranda nos escritórios de uma das maiores revistas de moda dos Estados Unidos, a Runway. Sem qualquer senso de moda ou estética visual para os inalcançáveis padrões da patroa, Andrea come o pão que o diabo amassou em todos os sentidos, até finalmente se encaixar num mundo que a força a se distanciar do namorado, dos amigos e dos familiares. Seus únicos outros relacionamentos na cova da leoa são a colega de maus tratos Emily (Emily Blunt) o estilista/assessor Nigel (Stanley Tucci), para o qual ela se volta em busca de algum auxílio.

O grande barato de toda a história são as atitudes da Miranda de Meryl Streep, uma espécie de Darth Vader de saias, ou melhor, Don Corleone de peitos, que jamais altera a voz ao demonstrar raiva ou desprezo por alguém, e é capaz de fuzilar uma pessoa com os olhos. Que Streep tenha aceitado fazer um papel desses seja um sinal de que o filme do diretor David Frankel merece algum tipo de respeito não há dúvida. Não há muitas surpresas na história, que pelo menos não envereda pelas costumeiras saídas fáceis para seus personagens. A heroína de Anne Hathaway ganha a simplatia da platéia no momento em que se coloca diante da megera, mas não tem parceiros à altura em sua faixa de idade, já que seus amigos e namorado são tão inexpressivos em cena que chega a dar dó.

Às vezes engraçado, outras causticamente revoltante, o longa irradia beleza não por causa dos belos vestidos ou dos adornos caríssimos, mas sim pelas presenças de Meryl Streep e Anne Hathaway. A primeira é simplesmente o ícone de uma geração. A segunda pode ter ainda pouco tempo de tela, mas é tão responsável pelo resultado do filme quanto sua companheira mais experiente.