Alguns dos leitores devem ter notado que, de uns tempos pra cá, o material deste site/blog tem se diversificado um pouco. Para falar a verdade, isso somente reflete o que mudou em meu tempo livre, em termos de hobby. O número de filmes vistos desde Dezembro de 2007, por exemplo, é outro indicativo desta tendência.
Os recursos disponíveis hoje em dia para a formação de uma coleção decente de jogos eletrônicos são os grandes responsáveis por esta minha mudança de comportamento. Em minha adolescência, por exemplo, era virtualmente impossível ter uma estante decente com jogos de Sega Saturn, Sega CD ou mesmo Mega Drive. Hoje, a história é outra.
Descobri também, em minhas explorações pelo ambiente virtual da Internet, que não estou sozinho em meu luto pelo gênero moribundo dos shmups. Tem muita gente por aí que concorda comigo e se esforça para manter esse estilo de jogo vivo e em constante discussão. Assim, inicio neste post a minha singela contribuição para o movimento, com o objetivo já estabelecido de escrever um pouco, de vez em quando, sobre os games do gênero que tenho jogado ultimamente.
Depois de revisitar alguns jogos que eu já havia zerado ou jogado bastante (Darius II do Mega Drive, River Raid do Atari 2600 e Axelay do SNES, entre outros), parti para uma nova e excitante jornada: encarar o desafio de terminar games nunca antes vistos ou jogados até o fim.
A regra geral é básica:
Nenhum jogo de nave é tão ruim que não mereça ser jogado até o fim (ou até o fim do primeiro loop).
O primeiro jogo escolhido para “zeramento” foi Hellfire, que muitos hão de alegar por aí que é um dos shmups mais implacáveis do Mega Drive. O jogo é difícil mesmo, um belo testador de reflexos e paciência, principalmente da 3ª. fase em diante (de um total de 6). Depois de terminá-lo no nível EASY, derrotei-o também no HARD (não há NORMAL) – quase sem CONTINUE, pois tive que pegar um na última fase. A sacanagem maior é que, depois do final HARD, o jogo te manda terminar mais uma vez no modo YEA RIGHT, um outro nome para VERY HARD (acessível com o modo HARD selecionado na tela de opções por mais de 1 minuto).
Master of Weapon, também do Mega Drive e exclusivo do Japão, é uma bicheira de orientação vertical que só se justifica mesmo pelo desafio de ser terminado. A velocidade default da navinha parece uma piada de mau gosto, principalmente quando você morre no segundo ou no terceiro chefões. Terminei o dito cujo no modo NORMAL, utilizando CONTINUES. Depois tentei ver até onde ia sem CONTINUE, mas é frustrante perder praticamente todas as vidas no segundo chefe. A não ser, é claro, que o jogo te presenteie com um item de H-BOMB ou mais na hora do pega pra capar.
Eu costumava confundir Bio-Ship Paladin e Bio-Hazard Battle (Mega Drive). O primeiro traz uma inovação no modo de jogo, mas é lento demais e com certeza não passa pelo crivo de um jogador casual. O segundo é mais convencional, e com certeza melhor – seja no tema ou nos gráficos. Consegui terminar Bio-Hazard Battle no modo NORMAL sem CONTINUE, mas não pude fazer o mesmo com Bio-Ship Paladin por falta de paciência. Um pequeno texto meu em inglês sobre Bio-Hazard Battle pode ser lido no Reader Roundtable de Fevereiro do site Sega-16.
Tanto Arrow Flash quanto Burning Force são fracos em seus respectivos sub-gêneros (tiro horizontal e rail shooter, estilo do qual o único que se salva mesmo é qualquer exemplar da série After Burner). Venci Arrow Flash no NORMAL sem CONTINUE na segunda vez em que joguei, então dá para se ter uma idéia da sua facilidade. Só joguei Burning Force em HARD, até terminá-lo também sem CONTINUE. Taí um game que não pretendo rever tão cedo...
Na área de raridades, decidi começar por dois jogos que nem cheguei a saber que existiam em minha época de ouro. Twinkle Tale, o primeiro deles, esbanja um certo charme com suas cores vibrantes e sua temática mágica-medieval, apesar de não empolgar tanto assim. Já a obscuridade de Divine Sealing é praticamente a única coisa capaz de manter o interesse: a ambientação é de shmup, com “recompensas” que vêm sob a forma de desenhos de garotas nuas quando os chefes são derrotados. Bem, pelo menos pode-se dizer que trata-se de um exemplar único no gênero.
Um terreno inexplorado, recheado de possibilidades e desafios a serem vencidos! Ouvi dizer que este é o console com a melhor galeria de shmups de todos os tempos. Será?
A jornada começou muito bem, com o extraordinário Thunder Force V, preciosidade lançada somente no Japão. Um jogo fantástico, que consegui terminar nos modos NORMAL e HARD (sem CONTINUE, com final verdadeiro!). A ótima jogabilidade é típica da Technosoft/Tecnosoft, sendo aqui acompanhada por uma trilha sonora fenomenal e por um design arrojadíssimo de inimigos.
Gun Frontier, por outro lado, dificilmente se sustenta como um shmup decente. Conversão aparentemente fiel do arcade, o jogo é meio travado e só pode ser lembrado por algumas músicas e pela idéia maluca de naves inimigas formadas por dois revólveres de costas um para o outro. Para apimentar o desafio – que não é lá grande coisa – a Taito sacaneia com um combate estilo roleta russa no último chefe.
Quando você joga Giga Wing pela primeira vez, há uma sensação mista de espanto e decepção. O espanto se deve ao colorido dos gráficos e ao absurdo número de tiros na tela, e a decepção fica por conta da rapidez com que as 6 fases do jogo terminam – graças aos CONTINUES infinitos.
Então você convida um amigo para jogar em dupla, e percebe que por algum motivo estranho um faz mais pontos que o outro, tendo destruído menos inimigos! Algum tempo depois, percebe que há uma relação entre a pontuação e as medalhas coletadas quando os inimigos são abatidos, principalmente aquelas resultantes do uso do RF (reflect force). Ao mesmo tempo, uma pesquisa rápida por aí informa que há um 7º estágio, acessível apenas quando o jogador passa pelas 6 primeiras fases com um só crédito.
Somente neste momento é que você começa a perceber o valor do desafio proporcionado por esta gema dos Arcades, lançada em consoles caseiros somente para o Dreamcast. A meio caminho do desafio de terminar o jogo, destravar o quinto piloto e ver o final verdadeiro, começa a se esboçar uma certa ganância por pontos. Sim, aqueles números na casa dos trilhões que aparecem coloridos em cor-de-rosa.
O último passo é a busca da perfeição: a perfeição em passar de todas as fases ileso, em elaborar a melhor estratégia para desviar com sucesso da horda de tiros, em conseguir o maior número possível de pontos. Acreditem, esse troço é viciante.
Já consegui chegar à 7ª fase com 1 crédito. Ou seja, vislumbrei o final verdadeiro.
Infelizmente, ainda estou no processo de zerar as 7 fases com apenas 1 crédito, e me recuso a jogar qualquer outra coisa do Dreamcast antes de conseguir este objetivo.
Nota aos exclusivamente cinéfilos: Não se preocupem, continuarei escrevendo sobre cinema normalmente!
Vídeo adicionado em 27 de Maio de 2008, contendo um pedacinho de cada jogo deste post:
Texto postado por Kollision em 9 de Março de 2008