El Barón del Terror (Chano Urueta, 1962)
Com: Abel Salazar, Rubén Rojo, Rosa María Gallardo, David Silva, Germán Robles
A.K.A. The Brainiac – Digníssimo representante da categoria de filmes de monstro de padrão Ed Wood, esta raridade mexicana pode ser muito divertida quando se está no estado de espírito correto. O roteiro é uma piada: herege reencarnado trezentos anos após sua morte nas mãos da Santa Inquisição chega à Terra no rabo de um cometa, iniciando uma campanha de vingança contra os descendentes de seus algozes ao transformar-se numa criatura horrível que suga o cérebro de suas vítimas com sua temível língua bífida. As malvadezas da criatura são puro deleite trash, só mesmo superadas pelo bizarro hábito alimentar do monstro em sua forma humana (cérebros guardados numa tigela para degustação noturna). Definitivamente cult, o filme é muitíssimo recomendado para maratonas noturnas regadas a álcool e gargalhadas.
La Moglie più Bella (Damiano Damiani, 1970)
Com: Ornella Muti, Alessio Orano, Tano Cimarosa, Pierluigi Aprà, Joe Sentieri
A.K.A. The Most Beautiful Wife – O tema deste drama, conduzido e realizado com certa elegância, é por si só a representação de um anacronismo de barbárie urbana que até a década de 60 era prática comum na Sicília, uma das regiões italianas mais lembradas por sua associação com a máfia. A história é baseada em fatos reais vividos pela adolescente Franca Viola. Após ser estuprada por um mafioso local, ela o denunciou à polícia e o levou à cadeia ao invés de se casar com ele, o que era tido como prática comum e esperada naquele recanto do mundo. A moça é feita por Ornella Muti, em seu primeiro papel no cinema (com somente 14 aninhos), já demonstrando que tinha potencial para ser uma grande atriz. A trilha sonora de Ennio Morricone é um espetáculo à parte, assim como a boa fotografia.
Motoqueiros Selvagens (Walt Becker, 2007)
Com: John Travolta, William H. Macy, Martin Lawrence, Tim Allen, Ray Liotta, Marisa Tomei
Uma grata surpresa em matéria de comédia rápida, bacana e sem contra-indicações. O quarteto de protagonistas parece ter se divertido um bocado fazendo o filme, o que transparece sem dificuldade nas piadas e nas situações. A premissa é simples, mas muito bem aproveitada: quatro amigos de meia-idade deixam os problemas e as preocupações para trás ao embarcarem numa viagem de moto através dos Estados Unidos. A merda acontece quando eles dão de frente com uma gangue de motoqueiros durões liderada por Ray Liotta (que sempre encarna bem a carranca de psicopata). Apesar de sair da sala de cinema às 11 da noite, a sensação que tive era de que estava acabando de assistir a uma ótima Sessão da Tarde. Surpreendentemente divertido, o filme traz seqüências impagáveis. Como a referência a Amargo Pesadelo, da qual só o retardado aqui gargalhou sozinho dentro do cinema inteiro. Já a cara de Ray Liotta na cena dos créditos finais não tem preço. Vale a pena!
Sinais (M. Night Shyamalan, 2002)
Com: Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin, Abigail Breslin, Cherry Jones
Uma típica família de fazendeiros americanos é surpreendida por enormes círculos que aparecem da noite para o dia no milharal que cultivam. Pouco a pouco, através de notícias pela televisão, eles ficam sabendo que o fenômeno é mais abrangente do que eles imaginam. Apesar da conseqüente associação com uma invasão extra-terrestre, não é isto que norteia a trama, mas sim o conflito de fé que move seu protagonista, o padre sem esperanças vivido por Mel Gibson. A atmosfera interiorana jamais sucumbe ao sensacionalismo à la Guerra dos Mundos e, em seu universo restrito, compõe um cenário propício para passagens com elevado nível de suspense. Para alguns, a ênfase no drama é um desapontamento. Para outros, um conceito reaproveitado com sensibilidade. Fico com a segunda opção.
Les Cauchemars Naissent la Nuit (Jesus Franco, 1970)
Com: Diana Lorys, Colette Giacobine, Paul Muller, Jack Taylor, Soledad Miranda
A.K.A. Nightmares Come at Night – O que o carisma de uma única atriz não é capaz de fazer... Soledad Miranda, cujo rosto estampa a capa do DVD, aparece em pouquíssimas cenas deste filme, num contexto completamente desconexo, característica recorrente dos inúmeros longas ruins colocados no mercado pelo prolífico Jesus Franco. O cerne da trama diz respeito a uma dançarina de cabaré (Diana Lorys) vítima de pesadelos marcados por erotismo e assassinato, que busca auxílio nas consultas com um médico (Paul Muller) e vive às turras com a amiga e amante (Colette Giacobine). Nem vou me dar ao trabalho de mencionar o papel de Soledad na história, que passa a girar em círculos depois da sua introdução e acaba evoluindo para um desfecho porco.
Os Esquecidos (Luis Buñuel, 1950)
Com: Alfonso Mejía, Roberto Cobo, Estela Inda, Miguel Inclán, Mário Ramírez
Tido como a verdadeira retomada de Luis Buñuel no universo do cinema, depois de um hiato de praticamente 20 anos, Os Esquecidos é prova de seu inconformismo com a sociedade, o que inclui até ele mesmo. O surrealismo que o marcou em início de carreira desaparece completamente para dar lugar a uma crítica social incisiva e contundente, numa crônica suburbana com personagens riquíssimos em sua aparente simplicidade. O centro do drama é o menino Pedro (Alfonso Mejía), um desgarrado que vive se metendo em encrencas com os amigos, em particular o delinqüente Jaibo (Roberto Cobo). Há esperança para esses garotos sem perspectiva? Sim, há, mas quem mais deveria fornecê-la está calejado por uma realidade cruel demais para fazê-lo.
O longa é sessão obrigatória para quem deseja conhecer a fundo o cinema de crítica social. Além disso, tal qual Bergman na Europa, filmes como este fazem parte de um grupo restrito: o dos trabalhos que transcendem o formato e alcançam o status de pura arte.
Um Beijo a Mais (Tony Goldwyn, 2006)
Com: Zach Braff, Jacinda Barrett, Rachel Bilson, Casey Affleck, Eric Christian Olsen
Como ator, o diretor Tony Goldwyn é pródigo em encarnar figuras antipáticas. Como diretor, neste que é seu terceiro filme, os ensaios anteriores (sem contar séries de TV) parecem tê-lo conduzido a um patamar de sensibilidade que começa a pedir certo respeito. Obviamente, o roteiro do oscarizado Paul Haggis, o elenco escolhido a dedo e o fato do filme ser uma refilmagem do cultuado O Último Beijo (Gabriele Muccino, 2001) contam a favor do ótimo resultado.
Ainda não assisti ao original italiano. O remake, por sua vez, faz tudo certinho, começando pela tensão do triângulo amoroso formado por um casal estabilizado (Zach Braff e Jacinda Barrett) e uma sexy e irresistível pós-adolescente (Rachel Bilson) fascinada pelo rapaz, que está atordoado com a perspectiva de ser pai em breve. Ao seu redor, amigos e pais servem como espelhos distorcidos do que sua vida pode se tornar, qualquer que seja a decisão que ele venha a tomar. Todos os coadjuvantes são bem desenvolvidos e formam um grupo de fácil identificação para muita gente, seja pelas personalidades ou pelo modo como seus problemas são retratados.
A carga de drama ameaça engolir o romantismo e a comédia às vezes, mas não tira o brilho do filme, que é bastante divertido.
Divagações postadas por Kollision entre 6 e 14 de Maio de 2007