Uma colcha de dois grandes retalhos unidos para reaproveitar um curta-metragem, este é o primeiro longa do cultuado realizador francês Jean Rollin. O título foi traduzido para o inglês sob a forma sugestiva de The Rape of the Vampire (ou "O Estupro do Vampiro"), e passa uma idéia completamente equivocada do que esperar do filme (assim como a capa do DVD, propaganda enganosa da pior espécie possível, principalmente para os fetichistas). Filmado em preto-e-branco e casando duas equipes praticamente distintas de criação para cada seção do filme, com exceção de parte do elenco principal, Le Viol du Vampire é declaramente o primeiro longa de vampiros francês, e provavelmente o pior deles.
De estupro, por exemplo, o filme não tem nada. A verve audaciosa relacionada à nudez e ao erotismo dos trabalhos de Rollin também não tem muita vez, assim como qualquer diferencial digno de menção dentro das conhecidas vertentes sobre o vampirismo em si. O roteiro é uma bagunça, a lógica é praticamente inexistente, e mesmo os conceitos narrativos e expositivos mais básicos da linguagem cinematográfica parecem ter sido sumariamente ignorados. Há várias mulheres que se parecem umas com as outras, o que transforma o mero discernimento das personagens da trama numa tarefa hercúlea. A desorientação, com toda a certeza, deve-se em parte ao fato do filme ter sido expandido a partir de um curta de meia hora, mas nada justifica a edição pobre e o desleixo geral que permeia a obra do início ao fim.
O arremedo de história começa com a chegada de três jovens (dois rapazes e uma moça) a um casarão onde acredita-se estarem vivendo quatro irmãs vampiras. Um dos rapazes é também um psicanalista, que deseja curar as moças da crença absurda de que elas são criaturas da noite: uma delas é cega, a outra teria sido estuprada no passado, e uma das outras duas se alimenta do sangue de pássaros. O psicanalista se afeiçoa a uma das vampiras, mas as ações dos forasteiros acabam provocando um rebuliço no vilarejo, despertando a atenção de um velho misterioso que controla as irmãs. Parece que a situação vai ficar controlada com a chegada da rainha vampira (Jacqueline Sieger), mas a bagunça só aumenta, com a inclusão de um consultório para vampiros e a ressurreição de personagens vampirizados.
Para não incluir este filme na categoria de perda total – nota zero – pode-se mencionar uma ou duas passagens que chamam a atenção pela bizarrice. Uma é o despertar dos amantes vampiros na praia, ressuscitados com o sangue do velho sacrificado. Outra seria o teatro dos vampiros no final do filme, com o enorme morcego de pano montado no palco. Percebe-se alguma influência expressionista em certos cenários e o cuidado pontual de Jean Rollin com a composição de certas cenas. O problema, contudo, reside em contar uma história que não pode ser contada de forma decente sem um bom trabalho de edição e uma narrativa coerente, sem mencionar um nível mínimo de atuação por parte do elenco, que é uma lástima em sua maioria. Não poderiam ter arranjado uma rainha dos vampiros menos feia, por exemplo? Se tivessem trocado de lugar aquela vampira torturada por traição, de longe a melhor coisa do filme, com essa tal de Jacqueline Sieger, a coisa toda se tornaria pelo menos uns três pontos menos ruim.
O DVD de região 1 da Image Entertainment vem com áudio original em francês e disponibiliza legendas em inglês. Na seção de extras há o trailer de cinema e uma curta galeria de fotos e pôsteres da produção.
Visto em DVD em 3-FEV-2007, Sábado - Texto postado por Kollision em 7-FEV-2007