A associação entre os contos de vampiro e a libido humana é algo bastante evidente, até mesmo para quem não tem muita familiaridade com o tema. Afinal, a idéia de se morder pescoços carrega muito de contato pessoal e, em qualquer forma de interação concebível, um elevado grau intrínseco de erotismo. Um dos cineastas responsáveis por romper definitivamente a barreira entre o filme de vampiro convencional – como estabelecido pelos clássicos da Universal e pelas violentas revisões feitas pela Hammer nas décadas de 50 e 60 – e um grau mais elevado de erotismo foi Jean Rollin, que, com este quarto filme no currículo, ousa ir um pouco mais longe que em seus trabalhos anteriores. Mesmo que as cenas mais tórridas nada tenham a ver com os famigerados dentuços sugadores de sangue.
Infelizmente, Requiem por un Vampire não consegue o efeito desejado graças a uma grande parcela de encheção de lingüiça e à imbecilidade de várias passagens do roteiro simplista. Bastante conhecido pelos títulos de Requiem for a Vampire e Caged Virgins, além de outras variações generalizadas sobre as palavras "virgens" e "vampiros", o filme é notório pela escassez de diálogos, que são praticamente inexistentes nos primeiros 40 minutos de projeção. Como apreciador do bom cinema visual-expositivo afirmo que isso não seria problema algum, se o que é mostrado na tela não fosse completamente inútil para a história ou para a caracterização dos personagens, e não representasse algo que poderia ser resumido com eficiência superior em meros cinco minutos. O pior é que nem mesmo a conhecida atmosfera onírica do diretor essa longa introdução consegue suscitar.
Mas tudo bem, Rollin queria lançar seu material como um longa-metragem, e às vezes coisas assim acabam acontecendo. A tal introdução acompanha a peregrinação das duas heroínas (Marie-Pierre Castel e Mireille Dargent), que começam vestidas de palhaços, ateiam fogo num colega morto numa perseguição de carro, passam um tempo num cemitério, se embrenham numa floresta e acabam atraídas para um castelo ermo por enormes morcegos vampiros. Lá elas se deparam com um clã de vampiros humanos liderados por um morto-vivo decrépito e decadente, que deseja transformá-las nas mais novas adeptas de sua nefasta linhagem, através de um ritual onde as moças têm que perder a virgindade.
Talvez essa seja a melhor contribuição do filme para as fileiras vampíricas do cinema: as moças não podem se transformar em vampiras sem perder a virgindade! Os escravos humanos dos dentuços, prováveis responsáveis por deflorá-las, treinam seu ofício em mulheres nuas acorrentadas às paredes do calabouço do castelo. A fotografia monocromática destes trechos do filme dá uma idéia de quando ocorrerão os momentos com maior carga de exposição erótica. O que é mais decepcionante, no caso, é o fato de que as câmeras de Rollin evitam retratar a nudez da atriz Marie-Pierre Castel. Neste e em praticamente qualquer outro aspecto ela acaba perdendo para a companheira Mireille Dargent, bem mais bonita e desinibida.
Há problemas graves com a edição e com a alternância aberrante de tomadas filmadas durante o dia e durante a noite. Extremamente irregular como um conto de vampiros, o filme acaba se pagando pela generosa nudez que abunda na metade da película, e por detalhes macabros e fetichistas que não deixam de chamar a atenção. A passagem em que uma das protagonistas é enterrada viva no cemitério é uma delas. Outra seria o close de um morcego sugando o sangue da virilha de uma das vítimas acorrentadas. Como não apreciar tal alegoria libidinosa num filme deste tipo?
O DVD de região 1 da Image Entertainment vem com áudio em francês e inglês, além de legendas opcionais em inglês. Os extras consistem dos trailers francês e americano do filme e três breves galerias animadas de fotos e pôsteres.
Visto em DVD em 7-FEV-2007, Quarta-feira - Texto postado por Kollision em 11-FEV-2007