Cinema

Tout le Monde il en a Deux

Tout le Monde il en a Deux
Título original: Tout le Monde il en a Deux
Ano: 1974
País: França
Duração: 102 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Jean Rollin (Les Démoniaques, Lèvres de Sang, Les Raisins de la Mort)
Trilha Sonora: Rex Hilton
Elenco: Joëlle Cœur, Marie-France Morel, Alain Bastin, Brigitte De Borghese, Jenny Trochu, Britt Anders, Annie Belle, Agnès Lemercier, Catherine Castel, Marie-Pierre Castel, Virgina Loup, Jean Dorlegeant, Jean-Paul Hazy, Minia Malove, Marcel Richard
Distribuidora do DVD: Synapse Films
Avaliação: 3

Este filmeco é provavelmente a incursão mais famosa do diretor cult Jean Rollin no erotismo descarado, que aqui é colocado a serviço de uma farsa mal-arrumada travestida de comédia de erros. Rollin, sob o pseudônimo de Michel Gentil, trabalha dentro de seu estilo habitual de mise-en scene e dos limites do que se podia conceber na época sem que o conteúdo se tornasse pornográfico, contando com pelo menos uma verdadeira beldade em seu elenco: Joëlle Cœur. A obra seria rebatizada anos depois de seu lançamento com o título extremamente apelativo de Bacchanales Sexuelles, sendo que o nome em inglês da película (Fly Me the French Way) é um mistério que só algum almofadinha tradutor com poderes demais dentro da distribuidora da época poderia explicar.

Valérie (Joëlle Cœur) se muda para o enorme apartamento de um primo que acaba de partir numa viagem de seis meses. Entediada e com medo de ficar sozinha, ela chama a amiga Sophie (Marie-France Morel) para passar a noite com ela. As duas logo se entendem muito bem sobre e debaixo das cobertas. À noite, o apartamento é invadido por duas seqüestradoras que levam Sophie à força por engano, pensando que ela é Valérie. A mandante do seqüestro, a misteriosa e voluptuosa Malvina (Brigitte De Borghese), deseja pôr as mãos no primo de Valérie, um traidor do culto secreto de bacanais que ela lidera, responsável por ficar expondo seus podres em reportagens sensacionalistas. Depois de ir para a cama com um dos amigos de Sophie (Alain Bastin), Valérie descobre o que aconteceu e vai atrás da amiga, acompanhada de perto pelo novo parceiro.

Por mais precário e irregular que possa ser, o filme é uma herança vívida de uma época que não existe mais, em que cineastas sérios, mesmo os mais conhecidos, se aventuravam por zonas proibidas do cinema (o erótico e/ou o pornográfico) sem qualquer problema e sem se incomodarem com a opinião pública ou o preconceito alimentado pela mídia atual. Mesmo atuando sob pseudônimos, muitos destes realizadores viram suas obras "proibidas" ganharem status igual e em alguns casos até maior que os seus filmes "corretos". Para eles, a linha divisória entre o ousado e o escancarado (estado denotado por longas seqüências de sexo simulado/explícito que destoam completamente do cerne narrativo do filme) era praticamente inexistente. Para a felicidade daqueles que procuram obras pródigas na safadeza, na presença de belas mulheres nuas e na capacidade de excitar gratuitamente.

Tout le Monde il en a Deux não é pornográfico, mas é generoso na dose de sexo simulado. Nada de membros masculinos em riste aparecendo, nada de putaria generalizada. Rollin começa seu rompante libidinoso bem, mas descamba mais tarde para o repetitivo e enfadonho, com gente desinteressante que faz de conta que está "mandando ver" em montagens amadoras e deprimentes. O estilo contemplativo de sua câmera aparece em uma cena ou outra, e a narrativa pode ser absurda, mas é até fácil de ser acompanhada quando comparada ao seu conhecido desprezo pelo conteúdo dinâmico de suas obras.

A beleza madura da magnífica Brigitte De Borghese chama muito a atenção mas é completamente desperdiçada, dentro do que o filme se propõe a mostrar à platéia. De uma forma geral, a ausência de Joëlle Cœur em cena é indicativo certo de que ninguém perderá nada ao usar o botão fast forward no controle remoto. No pico da beleza, a atriz (que se aposentaria poucos anos mais tarde, ainda na década de 70) é a luz que transforma o filme tolerável como curiosidade obrigatória para quem deseja se aprofundar na filmografia de Jean Rollin.

O único material extra presente no DVD (Região 0 - áudio em francês e legendas opcionais em inglês) são os trailers de Les Raisins de la Mort e Danza Macabra, conhecido em inglês por Castle of Blood.

Visto em DVD em 27-FEV-2007, Terça-feira - Texto postado por Kollision em 7-MAR-2007