Texto postado por Kollision em 21/Julho/2006
Cult é somente uma das classificações (a mais famosa) que geralmente se dá a Vampyros Lesbos em qualquer círculo cinéfilo que se preze. Um dos mais conhecidos dos muitos filmes feitos pelo prolífico cineasta espanhol Jesus Franco, ele ainda carrega uma considerável aura de fascínio em torno da formosa figura de Soledad Miranda, creditada aqui com o pseudônimo Susann Korda por solicitação da própria, devido às cenas de nudez e lesbianismo que seriam inevitavelmente exibidas mundo afora. A trágica morte prematura desta atriz de magnética presença só fez aumentar sua legião de admiradores e, por conseguinte, também o grupo de fãs dos trabalhos de Jesus Franco, que foi iluminado o suficiente para adotá-la como sua musa pelo tempo que pôde.
Enquanto assiste a um show privado num clube ao lado do namorado (Andrés Monales), a advogada Linda (Ewa Strömberg) reconhece a moça no palco como sendo aquela que vem assombrando seus sonhos já há algum tempo. Bonita e insinuante, a estranha se torna o principal assunto das sessões de Linda com seu psicólogo, já que ela dá vazão a seus desejos sexuais reprimidos quando sonha. Ao visitar a condessa Nadine Carody (Soledad Miranda) em sua mansão, Linda se depara com a mesma moça, na realidade uma vampira que leva uma vida dupla e se alimenta do sangue de mulheres. Herdeira das posses do próprio conde Drácula, Nadine também se encontra sob a investigação cada vez mais próxima de um tal dr. Seward (Dennis Price), cujas pesquisas na área do vampirismo têm interesses nada ortodoxos relacionados à bela vampira que está seduzindo Linda.
O uso de pseudônimos é uma constante nos filmes dirigidos por Jesus Franco, que aqui é creditado como Franco Manera na cadeira de diretor e, como compositor, David Khune. Dá um trabalho danado saber quem usou o nome verdadeiro em seus filmes. No caso de Vampyros Lesbos, contudo, o que importa é saber que a morena de olhar penetrante e pernas maravilhosas respondia por Soledad Miranda, e sem sombra de dúvida por toda a fascinação relacionada ao filme. Sua personificação da vampira que odiava os homens e amava todas as mulheres, até se deparar com uma com a qual se apaixonou, casa perfeitamente com o erotismo subjacente da história e valoriza o estilo etéreo de Franco, que trilha uma linha bastante tênue entre um trabalho de visionário voyeurismo e uma viagem de ácido de execução amadora e relaxada.
Logo, é preciso dizer que Vampyros Lesbos pede por uma apreciação diferenciada por parte do espectador, por pertencer a nenhuma vertente marginal do gênero em sua época e, por isso mesmo, não poder ser calcado em nenhum molde de filme de vampiro amplamente conhecido. O vampirismo de Jesus Franco, para falar a verdade, é um mero detalhe e, muitas vezes, nada mais que uma desculpa para o desfile de mulheres nuas em cenas de lesbianismo soft. Mesmo com as menções diretas ao famigerado conde Drácula e com a presença de algum sangue derramado, a desconexão narrativa proposital não permite uma impressão completamente certa do que é ou não realidade dentro da história, e este é um desafio que muito provavelmente o diretor não idealizara para a sua platéia. O aspecto intrinsecamente onírico e a sensação de desnorteamento vêm em sua maior parte da edição difícil, um reflexo indireto dos parcos recursos de produção do filme.
Mesmo com suas óbvias limitações, movimentações de câmera tremidas, simbolismos baratos e uma visível carência de coesão narrativa, o filme pertence inegavelmente à categoria de obras que pedem uma segunda sessão para que possam ser assimiladas com mais justiça.
O DVD importado vem com áudio em alemão e legendas em inglês, no que a distribuidora alega ser o corte mais fiel do material originalmente concebido por Jesus Franco. O disco traz como único extra o trailer do filme.