Cinema

Tristão e Isolda

Tristão e Isolda
Título original: Tristan + Isolde
Ano: 2006
País: República Tcheca
Duração: 125 min.
Gênero: Drama
Diretor: Kevin Reynolds (Fandango, A Fera da Guerra, Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões)
Trilha Sonora: Anne Dudley (Quando o Sábado Chega, A Falsa Moral, Ou Tudo Ou Nada)
Elenco: James Franco, Sophia Myles, Rufus Sewell, David O'Hara, Mark Strong, Henry Cavill, Bronagh Gallagher, Ronan Vibert, Lucy Russell, JB Blanc, Graham Mullins, Leo Gregory, Dexter Fletcher, Richard Dillane, Thomas Sangster, Isobel Moynihan
Avaliação: 6

Para os chegados a um romance água com açúcar, a chamada "antes de Romeu e Julieta houve Tristão e Isolda" soa como um motivo e tanto para que se dê uma chance a este novo trabalho de Kevin Reynolds, o responsável por um dos maiores fracassos comerciais da história do cinema, a bomba Waterworld - O Segredo das Águas. A chamada não é de todo mentira, pois o romance e a tragédia ganham uma boa representação no drama do filme, que além disso tem ainda uma quantidade razoável de sangue e um pé fincado no gênero épico-medieval. O resultado funciona até certo ponto, o que não deixa de ser positivo.

O pano de fundo para a tragédia são as ilhas inglesas após a queda do império romano. De um lado, os irlandeses liderados pelo monarca Donnchadh (David O'Hara) dominam uma das ilhas e oprimem os demais reinos que, separados, não têm força para resistir às sangrentas invasões irlandesas. Quando Aragon cai numa destas investidas, lorde Marke (Rufus Sewell) salva a vida do jovem Tristão e toma-o sob sua guarda. Já crescido, Tristão (James Franco) lidera as forças de Marke e se torna responsável pela eliminação do maior guerreiro do inimigo mas, por ironia do destino, é dado como morto e acaba caindo nos braços da princesa irlandesa Isolda (Sophia Myles), que cuida de sua recuperação sem revelar sua verdadeira identidade. O desenlace da última luta de Tristão acaba por afastar os dois, que, apaixonados, virão a se reencontrar em circunstâncias nada menos que trágicas.

As reminiscências de obras épicas recentes (Cruzada, Gladiador e mesmo O Senhor dos Anéis são as referências mais óbvias) desviam a enfoque romântico predominante na história, num conto de amor marcado por terríveis caprichos do destino. No caldeirão costurado pelo roteiro misturam-se conflitos de honra, dever e amor, todos com razoável transposição narrativa, produção requintada e bom domínio cinemático por parte do diretor. A introdução do conflito é inteligente e estilosa, e as cenas de batalha, bem editadas, primam por uma violência que não amacia só pelo fato do filme ser em sua essência um romance. E a lista fica basicamente por aí, no que diz respeito aos pontos positivos do filme.

Se existe uma grande falha na produção ela está no modo como o personagem Tristão é caracterizado. James Franco simplesmente não consegue ficar à vontade em cena, o que fica bem mais evidente nas passagens em close, que o ator insiste em fazer armado de uma incômoda cara de cachorro perdido sempre à procura do dono. Teria ele incorporado seu papel tão ao pé da letra, passando de guerreiro apaixonado a um cavaleiro "tristão" semi-lacrimejante? Infelizmente sim, pois esta é a impressão que fica ao final do filme. E o que seria a princípio impensável acontece: Franco vai aos poucos perdendo terreno para o coadjuvante Rufus Sewell, que está muito bem como o rei imerso numa tragédia amorosa capaz de destruir seu reino emergente. Sobre Sophia Myles, a observação mais pertinente seria comparar a beleza da moça à da atriz Kate Winslet, com a qual ela se parece muito. A trilha sonora vai muito bem nas cenas de ação, apesar de não encontrar a mesma eficiência nas seqüências mais calmas.

Pelo menos o lado romântico da história chega a ensaiar um arrebatamento verdadeiro, eventualmente sufocado por um final anti-climático, que se fosse mais bem-trabalhado e tivesse menos tomadas de perfil dos pombinhos apaixonados teria feito um bem danado ao resultado final do filme.

Texto postado por Kollision em 14/Julho/2006