Para os chegados a um romance água com açúcar, a chamada "antes de Romeu e Julieta houve Tristão e Isolda" soa como um motivo e tanto para que se dê uma chance a este novo trabalho de Kevin Reynolds, o responsável por um dos maiores fracassos comerciais da história do cinema, a bomba Waterworld - O Segredo das Águas. A chamada não é de todo mentira, pois o romance e a tragédia ganham uma boa representação no drama do filme, que além disso tem ainda uma quantidade razoável de sangue e um pé fincado no gênero épico-medieval. O resultado funciona até certo ponto, o que não deixa de ser positivo.
O pano de fundo para a tragédia são as ilhas inglesas após a queda do império romano. De um lado, os irlandeses liderados pelo monarca Donnchadh (David O'Hara) dominam uma das ilhas e oprimem os demais reinos que, separados, não têm força para resistir às sangrentas invasões irlandesas. Quando Aragon cai numa destas investidas, lorde Marke (Rufus Sewell) salva a vida do jovem Tristão e toma-o sob sua guarda. Já crescido, Tristão (James Franco) lidera as forças de Marke e se torna responsável pela eliminação do maior guerreiro do inimigo mas, por ironia do destino, é dado como morto e acaba caindo nos braços da princesa irlandesa Isolda (Sophia Myles), que cuida de sua recuperação sem revelar sua verdadeira identidade. O desenlace da última luta de Tristão acaba por afastar os dois, que, apaixonados, virão a se reencontrar em circunstâncias nada menos que trágicas.
As reminiscências de obras épicas recentes (Cruzada, Gladiador e mesmo O Senhor dos Anéis são as referências mais óbvias) desviam a enfoque romântico predominante na história, num conto de amor marcado por terríveis caprichos do destino. No caldeirão costurado pelo roteiro misturam-se conflitos de honra, dever e amor, todos com razoável transposição narrativa, produção requintada e bom domínio cinemático por parte do diretor. A introdução do conflito é inteligente e estilosa, e as cenas de batalha, bem editadas, primam por uma violência que não amacia só pelo fato do filme ser em sua essência um romance. E a lista fica basicamente por aí, no que diz respeito aos pontos positivos do filme.
Se existe uma grande falha na produção ela está no modo como o personagem Tristão é caracterizado. James Franco simplesmente não consegue ficar à vontade em cena, o que fica bem mais evidente nas passagens em close, que o ator insiste em fazer armado de uma incômoda cara de cachorro perdido sempre à procura do dono. Teria ele incorporado seu papel tão ao pé da letra, passando de guerreiro apaixonado a um cavaleiro "tristão" semi-lacrimejante? Infelizmente sim, pois esta é a impressão que fica ao final do filme. E o que seria a princípio impensável acontece: Franco vai aos poucos perdendo terreno para o coadjuvante Rufus Sewell, que está muito bem como o rei imerso numa tragédia amorosa capaz de destruir seu reino emergente. Sobre Sophia Myles, a observação mais pertinente seria comparar a beleza da moça à da atriz Kate Winslet, com a qual ela se parece muito. A trilha sonora vai muito bem nas cenas de ação, apesar de não encontrar a mesma eficiência nas seqüências mais calmas.
Pelo menos o lado romântico da história chega a ensaiar um arrebatamento verdadeiro, eventualmente sufocado por um final anti-climático, que se fosse mais bem-trabalhado e tivesse menos tomadas de perfil dos pombinhos apaixonados teria feito um bem danado ao resultado final do filme.
Texto postado por Kollision em 14/Julho/2006