Segundo ato de uma história de amor com conotação de conto de fadas, realizado com o mesmo elenco e basicamente a mesma equipe técnica, trabalhando sobre o roteiro escrito pelo próprio diretor Ernst Marischka, o papa de uma série de romances históricos produzidos ao longo da década de 50. Para quem apreciou e curtiu o carisma de Romy Schneider em Sissi, realizado no ano anterior, este filme é uma sessão obrigatória. Mesmo que, sob o ponto de vista histórico, o roteiro já passe a ignorar completamente os fatos cronológicos do período (a metade do século XIX), focando-se exclusivamente nas desventuras românticas da imperatriz e do imperador.
Logo após o suntuoso casamento que selou o amor entre a agora imperatriz da Áustria Sissi (Romy Schneider) e o imperador Franz Joseph (Karlheinz Böhm), os atritos da vida aristocrática da côrte passam a aumentar entre Sissi e sua irredutível sogra Sophie (Vilma Degischer). Adepta da informalidade e da simplicidade, a jovem imperatriz dá duro para aprender os costumes reais e poder acompanhar o marido nos cerimoniais solenes, chegando a demonstrar verdadeiro tato ao lidar com os conflitos surgidos entre a Áustria e a Hungria. O nascimento da primeira filha do casal é o estopim para uma crise, pois Franz fica ao lado da mãe quando esta decide separar Sissi de sua filha e educá-la separadamente sob o rígido código da côrte. Revoltada, Sissi retorna à casa dos pais na Baviera, fazendo com que o imperador seja obrigado a rever sua posição no conflito cada vez mais insustentável entre ela e a sogra.
Marischka volta a surpreender os admiradores dos filmes água-com-açúcar, por seu filme não vir da toda-poderosa Hollywood e consistir numa genuína produção local sobre a imperatriz que ascendeu à categoria de lenda com o passar dos anos. É mais do mesmo, com o mesmo decoro na produção requintada de época e no estilo ensolarado de fotografia. O que mantém o frescor do filme e garante a sessão é a química vencedora entre Romy Schneider e o bom moço Karlheinz Böhm, cujas performances e olhares transmitem com extrema naturalidade a paixão arrebatadora do casal real, fazendo-nos acreditar que o sentimento é verdadeiramente capaz de sobrepujar as piores picuinhas provocadas pela vilã da história, a megera feita com classe por Vilma Degischer. O major Böckl (Josef Meinrad) continua sendo o principal alívio cômico, principalmente após se declarar apaixonado por Sissi. O que é perfeitamente compreensível, pois quem no lugar dele não ficaria?
Além do romance que vai e vem dentro da história, o principal pano de fundo que a move é a ascensão do império Austro-húngaro, representada pelos conflitos com os nobres do país vizinho, administrados com diplomacia por Franz Joseph e devidamente apaziguados pela sempre bela Sissi, uma admiradora declarada das paisagens montanhosas da Hungria. A combinação entre o drama pessoal da imperatriz e os conflitos políticos da côrte é razoavelmente bem-feita e rende bons momentos. E, até aí, tudo parece bater com os livros de história. O que o filme omite em relação aos fatos reais, pelo bem do romance, claro, são os percalços que Sissi teve que enfrentar logo em seus primeiros anos como imperatriz, que incluem a morte de sua primeira filha aos dois anos de idade e um colapso nervoso provocado pelas constantes desavenças com a sogra. Também o tempo entre o casamento e o desfecho do filme foi encurtado, quando é sabido que a aliança entre a Áustria e a Hungria só viria a se consolidar 13 anos depois da união do imperador e Sissi, após várias derrotas sofridas por Franz Joseph ao tentar reestruturar seu império.
Os extras da primeira edição em DVD lançada pela Flashstar se resumem a uma biografia curta de Romy Schneider e um texto sobre o período pós-casamento da vida real da imperatriz da Áustria.
Texto postado por Kollision em 2/Julho/2006