A adaptação escrita e comandada pelo diretor Gary Ross é mais uma história típica de superação pessoal, protagonizada por pessoas fracassadas que se uniram para viver uma trajetória de sucesso. Porém, com o perdão do trocadilho, Seabiscuit chegou a ser indicado em várias categorias mas não teve a força para se tornar o 'azarão' na corrida do Oscar 2004, apesar do seu personagem-título ter sido baseado num bem-sucedido azarão da vida real.
O roteiro do filme retrata o encontro de três pessoas marcadas por alguma espécie de infortúnio causado pela grande depressão americana de 1929. Quando o empresário Charles Howard (Jeff Bridges) vai à bancarrota, perde o filho e é abandonado pela esposa, sua desorientação faz com que ele volte sua atenção para o atraente mundo das corridas de cavalos. Disposto a ingressar no meio, ele contrata o solitário treinador Tom Smith (Chris Cooper) para lhe ajudar na tarefa. Entra em cena o jóquei Red Pollard (Tobey Maguire), rapaz pobre abandonado pela família antes rica que tem um dom incomum com cavalos, principalmente com Seabiscuit, aquele no qual Howard e Smith depositam suas mais altas aspirações. No entanto, lances do destino fazem com que a trajetória do pequeno Seabiscuit rumo ao estrelato nos hipódromos não seja assim tão fácil.
Pontuada e seccionada por uma narração em off, que ao contrário de ser intrusiva chega a ser historicamente interessante, a jornada do cavalo vitorioso é contada de forma bastante linear, e boa parte das mais de duas horas de duração da película é usada na introdução dos personagens principais. A ênfase maior está na figura do empresário vivido por Jeff Bridges, que dá ao seu personagem um ar bonachão mas ao mesmo tempo sábio, que não se expande muito devido à própria rigidez do roteiro. A relação paterna que se esboça entre ele e o jóquei Red Pollard não é explorada como deveria, mas aspectos como esse não podem ser de fato julgados, já que o filme é baseado em fatos reais e retratar a realidade pode às vezes não ser tão empolgante assim. A família original do rapaz, por exemplo, não dá as caras nunca mais depois de seu abandono, passagem que seria uma tentação para qualquer roteirista fraco em busca de conflito fácil para sua história.
Tudo é muito bonito e a trilha sonora consegue ser empolgante nos momentos decisivos, mas o que dilui um pouco o impacto e, conseqüentemente, o interesse pela história em si, é a ausência de uma sensação de comunhão maior entre os três personagens principais. Charles Howard vê em Red Pollard o filho que perdeu, mas não faz muita coisa além de olhar para ele com cara de perdido. O treinador feito por Chris Cooper fica por vezes largado dentro do contexto geral. As corridas e as conquistas de Seabiscuit são os momentos mais carregados de emoção, mas o clímax maior não está no encerramento do filme, e sim num trecho intermediário. A mensagem enaltecedora sobre o heroísmo e a volta por cima em momentos de dificuldade é bacana e tudo o mais, mas nem a crise econômica dos anos 30, devidamente usada como pano de fundo para a idéia, é suficiente para diferenciá-la de tantas outras no mesmo estilo que algum dia já foram ou serão levadas às telas.
A seção de extras do DVD vem com a transmissão da época da corrida entre Seabiscuit e seu rival War Admiral, além de um making-of e um especial sobre o premiado cavalo de 15 minutos cada.
Texto postado por Kollision em 30/Agosto/2005