A vingança de Jacques Clouseau. Sexto filme da série, e também o último que verdadeiramente traz Peter Sellers no papel-título em grande e, como sempre, inspirada performance. Em comparação com o filme anterior (A Nova Transa da Pantera Cor-de-rosa), este capítulo soa mais sintonizado com o espírito do inspetor pateta, ao mesmo tempo em que oferece uma base mais sólida para as palhaçadas de sempre. Afinal, é aqui que o detetive mais atrapalhado da França é posto para correr, num complô de assassinato que vai além das já manjadas tentativas malucas engendradas pelo alucinado Charles Dreyfus em filmes anteriores.
Ameaçado de perder um grande negócio com outro chefão do crime por ser considerado ultrapassado em seus métodos, o magnata Philippe Douvier (Robert Webber) decide impressionar o submundo ao eliminar o mundialmente famoso inspetor-chefe francês Jacques Clouseau (Peter Sellers). Seus esforços têm frutos, e logo vem a notícia de que Clouseau morreu num terrível acidente de carro. Imediatamente, o ex-comissário da polícia francesa Charles Dreyfus (Herbert Lom) é retirado da instituição psiquiátrica onde estava internado e reintegrado ao seu posto. Servindo até mesmo como orador no enterro do desafeto, Dreyfus passa a ser surpreendido com visões de Clouseau onde quer que vá. O que ele nem imagina é que Clouseau está vivo, e se juntou à voluptuosa secretária de Douvier (Dyan Cannon) e seu servo chinês Cato (Burt Kwouk) para manchar os planos do vilão e recuperar sua existência em grande estilo. Não necessariamente nessa ordem, e nem tão ordenadamente quanto a sentença anterior o faz parecer.
Partindo de uma introdução extremamente séria, o novo roteiro co-escrito pelo diretor Blake Edwards passa rapidamente para uma saga de erros e coincidências que só um personagem da estatura de Jacques Clouseau poderia protagonizar com perfeita caracterização. Diferentemente do filme anterior, Clouseau volta a ganhar em A Vingança um propósito, mesmo que seja forçado a isso, e o longa só tem a ganhar com a participação mais ativa de seu sempre fiel parceiro Cato Fong. O detetive chega a sair de casa e se aventurar em Hong Kong no desfecho da história, cujo finalzinho acaba se revelando o trecho mais desconexo e arrastado do filme.
Desconsiderando este pequeno detalhe, o que se vê na tela é uma boa recuperação em direção ao estilo estabelecido nos primeiros exemplares da série. Para quem aprecia o humor de Sellers, este é bem possivelmente um dos seus melhores filmes, como demonstram algumas passagens hilárias: quando seu ajudante Cato, acreditando que o chefe esteja morto, transforma a casa de Clouseau num bordel oriental; o primeiro encontro de Clouseau com a secretária e ex-amante do inimigo; a atenção da dupla de comerciantes que fornece os famosos disfarces utilizados pelo detetive; as confusões provocadas por sua desastrosa pronúncia de palavras como bomb (bomba) ou law (lei); ou mesmo seu rechonchudo disfarce de "poderoso chefão". Esta última é apenas uma das referências que aparecem sobre filmes anteriores envolvendo a máfia (a outra diz respeito a Operação França). Até o famoso Hercule Poirot, criação da escritora Agatha Christie, entra na roda de tiração de sarro.
Infelizmente, o DVD da MGM só tem como extra o trailer de cinema do filme.
Texto postado por Kollision em 14/Maio/2006