Cinema

Embriagado de Amor

Embriagado de Amor
Título original: Punch-drunk Love
Ano: 2002
País: Estados Unidos
Duração: 95 min.
Gênero: Comédia
Diretor: Paul Thomas Anderson (Sangue Negro, O Mestre [2012], Vício Inerente)
Trilha Sonora: Jon Brion (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Huckabees - A Vida é uma Comédia)
Elenco: Adam Sandler, Emily Watson, Philip Seymour Hoffman, Luis Guzmán, Hazel Mailloux, Julie Hermelin, Salvador Curiel, Jorge Barahona, Mary Lynn Rajskub, Lisa Spector, Nicole Gelbard, Mia Weinberg, Karen Hermelin, Rico Bueno
Distribuidora do DVD: Columbia
Avaliação: 9

Barry Egan é um cara zoado. Completamente complexado. Extraordinariamente incompreendido. Um adolescente que esqueceu de crescer e, provavelmente na faixa dos 30, praticamente desconhece qualquer técnica de se fazer amizades, ou pior, de travar algum relacionamento com o sexo oposto. O cara tem medo de pôr a cabeça pra fora e ver o que está acontecendo, e se esconde sob a fachada fictícia de uma carga excessiva de trabalho no armazém que administra. Ele é tão solitário que chega ao ponto de recorrer àqueles serviços de sexo por telefone para aliviar a falta de substância em sua vida monóloga. Ele é excessivamente tímido e não gosta de se sentir pressionado, principalmente por suas inúmeras irmãs. Ele não pode contar com nenhuma delas, que ignoram seu problema e só fazem o infeliz sentir-se ainda mais pra baixo. Para piorar, suas atitudes inconstantes e sua obsessão por um plano de milhagens milagroso só fazem corroborar a idéia de maluco que todos começam a fazer dele.

Egan é Adam Sandler, que assume de longe o melhor papel de sua carreira neste filme. Encarregada de tirá-lo do torpor quase intransponível em que o cara se encontra está Emily Watson, uma alma apaixonada e condescendente além daquilo que seria possível conceber no mundo real. Os demais personagens do filme são completos coadjuvantes num romance que é tragicamente engraçado, e numa comédia que soa romântica só que num sentido mais bizarro do termo. E foi só depois de algum tempo após o filme terminar que me dei conta de qual seria a fonte de inspiração para as situações bizarras mas estranhamente familiares da história: a estética de cinema dos irmãos Coen.

Definitivamente a principal influência de Paul Thomas Anderson, os Coen poderiam ser facilmente tomados como os realizadores de Embriagado de Amor. Felizmente, não é esse o caso, pois as bizarrices de Anderson são mais específicas e direcionadas que aquelas que os Coen destilam em seus trabalhos quase sempre desconjuntados. Já que toquei no assunto das influências, outra bastante perceptível seria Stanley Kubrick, através do uso premeditado de cenários densamente coloridos e nos movimentos da câmera, que rendem passagens realmente sublimes. Por último, e não menos importante, eis que há uma pitada de Pedro Almodóvar nas matronas que atormentam a vida do personagem principal e se proclamam suas irmãs. Nenhuma delas ganha um desenvolvimento decente, é claro, mas basta ver um monte de mulher reclamando da vida numa mesma sala e voilá – lá vem Almodóvar na mente.

O resultado de todas estas influências, filtradas e cadenciadas por um senso de estilo que impressiona, é nada menos que uma das mais estranhas e bem-feitas comédias românticas sobre um desajustado. Um sortudo que se transforma de patinho feio com as duas pernas quebradas para um, bem... Não convém revelar nada aqui, mas fica muito claro logo em seu primeiro e aparentemente casual encontro que Barry Egan mudará bastante sob a influência da moça disposta a conhecê-lo de qualquer maneira. A história convence a platéia dando as cartas certas – o lance das múltiplas irmãs parece loucura do cara, até que elas de fato aparecem juntas – e tornam críveis as atitudes do comerciante maluco que usa somente um terno azul durante todo o filme. Consciente de seu problema, Barry descarrega a frustração auto-infligida socando coisas (daí o título original do longa) e aos poucos deixa transparecer uma nobreza inesperada, talvez tão sutil quanto a metáfora relacionada ao piano que ele adota logo no início do filme.

O filme tem uma edição em DVD dupla cujo segundo disco é praticamente um desperdício, graças à opção de renderização da imagem do longa no padrão superbit. No disco 2 há uma montagem de 12 minutos com Adam Sandler e Emily Watson, outra montagem com a arte colorida de Jeremy Blake, o comercial da empresa de colchões do personagem de Philip Seymour Hoffman, duas cenas excluídas, três trailers e 11 spots de TV que variam de 10 segundos a pouco mais de um minuto. Que se aproveite mesmo não há praticamente nada.

Visto em DVD em 25-DEZ-2006, Segunda-feira - Texto postado por Kollision em 29-DEZ-2006