Visto no cinema em 2-ABR-2008, Quarta-feira, sala 3 do Multiplex Pantanal
O preço a se pagar pelo sucesso, retratado neste filme com contornos amargos, muitas vezes vai além da obstinação e da mera noção de ambição. Na figura do explorador de petróleo vivido por Daniel Day Lewis na aurora do século XX, a jornada avança rumo ao incerto da mesma forma que as tecnologias à disposição do empresário evoluem. Obcecado pela riqueza negra que brota dos férteis solos do oeste dos Estados Unidos, sua vida é maculada pelo filho (adotado depois que um trabalhador morre sob seu comando), pelo jovem pastor (Paul Dano) cujo fervor religioso lhe causa desconforto e por um parente desgarrado (Kevin J. O'Connor) que surge subitamente. Muito da intensidade das cenas brota da marcante trilha sonora, rica em violinos e evoluções sinistras ao piano, além da óbvia e oscarizada interpretação de Daniel Day Lewis, a meu ver uma variação não muito distante do açougueiro personificado pelo próprio em Gangues de Nova York (Martin Scorsese, 2002).
Paul Thomas Anderson é um cineasta dado a exímios movimentos de câmera, e seus já famosos travellings rendem momentos memoráveis em Sangue Negro. O conteúdo emocional do roteiro é magnífico, apesar de pender declaradamente para um pessimismo sublimado em seus dois personagens principais, o explorador e o pastor. A sentença final proferida pelo protagonista é dúbia e pode ser interpretada de muitas formas, encerrando o filme em grande estilo.