Cinema

Pulse

Pulse
Título original: Pulse
Ano: 2006
País: Estados Unidos
Duração: 90 min.
Gênero: Terror
Diretor: Jim Sonzero
Trilha Sonora: Elia Cmiral (Prisioneiros da Morte, Enquanto as Crianças Dormem, Não Me Esqueça)
Elenco: Kristen Bell, Ian Somerhalder, Christina Milian, Rick Gonzalez, Jonathan Tucker, Samm Levine, Octavia Spencer, Jeremy Guskin, Ron Rifkin, Joseph Gatt, Kel O'Neill, Zach Grenier, Brad Dourif
Avaliação: 4

Demorou, mas esta refilmagem (que eu não sabia que era refilmagem até me deparar com os créditos iniciais da cena de abertura) de mais um longa de horror japonês saiu. Wes Craven ia dirigir, mas alguma coisa deve ter alertado o cara, que já teve e ainda tem muito prestígio dentro do cinema de horror americano, para o fato de que comandar uma refilmagem de um filme japonês não é coisa digna de gente assim tão tarimbada. De 2001 para cá, o que se tornou prática comum é (1) convocar o próprio diretor do original para fazer a mesma graça com mais dinheiro e efeitos especiais ou (2) entregar o projeto para um completo desconhecido. Que, invariavelmente, vai acabar levando a culpa se o negócio fôr pro saco.

O que mais pesa, para o bem ou para o mal, é que a história é um tipo de Ring - O Chamado (Hideo Nakata, 1998) transferido para a nova era digital. Mesmo o Pulse original, dirigido por Kiyoshi Kurosawa em 2001, não escondia as semelhanças entre seu roteiro e o de Nakata, exacerbando muitos pontos com toques apocalípticos devidamente transferidos para a versão americana. Portanto, quem não suporta comida requentada (e ainda por cima reciclada – pelo remake) deve com certeza evitar Pulse, um filme que em nenhum momento sai da sombra de seus predecessores, exagera na fotografia lúgubre e não agrega quase nada de novo ao sub-gênero ao qual pertence.

Com a morte súbita do namorado, um hacker depressivo e suicida, Mattie (Kristen Bell) e seus amigos tentam levar a vida adiante. Parte de sua rotina, mais precisamente aquela em que eles usufruem de computadores e meios de comunicação, começa a ser alterada quando eles passam a receber mensagens do colega morto. Um a um o grupo é afetado pelo mesmo mal que o afligiu, uma espécie de vírus cibernético que coloca os mortos em contato com os vivos e provoca conseqüências devastadoras. É só quando Mattie encontra Dexter (Ian Somerhalder), o comprador do computador do namorado, que ela decide investigar a fundo o que realmente aconteceu. Mas aí talvez já seja tarde demais.

Nada de fita de vídeo VHS, o negócio agora é a webcam que faz contato com as pessoas do além, trabalhando sobre um vírus que se propaga por meio das ondas eletromagnéticas que viajam através do ar. O fascínio do povo oriental pela tecnologia é fonte praticamente inesgotável para todo o tipo de bizarrice sobrenatural no recente cinema de horror, que aqui é levado às últimas conseqüências em passagens que beiram o ridículo na reta final da história. Mesmo americanizado, o tom depressivo característico das obras orientais no estilo foi mantido, talvez até além da conta. Nas cenas que se passam durante o dia, por exemplo, parece que a realidade de Pulse está encoberta por uma penumbra pesada, quase intransponível. Os efeitos especiais e a estética das assombrações são praticamente os mesmos já vistos em O Chamado (Gore Verbinski, 2002) e O Grito (Takashi Shimizu, 2004), sem tirar nem pôr. Se alguns sustos conseguem render alguma coisa, infelizmente eles acabam sempre relembrando os dois filmes citados.

Como não assisti à obra original, não posso comparar as versões. Pelo menos na americana, a dependência crônica de uma juventude cada vez mais aleijada pelas tranqueiras eletrônicas que infestam o mundo moderno (telefone celular, pager, chat, e-mail, orkut, etc.) serve como uma incômoda representação para a alienação social que é uma realidade, muitas vezes inconsciente, para inúmeras pessoas integradas à era digital. Esta, por sua vez, é o principal motivo de porque o filme carece de um aspecto mais orgânico, tão essencial a um bom trabalho de horror. Pulse é um terror que não chega a ser um desastre, mas soa tão artificial e frio quanto uma pastilha de silício.

Visto no cinema em 15-JAN, Segunda-feira, sala 1 do Multiplex Pantanal - Texto postado por Kollision em 23-JAN-2007