Cinema

A Mulher Faz o Homem

A Mulher Faz o Homem
Título original: Mr. Smith Goes to Washington
Ano: 1939
País: Estados Unidos
Duração: 130 min.
Gênero: Drama
Diretor: Frank Capra (O Galante Mr. Deeds, Do Mundo Nada Se Leva, Dama por um Dia)
Trilha Sonora: Dimitri Tiomkin (Boa Sorte, A Última Fronteira, A Felicidade Não Se Compra)
Elenco: James Stewart, Jean Arthur, Claude Rains, Edward Arnold, Guy Kibbee, Thomas Mitchell, Eugene Pallette, Beulah Bondi, H.B. Warner, Harry Carey, Astrid Allwyn, Ruth Donnelly, Grant Mitchell, H.V. Kaltenborn
Distribuidora do DVD: Columbia
Avaliação: 9

Com certeza um dos melhores filmes políticos já feitos em Hollywood, este longa de Frank Capra chegou a provocar um visível desconforto tanto na alta cúpula dos EUA quanto no outro lado do mundo, onde países com um regime de governo não baseado na ameaçadora democracia proibiram seu lançamento. O filme tem uma performance memorável e inspirada de James Stewart, que foi alegadamente injustiçado na premiação do Oscar e, muito provavelmente por critérios de consolação, receberia a estatueta somente na cerimônia do ano seguinte por Núpcias de Escândalo, comédia romântica dirigida por George Cukor.

A morte de um dos senadores dos Estados Unidos provoca uma corrida inflamada pela indicação para seu substituto, que está a cargo do governador do estado de Montana (Guy Kibbee). Marionete do influente industrial Jim Taylor (Edward Arnold), assim como muitos dos senadores a serviço do país, o governador fica indeciso sobre quem colocar no cargo, mas acaba cedendo à sugestão de seus filhos e indica para a posição o chefe dos escoteiros e bom rapaz Jefferson Smith (James Stewart). A escolha é apoiada também por seus pares corruptos, incluindo o proeminente senador Joseph Paine (Claude Rains), que transforma o novo congressista em seu protegido. Já em Washington, Smith passa a enfrentar as falácias dos outros senadores e o poder destrutivo da mídia, mas encontra seu maior obstáculo quando decide levar adiante um projeto próprio, que vai contra um grande estratagema do poderoso Jim Taylor. E a única ajuda com a qual ele pode contar é a da dissimulada e traiçoeira secretária Clarissa Saunders (Jean Arthur).

Dá para compreender o sentimento de indignação da casta política de Washington durante o lançamento deste filme, que cutuca com a inocência típica de Frank Capra os meandros e os arranjos de um sistema sempre sujeito a homens como o Jim Taylor de Edward Arnold. Afinal, quantos poderosos como Taylor qualquer um já foi capaz de reconhecer dentro do universo político de seu município, de seu estado ou de seu país? O filme funciona não somente para uma época em que as coisas não eram tão avançadas nem a violência tão exacerbada, pois permanece tão atual quanto em 1939 e tem o mérito de inspirar a crença ideológica e prática numa democracia realista, apesar de todas as mazelas que os homens são capazes de infligir no processo.

A grande questão que fica no ar após o desfecho do filme é: seria a redenção de um dos personagens principais na trama realmente possível? É sabido que muito do material que entraria na seqüência final foi limado devido à já estendida duração da película, mas não acredito que tal material representaria diferença tão substancial assim. As sementes que justificam o final da história estão lá sim, basta prestar bastante atenção nos primeiros diálogos proferidos dentro da cúpula corrupta formada por Jim Taylor, pelo senador Joe Paine e pelos demais cupinchas do empresário. O que talvez tenha envelhecido só um pouquinho seja a violência e a repressão da mídia, que chegam a atingir até mesmo a massa de garotos que apóiam a causa do senador Smith, em passagens que atestam uma certa ingenuidade narrativa que deve sua concepção tanto à conhecida veia mundana/brega das histórias de Frank Capra quanto à censura da época.

De qualquer forma, como muitos hão de comprovar, este é o filme no qual James Stewart tenha talvez a melhor performance da primeira fase de sua carreira. Faz contraponto à sua trajetória de descobrimento a presença inicialmente cínica da bela Jean Arthur, que se converte ao longo da história no arquétipo da "mulher que faz o homem", presente no título brasileiro dado ao filme.

Além do filme, o DVD tem como extras uma faixa de comentários de Frank Capra Jr., um featurette de 10 minutos apresentado pelo mesmo, uma galeria de pôsteres do filme, trailer e também os trailers de Aconteceu Naquela Noite e Horizonte Perdido.

Texto postado por Kollision em 3/Maio/2006