Cinema

A Felicidade Não Se Compra

A Felicidade Não Se Compra
Título original: It's a Wonderful Life
Ano: 1946
País: Estados Unidos
Duração: 131 min.
Gênero: Drama
Diretor: Frank Capra (Aconteceu Naquela Noite, Nada Além de um Desejo, Órfãos da Tempestade)
Trilha Sonora: Dimitri Tiomkin (Duelo ao Sol, Noite Eterna, Matar ou Morrer)
Elenco: James Stewart, Donna Reed, Lionel Barrymore, Thomas Mitchell, Henry Travers, Beulah Bondi, Frank Faylen, Ward Bond, Gloria Grahame, H.B. Warner, Frank Albertson, Todd Karns, Samuel S. Hinds, Mary Treen, Virginia Patton, Charles Williams, Sarah Edwards, William Edmunds
Distribuidora do DVD: Versátil
Avaliação: 10

Ao longo de toda a história do cinema, várias histórias e parábolas sobre a mágica do Natal foram levadas às telas. Algumas esquecíveis, outras digníssimas de nota. Também a mitologia dos céus, envolvendo anjos e interferência divina em assuntos terrenos, teve sua parcela de representação cinematográfica. A Felicidade Não Se Compra é um daqueles raros filmes que une estes dois conceitos de forma praticamente inigualável em sua capacidade de envolver o espectador, emocionando como poucos filmes conseguiram e entregando um espetáculo único, arrebatador e inesquecível.

Logo de cara, o diretor Frank Capra apresenta-nos a várias cenas de pessoas rezando pelo bem de um homem, em pleno dia de Natal. Este homem é George Bailey (James Stewart), empresário de uma firma de empréstimos habitacionais da pequena cidadezinha de Bedford Falls. No céu, os espíritos atendem às preces e decidem enviar um anjo à Terra para ajudar o pobre homem, uma vez que ele encontra-se em extremas dificuldades e está prestes a cometer suicídio. O anjo, antes de tomar qualquer atitude, recapitula as principais passagens da vida de Bailey, desde sua infância até o presente. Quando finalmente encontra seu protegido, decide mostrar a ele como seria a vida em sua cidade se ele não tivesse nascido, o que o ajudará a encarar o mundo de uma forma completamente diferente.

Em linhas gerais, o parágrafo anterior é de certa forma cruel com o leitor, pois ele entrega a linha principal de toda a história. Porém, o que diferencia este filme dos demais em seu gênero, alçando-o ao status de clássico inesquecível, é o modo como as dificuldades e as alegrias do personagem de James Stewart são retratadas. Há inúmeras passagens memoráveis, como o momento em que George finalmente se rende a Mary, o amor de sua vida (Donna Reed). Ou, logo no início, quando Mary ainda criança declara seu amor e ele, que nem ao menos pode ouví-la! A genialidade do roteiro transparece em maior escala durante o início da história, e outra passagem inesquecível que demonstra isso é a atitude de um jovem George Bailey, assim que ele percebe que seu patrão farmacêutico acaba de passar por um grande golpe do destino. É nítido o modo como A Felicidade Não Se Compra encanta com momentos como estes, que se repetem de forma mágica e trágica até o final catártico, de um impacto dramático difícil de ser colocado em palavras. A direção de Frank Capra faz com que mesmo aqueles momentos que tendem para o sentimentalismo barato sejam perdoados, diante do belo drama e da ainda mais memorável mensagem.

James Stewart recebeu uma indicação ao Oscar de melhor ator pelo seu trabalho. Numa interpretação marcante, que abrange desde o jovem idealista e entusiasmado até o homem de meia-idade deprimente e amargurado, ele dá um show em cena. Stewart encarna aquele que é, para mim, um dos maiores heróis invisíveis já retratados no cinema, o homem comum que, através de seus atos e de sua vida aparentemente mundana, transforma o mundo ao seu redor e influencia de forma mágica as vidas de todos que o cercam. E o mais importante, sem nem se dar conta disso. Donna Reed é simplesmente linda, e o filme nem sequer se dá ao luxo de enfeiá-la após sua personagem dar à luz quatro filhos, enquanto Lionel Barrymore está sinistro como o maligno empresário que deseja dominar a cidade.

O DVD da Versátil apresenta como extras somente o trailer de cinema e biografias de Frank Capra, James Stewart e Lionel Barrymore.

Texto postado por Kollision em 3/Outubro/2004 - Revisto em 5/Maio/2006