Cinema

A Vida & Morte de Peter Sellers

A Vida & Morte de Peter Sellers
Título original: The Life and Death of Peter Sellers
Ano: 2004
País: Estados Unidos, Inglaterra
Duração: 127 min.
Gênero: Drama
Diretor: Stephen Hopkins (A Colheita do Mal, Raça)
Trilha Sonora: Richard Hartley
Elenco: Geoffrey Rush, Charlize Theron, Emily Watson, John Lithgow, Miriam Margolyes, Stanley Tucci, Sonia Aquino, Stephen Fry, James Bentley, Peter Vaughan, Henry Goodman, Nigel Havers, Heidi Klum, Eliza Darby
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 7

Num trabalho feito para a TV, co-produzido pela HBO e estrelado por elenco de peso, este filme teve os méritos de ganhar muitos prêmios em competições do meio, dando sobrevida à carreira chafurdante do diretor Stephen Hopkins, que já chegou até a comandar filmes das séries A Hora do Pesadelo e Predador. Trata-se de um drama biográfico sobre ninguém menos que Peter Sellers, um dos maiores comediantes de todos os tempos e, a julgar pelo que é mostrado no filme, também um dos mais controversos em sua vida pessoal. A maior dissonância que o filme pode provocar na platéia vem mesmo deste lado da vida de Sellers, um sujeito reconhecidamente difícil no meio em que atuava, mas cuja personalidade íntima só foi divulgada ao grande público por meio da biografia escrita por Roger Lewis e lançada em 1997, na qual este filme se baseia.

O roteiro pega Sellers em seu período pré-cinema, quando ele atuava junto a outros comediantes num tal de The Goon Show, um programa de rádio de relativo sucesso na Inglaterra. Os melhores momentos de sua genial habilidade em incorporar outras personalidades aparecem em sua trajetória rumo ao estrelato inicial, primeiramente ao lado da esposa Anne (Emily Watson) e da mãe Peg (Miriam Margolyes). Sua fascinação por Sophia Loren (Sonia Aquino) marca a desestruturação de sua família. Mesmerizado pelo show business e extremamente mulherengo, ele alterna sucessos comerciais com rompantes de desestruturação pessoal, enquanto coloca seu gênio à disposição de diretores como Stanley Kubrick (Stanley Tucci) e Blake Edwards (John Lithgow), e se entrega a um segundo casamento com a atriz sueca Britt Ekland (Charlize Theron). A história se alonga até a morte do ator, que tinha temperamento difícil e volátil mesmo quando estava junto daqueles com quem conviveu com mais proximidade.

É preciso reconhecer que o filme não dá trégua às memórias geralmente alegres presentes nas mentes de todos que acompanharam a carreira e os papéis memoráveis de seu protagonista, sendo perfeitamente capaz de arranhar com propriedade sua imagem junto ao público. O filme não faz muito esforço para manter uma fidelidade mínima aos principais eventos de sua carreira (o trabalho que recolocou a carreira de Sellers de volta nos trilhos, por exemplo, não foi A Nova Transa da Pantera Cor-de-rosa, e sim O Retorno da Pantera Cor-de-rosa), logo não pode ser considerado confiável como retratação de sua vida. O roteiro valoriza determinadas passagens, passa por cima de outras que em minha opinião seriam importantes e imprime uma veia poética em momentos que sabidamente não ocorreram de tal forma na vida real.

Sob o ponto de vista da reação do público, biografias são mesmo os tipos mais difíceis de filme para se fazer. Em se tratando de alguém como Sellers, então, tal tarefa torna-se virtualmente impossível.

Independente do modo como o filme é conduzido, da maquiagem que nem sempre é convincente, ou das decisões que o roteiro toma, vale a pena ver Geoffrey Rush incorporar Sellers nas várias fases de sua carreira. Especialmente em seu trecho intermediário, nos momentos em que se submete à batuta de Stanley Kubrick, com quem ele pareceu manter uma relação bem mais respeitosa do que com Blake Edwards. Outro destaque é a Britt Ekland de Charlize Theron, um verdadeiro deleite para olhos masculinos, sem dúvida alguma. Obviamente, o aproveitamento do filme será maior para aqueles que já assistiram aos longas retratados na história, que usa o recurso de colocar Rush/Sellers na pele das principais pessoas de sua vida para atribuir diferentes interpretações para sua conduta errática, na tentativa de suavizar as facetas mais negras de uma personalidade visivelmente fragmentada, que corresponde (no filme) a um infante no corpo de um adulto, e a um artista nato cuja volatilidade e perfeccionismo só não excediam o seu gênio.

O DVD vem com um making-of curto de 12 minutos, que traz inclusive depoimentos de Blake Edwards, e cerca de 20 minutos de cenas excluídas.

Texto postado por Kollision em 26/Junho/2006