Cinema

King Kong (1933)

King Kong (1933)
Título original: King Kong
Ano: 1933
País: Estados Unidos
Duração: 105 min.
Gênero: Ação/Aventura
Diretor: Merian C. Cooper, Ernest B. Shoedsack
Trilha Sonora: Max Steiner (Assim Amam as Mulheres, Cruzeiro dos Amores, E o Vento Levou)
Elenco: Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher, Sam Hardy, Noble Johnson, Steve Clemente, James Flavin
Distribuidora do DVD: Warner
Avaliação: 10

Grande pai dos filmes de monstro, o King Kong original foi uma realização quase natural dentro da vida de Merian C. Cooper e de seu parceiro Ernest Shoedsack, pioneiros que se aventuravam exatamente como a equipe de cinema que provoca toda a tragédia na história do símio gigante. O filme é um colosso que rompeu barreiras e definiu uma era de efeitos visuais cuja técnica perduraria por no mínimo mais 50 anos. Pode-se dizer também que foi a primeira grande aventura épica de apelo mundial, um trabalho que continua a inspirar cineastas dos quatro cantos do globo, e que recentemente recebeu uma homenagem de vulto na refilmagem dispendiosa conduzida por Peter Jackson em 2005.

Kong é um gorila gigante que habita uma ilha não mapeada e é ao mesmo tempo temido e adorado pelas tribos nativas que habitam o remoto local. Isso é o que vem a descobrir a equipe de filmagem liderada pelo visionário Carl Denham (Robert Armstrong), um diretor disposto a realizar o maior filme de todos os tempos na ilha inexplorada. O encontro de sua equipe com Kong se dá de forma trágica, assim que a estrela da produção Ann Darrow (Fay Wray) é capturada pelos nativos e dada como oferenda ao macacão. A esperança de Ann recai sobre os ombros do imediato do navio Jack Driscoll (Bruce Cabot), que se junta ao grupo de homens que se embrenham pela floresta numa perigosa jornada de morte. O oportunista Denham, por sua vez, não consegue deixar de vislumbrar a possibilidade de capturar Kong e levá-lo para a civilização.

Trazido para escrever um roteiro originalmente intitulado "The Beast", o renomado escritor Edgar Wallace estabeleceu as bases do que em breve se tornaria um dos marcos do cinema mundial, o que infelizmente ele não pôde presenciar devido à sua morte, em 1932. Trabalhando com um amálgama extremamente afortunado de talentos, que inclui ainda o criador e primeiro papa dos efeitos em stop-motion Willis O'Brien e o trabalho fenomenal do compositor Max Steiner, Cooper e Shoedsack não mediram esforços para levar sua idéia adiante, tanto reaproveitando o que estava disponível nos estúdios da RKO quanto criando técnicas completamente novas para os desafios então jamais enfrentados nos processos de filmagem e efeitos. O esforço pioneiro de dar vida ao gorilão de mais de 6 metros de altura garantiu o salvamento da produtora RKO da falência e pavimentou o caminho definitivo para o cinema fantástico da era sonora.

Além da excelência nos departamentos técnicos, há ainda em King Kong um fator que conspira para a longevidade do filme como obra de entretenimento: o ritmo perfeito das grandes aventuras, ditado por personagens heróicos e cativantes e uma dose generosa de seqüências devastadoras estreladas pelo próprio Kong. Assim como Kong, os animais pré-históricos que compartilham seu universo são retratados em toda sua glória. Particularmente assustadoras são as cenas em que um brontossauro devora vários membros da expedição de Carl Denham (muito embora seja sabido que os brontossauros eram animais comprovadamente herbívoros), e os closes das várias vítimas se contorcendo entre os caninos furiosos do gorila gigante. Não chega a haver desmembramentos, mas o efeito é quase o mesmo. O choque é eficiente porque a antecipação para a revelação do monstro é muito bem construída, o que ajuda a ter uma idéia da reação das platéias de 1933 ao vislumbrarem o filme nas telas de cinema pela primeira vez.

Por falar em platéias, o que muita gente não esperava era a grande afeição que o próprio Kong, por definição um monstro inominável, receberia delas ao redor do mundo. As pessoas se sensibilizaram com a tragédia de sua aventura no mundo civilizado, enxergando uma abordagem não muito explícita do conceito da bela e da fera, a qual foi mais enfatizada nas refilmagens de 1976 (John Guillermin) e de 2005 (Peter Jackson).

O disco 1 do DVD duplo da Warner vem com uma faixa de comentários de Ray Harryhausen, Ken Ralston, Merian C. Cooper e Fay Wray, além do trailer do filme e de Sangue de Herói, O Céu Mandou Alguém e Rastros de Ódio. O anabolizado segundo disco traz um extenso making-of de mais de duas horas e meia sobre a realização do filme, com destaque para a recriação da cena do poço da aranha pela equipe técnica de Peter Jackson, censurada alguns anos após o lançamento do filme original e hoje considerada irremediavelmente perdida. Completam os extras um documentário de uma hora sobre a vida aventureira do diretor Merian C. Cooper e um trecho de 4 minutos de Creation, obra inacaba de Willis O'Brien, o homem por trás dos efeitos especiais de King Kong.

Texto postado por Kollision em 14/Março/2006