Aproveitando a idéia original de Merian C. Cooper e Edgar Wallace, o produtor Dino de Laurentiis, conhecido pela grandiloqüência de seus filmes, empreendeu a primeira refilmagem da célebre história do gorila gigante que vai parar em plena Nova York devido à paixão por uma donzela. Com roteiro creditado a um tal de Lorenzo Semple Jr., a nova versão da história era algo que realmente tinha a intenção de atualizar para os novos tempos a temática da expedição que encontra Kong, meio que acompanhando a evolução dos efeitos visuais no cinema. No entanto, nem sempre atualização é sinônimo de melhoria.
Graças à ganância do obstinado explorador de petróleo Fred Wilson (Charles Grodin), uma embarcação ruma em direção às águas menos navegadas do Oceano Índico à procura de uma ilha que se acredita desabitada, está envolta em névoa e é berço das maiores jazidas de ouro negro do planeta. Na tripulação está o professor de antropologia Jack Prescott (Jeff Bridges), que possui apenas interesses científicos na terra inexplorada, isso até que ele avista à deriva, em pleno oceano, a formosa figura da atriz Dwan (Jessica Lange), única sobrevivente do naufrágio de um iate. Assim que chegam à ilha, todos são surpreendidos por uma tribo local de aborígenes, que rapta a bela Dwan para dá-la como oferenda a seu deus, um símio gigante que se embrenha na floresta carregando a moça. Prescott parte no encalço do macacão, que não demora a se transformar no objeto de cobiça do explorador Wilson, tão logo ele descobre que seu precioso petróleo não passa de um sonho impossível.
O que este filme perde em escapismo em relação ao original, ganha proporcionalmente em pieguice romântica. Na esteira das inúmeras produções de monstro surgidas a partir da década de 50, há um quê de filme B que não existia no trabalho original de Merian C. Cooper, não obstante os esforços hercúleos da equipe de efeitos especiais em dar a maior autenticidade possível à criatura. E o principal culpado por tudo isso é o roteiro, que joga fora a absurda sensualidade da estonteante Jessica Lange por meio de uma protagonista boba, que recita o horóscopo do dia a cada cinco minutos e nem mesmo pôde contar com um simples sobrenome para sua personagem. Não fossem os vários momentos inadvertidamente cômicos da história, a tosquice de algumas passagens constrangedoras teria feito o filme ir pelo ralo completamente.
Com o passar dos anos, ficou mais do que evidente que este trabalho de John Guillermin adquiriu nuances nostálgicas, provavelmente o único motivo para que ele tenha uma parcela cativa de fãs dentro do grupo de apreciadores do cinema fantástico. A obra não tem o diferencial mágico dos efeitos em stop-motion do filme de 1933, nem a excelência digital da recriação mais recente de Peter Jackson, mas vale ao menos uma espiada por algumas decisões diferentes tomadas pelo roteiro (como o fato do clímax de passar à noite, no topo do World Trade Center, ao invés do icônico Empire State), e pela já mencionada presença radiante da srta. Lange, decididamente a mais apetitosa consorte do monstro em todos os filmes de Kong. O longa sai completamente dos trilhos quando o gorilão chega à civilização, passando por uma série de absurdos que o levam a um desfecho deveras sangrento, pelo menos para a época em que foi realizado.
Se depois dessa o espectador ainda tiver estômago para mais do mesmo, basta ficar sabendo que o diretor John Guillermin teve a audácia de aparecer com uma continuação, produzida em 1986 e estrelada por Linda Hamilton. Só vendo mesmo para acreditar...
Quanto a este King Kong, infelizmente não há um único extra acompanhando o filme em sua edição em DVD.
Texto postado por Kollision em 23/Maio/2006