Com o sucesso de filmes como Rocky e Karatê Kid, ambos dirigidos por John G. Avildsen e extremamente populares entre a platéia adolescente da década de 80, era somente uma questão de tempo até que seus subprodutos começassem a invadir as telas em profusão. Águia de Aço é um dos representantes mais famosos desta safra, que reaproveita o sentimento despertado pelas produções mencionadas numa trama impossível sobre um jovem que enfrenta um país inteiro sozinho para resgatar o pai. Surpreendente o bastante, a idéia pareceu funcionar na época, tanto que deu vazão a três seqüências lançadas nos anos seguintes.
Durante um treinamento de rotina sobre os mares do Oriente Médio, um coronel da força aérea americana (Tim Thomerson) é abatido e capturado pelo exército de um país governado por uma cúpula muçulmana malvada. O cerco se aperta e ele tem a pena de morte decretada para daqui a apenas alguns dias. Seu filho Doug (Jason Gedrick), indignado com a conivência e a passividade do exército americano, pega no pé do coronel da reserva 'Chappy' Sinclair (Louis Gossett Jr.) para que ele o ajude a resgatar o pai, num plano mirabolante concebido com a ajuda de seus amigos adolescentes, todos com ótimo passe dentro da vila militar onde eles passam a maior parte do tempo. Aspirante a piloto com coragem de sobra, Jason dá um jeito de se apossar de um caça F-16 e invadir o país inimigo, ao lado do experiente Chappy.
1986 foi também o ano em que Tom Cruise pavimentou seu caminho para o estrelato com Top Gun - Ases Indomáveis, de Tony Scott. Ao contrário do que se pode imaginar, Top Gun veio depois de Águia de Aço, tornando-se uma das maiores bilheterias daquele ano. A diferença entre os dois filmes é enorme, uma vez que Tony Scott é um diretor bem mais ciente que Sidney J. Furie quanto ao que significa cinema de verdade. De forma rasteira, dá para dizer que Águia de Aço é o primo infantil do seu concorrente mais famoso, uma versão boba onde adolescentes fedendo a leite brincam com aviões de combate enquanto adultos levam a coisa (somente um pouco) mais a sério em Top Gun.
Outra forma de se definir o pastiche seria compará-lo ao infinitamente mais sensível Karatê Kid: Doug é a contraparte de Daniel-san, e o negão Chappy faz a vez de senhor Miyagi. Simples assim. Infelizmente, o que sobrava de carisma em Ralph Macchio falta a Jason Gedrick, um ator terrivelmente ruim, inexpressivo e completamente perdido ao longo de praticamente todo o filme. Os motivos do porquê o longa envelheceu como poucos de sua época podem ser atribuídos à excessiva bobagem adolescente, ao enfoque alegre demais dado à preparação do plano de resgate suicida, aos efeitos de explosão dos aviões (perceptivelmente coletados no primeiro frame de tomadas completamente estáticas) e aos absurdos técnicos capturados pelas câmeras do diretor Furie. A edição dos combates aéreos carece de inspiração, e o claudicante nível de cérebro presente na história pode irritar. Soa até ironia o fato do papel de Chappy (repetido nas três continuações do filme) ser um pelos quais Louis Gossett Jr. é mais freqüentemente lembrado. Com uma ou outra passagem que realmente empolga e uma trilha sonora oitentista até o talo, o filme só é capaz mesmo de agradar completamente à meninada.
A única coisa que vem como extra no DVD, um disco de face dupla que traz versões fullscreen e widescreen do filme, são algumas biografias mínimas de seu elenco principal.
Texto postado por Kollision em 10/Julho/2006