O apreço e a admiração que o diretor John Carpenter tem pelo escritor Edgar Allan Poe estão diluídos ao longo de toda a sua filmografia, coalhada de incursões pelo terror e pelo fantástico em maior ou menor grau de sucesso. A Bruma Assassina entra nesta lista, mas é um filme bem mais explícito na homenagem a Poe, que ganha uma de suas estrofes abrilhantando a abertura do filme e também uma velada lembrança na caracterização de um dos personagens (o padre feito por Hal Holbrook), deliberadamente concebida para lembrar a silhueta do lendário escritor.
A pequena cidade costeira de Antonio Bay, na Califórnia, está prestes a completar 100 anos de vida. Os preparativos para uma grande festa têm início, e histórias de sua origem são contadas à beira da fogueira. A mais assustadora diz respeito a um grande navio que se chocou contra as rochas graças a um nevoeiro brilhante que surgira misteriosamente na região. Na noite anterior ao aniversário da cidade, misteriosos eventos acontecem em vários lugares, coincidindo com o aparecimento de uma espessa bruma na região costeira de Antonio Bay e com o estranho sumiço de uma pequena tripulação em alto-mar. O marujo Nick (Tom Atkins) parte para investigar o ocorrido ao lado da namorada (Jamie Lee Curtis), sempre seguindo os alertas da radialista Stevie Wayne (Adrienne Barbeau), cuja posição privilegiada num farol a permite enxergar a névoa antes de todos os outros habitantes da cidade.
De produção independente, A Bruma Assassina é um dos primeiros esforços de John Carpenter dentro do cinema de horror, gênero ao qual ele contribuíra dois anos antes com o hoje clássico Halloween - A Noite do Terror. Co-responsável pelo roteiro e assinando a trilha sonora, Carpenter conseguiu conceber uma história de fantasmas com um charme todo particular, que consegue se sobressair mesmo diante dos baixos valores de produção e da escolha equivocada de parte do elenco. A mitologia criada em torno dos fantasmas que aparecem dentro da tal bruma é eficiente, e até mesmo os efeitos especiais não decepcionam. Apesar do filme ter envelhecido um pouco, há pelo menos a criação de um mínimo de suspense à medida em que o clímax da história se aproxima.
A curiosidade maior em relação a este filme é que aqui duas gerações de atrizes que se consagraram em filmes macabros atuam na mesma produção. Elas estão representadas por Janet Leigh, que fez a famosa cena do chuveiro em Psicose (Alfred Hitchcock, 1960), e sua filha Jamie Lee Curtis, a heroína do já mencionado Halloween. O mais interessante na escalação do elenco é que as feições de Adrienne Barbeau lembram muito uma Janet Leigh um pouco mais jovem. As três praticamente nem contracenam juntas, e é fácil constatar que Jamie Lee Curtis foi incluída na história somente para fazer número e servir de muleta para uns sustos aqui e ali. O restante do elenco, infelizmente, é de dar medo de tanta inexpressividade. Tom Atkins parece um pedaço de pau de tão insípido, e sua performance como o principal herói masculino realmente tira muito do brilho que o filme poderia ter tido. Coisa de fã: atentem para o diretor John Carpenter logo no início do filme, num papel não-creditado como o ajudante do padre Malone.
O DVD do filme não tem nenhum extra, e sofre do mesmo mal de outras obras de John Carpenter lançadas pela Universal: a legendagem, que neste caso vem com vários erros grosseiros de tradução.
Texto postado por Kollision em 23/Maio/2006